Fato interessante nas narrativas de São Marcos, acerca do chamado que Jesus faz a cada discípulo, é a forma como Ele o realiza: simplesmente chama, não oferece salário, ou privilégios, muito pelo contrário; tal chamado é exigente e necessita oferta total da vida e abandono de si. Outro fato que se pode observar é a obediência imediata e incondicional daqueles que foram chamados por Jesus: largavam tudo o que estavam fazendo e colocavam-se no caminho “(…) imediatamente, deixando as redes e a família, eles o seguiram” (cf. Mc 1,18-20).
E qual o motivo para tal desprendimento? Cada discípulo deve se alimentar dEle, o Cristo, que é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Cf. Jo 14,6). Por isto, os primeiros discípulos deixaram suas famílias, trabalhos e juntos, com Jesus, formaram uma nova família.
O chamado feito por Jesus é assim, um convite a segui-lo e deixar-se formar por Ele, tendo em vista uma missão, porque o convite é sempre em vista da missão, ou seja, no caso, ser “pescadores de homens a serviço do Reino de Deus”. (Cf. Mt 13, 47-48)
Nova mentalidade
Chamado ao desprendimento, o discípulo de Jesus é chamado a aceitar o novo e, estar disposto à mudanças, também de mentalidades sem nos alienar. Contudo, o discípulo não pode ficar apegado, nem deixar-se escravizar por práticas antigas, válidas no passado, mas que atualmente não mais respondem às necessidades do homem novo em Cristo. É fundamental estar aberto aos ensinamentos do Mestre e, atento aos seus sinais. Seguir o Mestre exige uma maneira de pensar e de agir diferente.
Chamados à comunhão de vida
No chamado que faz aos seus discípulos, Cristo lhes oferece a possibilidade de conhecê-lo mais intimamente, por meio de uma comunhão de vida. Chama para o seu seguimento, para compartilhar tudo e estar todo o tempo com Ele.
“Somos convocados a responder, antes de tudo, a nós mesmos: ‘quem é Jesus Cristo?’ (Mc 8,27-29). O que significa acolhê-lo, segui-lo e anunciá-lo?” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – DEGAE – 2011-2015, nº 4)
Assim, ao iniciar um caminho de discipulado, a pessoa começa um processo de instrução, que a faz compreender passo a passo a identidade de Jesus para assim viver a Sua vida. E este é o maior presente que o Cristo oferece aos seus discípulos: a comunhão pessoal com Ele. A comunhão que traz a vida plena.
E como acontece essa comunhão hoje? Através de atitudes orante, contemplativa, fraterna e servidora; testemunhando que “Jesus Cristo é a nossa razão de ser, origem do nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir”. (Cf. DGAE, nº 4)
Testemunhas da misericórdia
Marcos apresenta ainda em seu Evangelho a situação dos discípulos no primeiro momento do chamado: lentos para entender os ensinamentos de Jesus, fracos e incapazes de compreender a identidade do Mestre. Porém, e justamente por todas estas características, são os escolhidos.
O que isso significa? Que Jesus chama seus discípulos sem olhar somente para categorias humanas. Cristo chama aqueles que quer (Cf. Mc 3,13), e os chama como são, como estão e com o que têm. E esta escolha gratuita, que não é dada a partir de méritos, possibilita uma experiência com a misericórdia de Deus e os torna no mundo testemunhas desta misericórdia.
Chamado pessoalmente por Cristo, convidado a uma vida de comunhão íntima com Ele e tendo como referência o acolhimento misericordioso do Mestre, o discípulo de Jesus deve assumir um estilo de “vida marcado pela acolhida à Sua Palavra, pelo seguimento de Suas atitudes misericordiosas e de Sua vida de oração e de intimidade com o Pai Celeste”. (Hugo O. Martinez A., “O Discipulado no Evangelho de Marcos”)
Doação total de vida
Marcos apresenta o caminho do discipulado como exigente: “se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Cf. Mc 8, 34). O discipulado de Cristo exige doação total de si, a exemplo do Mestre, que deu a vida por todos os homens. Doação total de si significa doação da vida toda, de todo o coração, de toda a pessoa.
Não há, no seguimento de Jesus, lugar para o medo, para o egoísmo, para o individualismo. O discípulo deve enfrentar os seus medos, pois seu caminho é de cruz e ressurreição. “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á”. (Mc 8, 35)
Não há como ser discípulo de Cristo e ser escravo do medo. O medo paralisa e, por isso, conduz a morte eterna, pois impede a aproximação com Jesus, que é o verdadeiro doador da vida eterna. O discípulo, portanto, precisa ser um homem de fé, que não teme se aproximar do Mestre e seguir seus ensinamentos. É alguém que se aproxima de Jesus com mera curiosidade, mas com desejo de viver como Ele viveu, com confiança e amor, com desejo de experimentar a sua misericórdia e receber a salvação.
Formação Maio / 2013