Nem sempre fui da igreja e minha primeira experiência com a Igreja Católica foi ainda pequena, quando meu pai, que era muito devoto de Nossa Senhora da Conceição, fez a promessa de subir o morro todos os anos comigo quando levei uma bala perdida. Minha mãe não é católica e sempre teve uma vivência protestante, mas me motivava a fazer minhas orações.
Tive uma adolescência muito desregrada até participar de um grupo jovem em uma capela perto de minha casa. Esses foram meus primeiros passos na igreja. A partir dali, senti algo diferente, queria servir na igreja e segui servindo na limpeza, liturgia, canto, grupo jovem.
Seminário de Vida no Espírito Santo
Depois de um tempo, percebi que já não me preenchia mais estar ali e me questionava se não conseguia mais sentir a presença de Deus em minha vida. Foi, então, que em junho de 2017 fui convidada para fazer o Seminário de Vida no Espírito Santo no Shalom. Eu resisti, mas acabei indo.
Lá, fui recebida com uma alegria que me surpreendeu. Mas para mim era mais um encontro da Renovação Carismática Católica e que depois eu voltaria para minha vida normalmente. Mas aí foi que começou todo processo de conversão e purificação de Deus em mim.
Grupo de oração
Depois do seminário, deu início ao nosso grupo de oração, o FIAT. Eu participei algumas vezes, mas sem vontade. Estava sempre de cara fechada, não dava um sorriso. Eu não me sentia a vontade ali e quando ouvia as pessoas sabia que eu não vivia nada do que eles estavam falando e me sentia mal. Por isso, parei de ir.
Apesar disso, sempre que eu pensava no Shalom, em meu coração vinha muito forte a palavra “maturidade”. Aí eu percebi que as pessoas ali eram muito maduras espiritualmente, mas eu não quis viver aquilo.
E o interessante é que sempre que eu ia para o grupo, o pastor falava: “Se você está aqui e não tem vida de oração, você não vai entender nada e vai achar que é loucura” e realmente eu achava tudo muito louco.
Oportunidade
Depois de muitíssimo tempo sem ir ao grupo, uma pessoa entrou em contato comigo, se apresentou e disse que era a nova pastora. Ela queria saber o porquê eu não ia mais e com a criatividade divina ela me pediu que desse uma oportunidade a ela. Eu fiquei constrangida com esse pedido e me comprometi a voltar para o grupo.
Não ia regularmente, até que no final do ano de 2018 fui para o retiro de mudança de fase e lá eu tive uma experiência muito forte com o amor de Deus. Saí do retiro outra pessoa, querendo rezar mais e viver a tão falada vida de oração, mas eu não queria largar os muitos pecados e vícios de estimação.
Vocacional Shalom
No início de 2019 fiquei sabendo do vocacional aberto e fui motivada por minha pastora e alguns irmãos que iam. Quando cheguei lá me senti meio deslocada mas fiquei. Lembro que ficava engolindo o choro em várias situações.
Sai do vocacional sem saber ainda o que estava fazendo ali, mas aquele brado falava mais alto: “maturidade espiritual”. No dia em que a resposta do plantão saiu eu fui diante do Santíssimo e no meu coração foi gerando uma oração: “Senhor, me rouba de mim para que eu seja tudo em ti “. E ia pedindo que a vontade dEle fosse feita e ao receber a resposta que foi: “seja bem-vinda ao vocacional 2019 “.
Unidade na dor
Em um dia do meu grupo, ao chegar no Shalom, entrei na adoração pra falar com Jesus. Quando fechei os olhos, o Senhor falou comigo e disse: “eu estou contigo todos os dias, assim como eu cuido de você eu cuido de todos aqueles que você ama”. Eu comecei a chorar e lembrei do meu pai.
Uma semana depois ele foi para o hospital e eu não pude ir ficar com ele, pois no domingo eu teria o vocacional. Na segunda, fui no hospital vê-lo e soube que ele estava com câncer no pâncreas. Fui entregando ao Senhor e pedindo a Nossa Senhora a sua intercessão.
Neste tempo, tive a oportunidade de cuidar do meu pai e ver a sua fé em Deus e em Nossa Senhora. Deus me deu a graça de estar com ele nesse momento e compartilhar de nossas vidas, o vi com vida antes de entrar na sala de cirurgia e vi o seu último dia depois de ter tido duas paradas cardíacas.
Um desses dias, meu coração pedia para ir ao seu encontro e quando cheguei lá ele estava praticamente morto. Vi a fitinha de Nossa Senhora que eu havia colocado na cama e o Senhor me inspirou a cantar uma música entregando a Nossa Senhora sua alma. Quando sai da UTI sabia que ele não iria continuar vivo e assim foi, na tarde daquele dia ele faleceu.
No dia do sepultamento, estava lá a Comunidade representada pelos meus pastores e mais dois irmãos. Na hora em que o desespero quis me alcançar, estava lá o Senhor novamente a me dar Sua paz através da Comunidade, a Paz que não é a ausência de guerra, mas que brota da fonte, que é o coração de Deus.
Recomeço
Foi um ano de muitas idas e vindas, mal vivido em tudo aquilo que era chamada. Fiquei um tempo afastada de tudo e Depois que voltei o Senhor me dizia pra crer nas promessas dEle em minha vida. Em uma dessas orações, Ele me deu a passagem de Isaias 43 e tudo aquilo que eu fui lendo respondia a todos meus questionamentos.
Então, o recomeço partiu não mais do que eu achava que era e sim do que Deus disse, que foi Ele que me elegeu e me chamou pelo nome e mesmo sem ter vivido bem o ano vocacional de 2019, permanecer nele me salvou. Mesmo sem eu entender muitas coisas eu ia, mesmo em meio as minhas dores.
Esse ano vivendo a vocação de forma mais concreta, eu consigo perceber o quanto eu sou feliz por todo processo que me trouxe até aqui. Poderia ter sido mais fácil, mas se fosse eu não teria caído do “cavalo”, das minhas vontades e convicções, o que me abriu para um novo caminho que não é só de e para a felicidade, mas que é de e para uma nova vida abundante que jorra do coração de Deus.