Certa vez, conversava com uma pessoa muito piedosa e sincera, sobre alguns valores essenciais da vida humana. Num dado momento, fiz a seguinte afirmação: “Penso que uma boa forma de adquirir cultura, formar a inteligência e o valores, são boas leituras e viagens!” Disse isso citando um professor a quem muito admiro. Essa pessoa, a quem também amo e acho super santa, me respondeu num tom mais ou menos de discordância: “Bom, o importante é a vida de oração, a experiência com Deus, o conhecimento incha, pode se tornar uma fonte de orgulho…”; Eu, então, tentei explicar que, ao evidenciar o valor da cultura e do conhecimento, não estava negando ou relativizando o valor da vida de oração e da intimidade com Deus. Ela, então, insistiu: “O conhecimento e a sabedoria humana não salvam!”; Eu replicava: “Que o conhecimento não salva é verdade, mas a ignorância muito menos.”
Esse nosso debate sincero e amigável me fez refletir bastante e chegar a uma conclusão: Algumas pessoas confundem ignorância com humildade. Particularmente, tenho muito medo de uma espiritualidade que se constrói sobre o frágil pilar da ignorância. Como se quanto mais ignorante eu for, mais santo e mais simpático serei aos olhos de Deus.
Vamos ser honestos e dar o sentido que a coisa realmente tem! Ignorância é ignorância, humildade é humildade.
Por outro lado, me assusta uma certa “Gnose” moderna e que tenho visto surgir na experiência de alguns cristãos, como se Deus, a verdade e a santidade apenas se deixassem encontrar por uma pequena casta letrada, por uma classe “marombada” de tanta cultura e malhações intelectuais. Para estes personagens, Deus não passa de um
tema de debate e especulações filosóficas. Quando me deparo com esse tipo de discussões, gosto sempre de lembrar que “O diabo também é um grande intelectual”, pois conhece todas as ciências, inclusive é um dos maiores “teólogos” que existe. Isso esmo! É um anjo decaído, é verdade, mas ainda continua um anjo. Isso significa que ele sabe muito sobre Deus, os segredos da ciência e da sabedoria. A diferença é que mesmo com todo esse conhecimento que dispõe, inclusive sobre Deus, não se submeteu ao Criador e, por isso, encontrou a perdição eterna.
De que modo o conhecimento pode nos ajudar?
Vários santos se depararam com essa interrogação: Muita ciência ajuda ou atrapalha? E a ignorância voluntária, realmente é pressuposto para a santidade? Uma delas é a grande Teresa D’Ávila, para ela, os traços que marcam um bom mestre da vida espiritual são, nesta ordem: “Boa inteligência, experiência de Deus e santidade de vida.” Tendo os três, será perfeito! Todavia, “se não for possível achar estas três coisas juntas numa única pessoa, as duas primeiras importam mais.”; (Cf. HERRAIZ, Maximiliano. Discernimento espiritual… p. 36)
Como membro consagrado de minha Comunidade, já vivi e testemunhei essa experiência na minha vida e de outras pessoas. Percebi que ter um formador santo, mas de pouca ciência e sem o hábito da leitura foi bom, dei passos e cresci, todavia, quando tive formadores que, além de virtuosos e santos eram também inteligentes e amigos das boas leituras, não só caminhei, mas dei grandes saltos em vários setores e áreas da minha vida, tanto humana, como espiritual.
Enfim, termino essa matéria dizendo o seguinte: “Nem o culto do conhecimento, tampouco a idolatria da ignorância.”; Mas uma inteligência bem formada, orientada para a busca sincera da verdade, que é o próprio Deus. Ser sábio é ser santo, com cursos e títulos académicos ou não sabendo nem mesmo assinar nem mesmo o nome. Da
ignorância, porém, só tiramos mais ignorância e escravidões cada vez maiores.
Deus te abençoe sempre! Se esse texto ajudou em sua reflexão, me ajude a alcançar outros corações. Faça com que ele chegue em ovelhas de grupo de oração, células e vocacionados. Shalom!