José Ricardo Ferreira Bezerra
Antes de continuar a leitura desta página sugiro que pare e faça uma breve oração pedindo o auxílio Espírito Santo: “Ó vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo Senhor nosso. Amém”.
Como você deve saber, a Igreja recomenda a leitura e meditação das Sagradas Escrituras através do método da Lectio Divina que consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação.
Vamos então tomar neste mês, o relato da vocação de Mateus. Leia quatro vezes Mt 9,9 e as passagens paralelas de Lc 5,27-28 e Mc 2,13-14. Agora se ponha no lugar de Mateus ou Levi e leia novamente.
São tão poucos os versículos que podemos pensar que não haja muito em que meditar e rezar neste trecho. Vejamos.
A palavra forte nestas passagens é: “Segue-me”. Como não deve ter sido forte e cativante o olhar e o chamado de Jesus para ele. Aquele momento marcante registrado de maneira singular teve conseqüências eternas. Nem ele próprio, nem Marcos e nem Lucas se alongam na descrição desse chamado. Um coletor de impostos está sentado, num dia como os demais. Jesus passa e o chama. Ele levanta-se e vai com Jesus. Tudo tão rápido e simples. Mas, não foi por acaso que Jesus o chamou. Não foi acidental aquele encontro. O Senhor orou antes de chamar cada apóstolo (cf. Lc 5,12-16). Assim como aconteceu com Natanael (Bartolomeu) Ele nos vê, em nossas atividades corriqueiras, ou mesmo sentado debaixo da figueira (cf. Jo 1,48).
Você não se admirou da prontidão com que Mateus respondeu ao chamado de Jesus? Não é impressionante a maneira como ele deixa imediatamente sua banca de cobrador e passa a seguir o Mestre? A Palavra de Deus comprova que ele foi um dos doze, tendo acompanhado Jesus dali em diante. Ouviu as pregações e maravilhosos ensinamentos. Esteve presente nos extraordinários milagres e curas. Recebeu o pão e bebeu do cálice na última ceia. Abandonou e fugiu na hora da paixão. Alegrou-se e acreditou na ressurreição do Senhor. Viu o Senhor elevar-se ao céu. Recebeu o Espírito Santo em Pentecoste. Pregou e batizou inúmeras pessoas. Inspirado pelo Espírito escreveu um dos evangelhos. Deu toda a sua vida em favor do Reino. Tudo isso porque respondeu imediatamente ao chamado de Jesus.
Que vida teria levado se tivesse dito ou pensado: ‘Agora não, Senhor. Agora tenho um trabalho, deixa eu me aposentar’. Ou: ‘Será que vou ter segurança neste tipo de vida?’ Onde ele mora? O que ele come? Sei lá, as autoridades religiosas não vão muito com o jeito desse profeta’. ‘Será que vou ser feliz?’ ‘E vou ter que responder logo, assim de repente, sem nem um tempinho pra pensar melhor?’
As decisões que tomamos têm o poder de alterar profundamente o rumo dos acontecimentos. Às vezes em um minuto podemos morrer ou ganhar a nossa vida. Mateus decidiu-se por Jesus. E não deve ter se arrependido. Mesmo nas dificuldades e perseguições que passou por causa de Jesus, o amor que o movia era mais forte que tudo. A grande diferença é justamente o amor. Lembro aquela história do milionário que encontra uma freira atendendo os leprosos e diz: “Eu não faria isso por dinheiro nenhum do mundo”. E ela responde: “Nem eu”. Realmente, se não for pelo amor nada vale a pena. Tudo passará exceto o amor. De nada adianta todo o conhecimento e doação sem amor, como disse São Paulo no belo hino ao amor (cf. 1Cor 13). Mateus foi cativado pelo amor e transbordou o amor em sua vida entregue a Deus.
Após estas e outras meditações que o Senhor o tenha levado a fazer, vamos orar. Podemos abrir os lábios e elevar nossas preces em louvor e gratidão a Deus por tantos benefícios que recebemos. Em primeiro lugar pelo dom da vida. Deus nos chamou e nos sustenta até o dia de hoje por graça e misericórdia. ‘Obrigado Senhor! Obrigado por existir e ter direito a vida com tantos favores teus, quando muitos morrem mesmo antes de nascer e tantos passam por privações das necessidades básicas. Obrigado pela generosidade dos meus pais e todos os sacrifícios que passaram na minha infância. Eu te louvo e te agradeço por ter nascido em uma família católica. Obrigado pelo Batismo no qual me tornei um filho teu, herdeiro das tuas promessas. Obrigado pelo meu estado de vida, por minha esposa (esposo) e filhos. Obrigado por me chamares a consagrar-me numa Comunidade para anunciar-te a toda criatura, (…)’. Seguindo as inspirações do Espírito, continue de forma livre e espontânea. Agradeça, louve, interceda, suplique por suas necessidades e as da humanidade que geme e sofre pela falta de Cristo.
Reze também pelas suas opções de vida. Estamos sempre escolhendo, a cada instante. Coloque-se diante do Senhor, sinceramente para pedir perdão pelas escolhas erradas e fraqueza nas suas respostas a Deus. Peça a graça de optar sempre por Ele e fortalecê-lo nas pequenas coisas que o levarão a ser fiel nas grandes.
Depois da oração a seqüência da Lectio é um momento de contemplação. Contemplar é amar. Gaste um tempo na presença daquele que é amor e nos ama profundamente. Numa vida tão agitada, orar e contemplar é um privilégio reservado para os fortes e decididos.
Sugerimos ainda anotar num caderno as graças e rhemas que o Senhor o (a) concedeu neste dia. O testemunho edifica.
Shalom!