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No hospital, minha missão é ser um disseminador de esperança

O mais forte e cheio de sentido em tudo isso, é estar em um ambiente onde o contágio pelo vírus é possível e que a morte é uma irmã muito próxima, e em meio a esse contexto permitir que a virtude teologal da esperança cresça e não se esmoreça em meu interior.

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Olá, me chamo João Neto, tenho 28 anos, sou discípulo de segundo ano da Comunidade de Aliança, minha missão de origem é a de Natal-RN, porém atualmente estou na missão de Garanhuns-PE. Sou fisioterapeuta e por vontade de Deus, faço residência em um hospital regional de Garanhuns, sendo esse o motivo pelo qual saí da casa dos meus pais para morar em outro estado.

Após duas semanas de chegada na cidade de Garanhuns, começou a crescer os casos de COVID-19 no Brasil e Pernambuco já estava entre os com maior percentual de casos confirmados pelo contágio com o vírus. Vi-me, junto aos meus colegas residentes que também acabavam de chegar, em uma situação de pânico, medo, aflição, recém chegados em uma nova cidade, longe da família, sendo linha de frente no combate a pandemia, passando por uma escassez dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) e isolamento social.

Vi muitos profissionais sentindo-se desamparados, em pico de ansiedade e medo, como também os primeiros casos suspeitos chegarem ao hospital, depois os casos confirmados, a primeira morte, os primeiros contágios dos profissionais.

Em meio a esse contexto, o tempo quaresmal ganhou um grande cenário para se viver de forma encarnada, o jejum, a penitência, a oração, suplicando a misericórdia de Deus sobre a humanidade, como disse o Papa Francisco na Urbi et Orbi: “… todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento”.

Certa vez uma colega residente comentou: “a morte é muito triste, é a pior coisa da vida, perder uma pessoa próxima, querida, que mais nunca vai ver”, e me questionou: “ você não tem medo da morte?” respondi que concordava em ser um evento muito triste, mas que a minha fé católica fazia-me ter a esperança de que aqui não era o fim, havia o céu, a vida eterna e isso me gerava esperança e consolo. Então, ela respondeu que gostaria de ter essa convicção que eu tinha mas achava muito difícil pensar assim, falei que isso era fruto de uma experiência com o Cristo Ressuscitado e que ela também poderia fazer.

É um dom do céu

Sabiamente diz o Papa Francisco na vigília pascal que a esperança adquirida no sábado de aleluia não é um mero otimismo, não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância. É um dom do céu que não podíamos obter por nós mesmos, é um direito que não nos pode ser tirado, pois Cristo nos deu em sua ressurreição, Ele sabe transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.

Em outra ocasião, escutei de um médico: “nunca vi ninguém partir de véspera, só se vai quando papai do céu chama”. No fundo ele quis dizer que o nosso Deus, Aquele que dá a vida, pode tirá-la quando bem entender e isso é inerente ao autor da vida e não da morte, afinal a morte é uma passagem para uma vida que não tem fim.

O mais forte e cheio de sentido em tudo isso, é estar em um ambiente onde o contágio pelo vírus é possível e que a morte é uma irmã muito próxima, e em meio a esse contexto permitir que a virtude teologal da esperança cresça e não se esmoreça em meu interior, vislumbrando o eterno e assim poder disseminá-la para os que estão ao meu redor, pondo-me a serviço do próximo, sejam os colegas profissionais ou os pacientes, como diz o papa Francisco: “ser um disseminador da esperança”.


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