Era o final de uma manhã do mês de maio, o mês de Maria, do ano de 2015, em um típico dia de outono em Santiago do Chile. Minha esposa, Carolina, e eu, caminhávamos pelos corredores do Hospital Clínico da Universidad de Chile, segurando um resultado nas mãos. Um dia antes, por recomendação de uma amiga, nos encontramos com a enfermeira da maternidade, que solicitou o exame de gravidez para a Carol. No mesmo dia, ela fez a coleta da amostra de sangue. Agora, carregávamos o resultado para entregá-lo à enfermeira.
Eu tinha um desejo fervoroso: que aquele resultado fosse positivo. Ansioso, abri o envelope e rapidamente interpretei os números. Definitivamente, o resultado não era negativo nem indeterminado; era positivo! Um sorriso de felicidade se estampou no meu rosto. Ao entregar o resultado à enfermeira, recebemos a confirmação que aguardávamos: ela estava grávida! Vibrei como se comemorasse um gol do meu time de futebol. Era real! Eu me tornei pai de uma criança. Sim, aquele “grãozinho de feijão” que observamos algumas semanas depois no ventre de minha esposa através do ultrassom não era um emaranhado de células. Era uma pessoa, era a nossa filha. Eu era pai.
Aprendendo a ser pai na vida missionária
Na minha comunidade, a paternidade e a maternidade são valores muito importantes. Lembro-me das formações e testemunhos que enfatizavam que, ao exercer o serviço de autoridade nas relações comunitárias, deveríamos ser, acima de tudo, pais e mães. Não apenas administradores, mas verdadeiros pais e mães. A vida comunitária é uma escola valiosa! Antes mesmo de minha filha ser concebida, alguns missionários me disseram: “Você foi como um pai para mim.”
Devo reconhecer que muitas vezes minha contribuição se resumia a estar ao lado dos meus irmãos, ouvindo, aconselhando, compartilhando dores e alegrias. Observando o crescimento, os passos em direção à maturidade e à adesão ao plano de Deus. Assim, oferecendo gratuitamente o que eu mesmo havia recebido gratuitamente, tornei-me pai. Tornei-me pai porque, antes disso, tive meu pai e minha mãe e também pais e mães espirituais na comunidade que me acompanharam e ensinaram .
No entanto, era a primeira vez que eu seria pai de uma criança, de uma criança que crescia no ventre da minha esposa. Com grande alegria, acompanhamos a evolução dela a cada semana, aguardando ansiosamente cada ultrassom para ver seu rostinho, suas mãozinhas, seus pezinhos. Na 18ª semana, a confirmação veio: era uma menina, a nossa Maria.
Eu cantava tantas canções enquanto acariciava a barriga da Carol. Particularmente, gostava de entoar uma canção do Missionário Shalom chamada “Meu Pai”. Sim, eu era pai de uma criança, mas ela tinha um Pai no céu que a criou, que moldou uma alma única e irrepetível, que verdadeiramente deu vida a ela. E desde cedo, desejava que ela conhecesse esse Pai. Lembro-me também da alegria de sentir os primeiros chutinhos e dizer: “Aqui é o papai, chuta aqui na minha mão de novo.”
Uma surpresa no caminho
Eu não sabia como ser pai de uma criança; não estava totalmente preparado para isso, mas ansiava pelo nascimento da minha Maria. Carolina e eu enfrentamos um desafio quando, em um ultrassom de rotina com o obstetra dela, Dr. Victor, foram detectados alguns cistos no ventre de nossa filha. Surgiram dúvidas: o que são esses cistos? São graves? Têm cura? Naquele dia, saímos do consultório com um sentimento triste. Até nossa rotina de celebrar tomando um sorvete naquele dia foi mais pesada, cheia de incertezas. Mas eu era pai e tinha a responsabilidade de guiar nossa família em direção ao Pai.
Rezamos e decidimos fazer uma promessa de ir ao Santuário Mariano de Maipú, consagrando nossa Maria e sua saúde à Nossa Senhora do Carmo. Cumprimos nossa promessa. No mês seguinte, fizemos um novo ultrassom. De forma providencial, quem nos atendeu não foi o obstetra de costume, mas um médico mais experiente chamado Dr. Amor. O Pai, que é Amor, nos enviou um sinal de Sua paternidade através do sobrenome desse médico! O Dr. Fernando Amor nos tranquilizou, explicando que os cistos eram normais e desapareceriam após o nascimento.
Junto com Maria e São José
Chegou a semana do Natal, e a gravidez chegou à semana 38. Era 23 de dezembro e as contrações começaram. As dores que Carolina sentia contrastavam fortemente com a minha reação: um sorriso em meu rosto enquanto eu dizia à minha esposa: “Nossa Maria vai nascer!” Fomos ao hospital de manhã, na esperança de que o momento tivesse chegado. Mas não era o caso; era um alarme falso. Nos disseram que Maria nasceria após o Natal. Porém, o processo de parto tem um elemento imprevisível, pelo menos para nós, homens. Para o Pai, Deus, tudo está sob controle. Há um tempo para cada coisa, e era a hora de outra filha de Deus vir ao mundo.
Após uma noite inteira de vigília e contrações, na manhã seguinte, às 6 horas, a enfermeira instruiu minha mulher com firmeza: “Faça força para que seu bebê nasça.” Ao lado de Carolina, naquele momento, apoiei suas costas e a ajudei a empurrar durante as contrações. “Aqui está sua Maria”, anunciou o Dr. Victor, colocando-a nos braços da mãe. Lembrei-me das palavras de Jesus: “Quando uma mulher está para dar à luz, ela sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, depois de nascida a criança, ela já não se lembra da aflição, esquecida por causa da alegria de ter vindo um homem ao mundo” (Jo 16, 21). Todas as dores, as noites em claro, as incertezas não eram nada diante da alegria de receber aquela filha do Pai que Ele nos confiou. Sim, eu era pai de uma criança e a segurava em meus braços.
Maria chorava alto, inconsolável. Na sala ao lado, os médicos continuavam os procedimentos pós-parto com minha esposa. A pediatra realizava os exames de praxe: mediu 51 cm de altura, avaliou a medida do crânio e realizou outros exames físicos. Maria continuava chorando alto. Eu tentava acalmá-la, sem compreender que o choro estava ajudando a expelir líquidos de sua garganta e pulmões. Queria apenas que ela se tranquilizasse.
Quando a colocaram na balança, com os choros ecoando pelo ambiente, enquanto a balança marcava 2,880 kg, comecei a cantar: “Meu Pai, abraça-me bem forte e me prende bem junto a Ti, não me deixes ir para longe de Ti, pois não posso viver sem o Teu amor.” Maria parou de chorar imediatamente e virou a cabeça em minha direção. Era a voz do pai, a voz do pai de uma recém-nascida, a mesma voz que havia cantado para ela enquanto estava no ventre. Era a voz do pai que cantava para o Pai: “Não sei viver sem o Teu amor.”
Maria nasceu em 24 de dezembro, na véspera do Natal do Senhor, a celebração litúrgica que toca profundamente meu coração. Lembro-me de passar rapidamente pela Igreja de Maria Auxiliadora enquanto entoavam cânticos natalinos. Eu tinha algumas coisas para levar para minha filha. No entanto, parei por um momento e agradeci, pois Deus mais uma vez presenteou o mundo com uma filha, um presente precioso concedido aos pais e à humanidade.
Nossa ceia de Natal aconteceu no hospital, comigo, minha esposa e nossa filha, envoltos no mistério glorioso do Natal. Afinal, como os pastores foram informados sobre a chegada da salvação? “Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Deus continua celebrando Sua liturgia criadora, e Ele nos deu a nossa Maria Emanuela.
Mais frutos do nosso amor
Após Maria, veio nosso Gabriel, que viveu 13 semanas no ventre da mãe e logo retornou para os braços do Pai, de onde intercede por nossa família. Depois vieram Ana Clara e Rafaela. Agora sou pai de quatro crianças. Uma delas está com o Pai. Minha tarefa agora é, junto com minha esposa, vivendo em comunidade, educar, transmitir a fé e acompanhar as três que estão à caminho da Casa do Pai.
Confesso que ainda estou aprendendo a ser pai; cometo erros e estou sempre recomeçando, pedindo perdão e buscando reconciliação. Elas têm um Pai, e é minha responsabilidade apresentá-Lo a elas não apenas por palavras, mas através do testemunho de um relacionamento que me torna melhor para Carolina, para elas, para minha comunidade, para a Igreja e para todos os homens que aguardam a manifestação dos filhos de Deus.
Sim, sou pai, é isso que Deus fez de mim, é o presente que Ele me concedeu e é o que Ele espera de mim. Sou profundamente grato por esse chamado e só posso concluir dizendo: “Meu Pai, abraça-me bem forte e me prende bem junto a Ti. Não me deixes ir para longe de Ti, pois não sei viver sem o Teu amor.”
Francis Farias, consagrado da Comunidade de Vida Shalom