Tínhamos dirigido centenas de vezes por aquela mesma avenida, mas nunca com tamanha ansiedade dentro de nós. Ele estava inquieto com uma ideia que eu tinha proposto; uma ideia que ele achava um pouco louca e um tanto irresponsável. Eu estava inquieta porque o rumo da nossa vida e a integridade do nosso iminente casamento seriam decididos naquela próxima hora. Não fazia muitas noites que, durante um jantar, eu tinha abordado mais uma vez aquele assunto: será que o planejamento familiar natural, em vez da contracepção artificial, não era a coisa certa para o nosso casamento? Eu sabia que sim. Ele não estava convencido.
Não foi fácil a conversa. Nem confortável. O assunto provocou certo medo durante um longo período de tempo, e, de vez em quando, mesmo após quatorze anos, ainda provoca. Não é que eu e o meu marido tivéssemos um relacionamento instável, mas, mesmo em nossa estabilidade e na grande unidade com que temos sido abençoados por Deus, o Planejamento Familiar Natural (PFN), adotado em vez dos métodos anticoncepcionais artificiais, sempre foi, em primeiro lugar, um assunto “delicado”. Eu era ingênua a ponto de pensar que todos os católicos entendiam que a contracepção não é compatível com o que Deus pensou para a nossa fertilidade, especialmente para aqueles que, a exemplo do meu marido, foram criados em lares cheios de fé e frequentaram escolas católicas. A minha situação era desconfortável, portanto. Não apenas porque ele questionava o PFN em nosso casamento, mas porque eu percebia que estava em uma ilha minúscula e que o mundo certamente não estava interessado em descobrir por que eu estava lá. O mundo tentava era me convencer de que a contracepção era a resposta para as minhas inquietações relacionadas com o planejamento da nossa família.
A medicina me dizia que os métodos naturais de controle da natalidade se aplicavam a gerações passadas, mas não ao nosso mundo avançado. A sociedade me dizia que, se eu aproveitasse este grande avanço na “liberdade reprodutiva”, com certeza ficaria mais feliz.
O movimento pelos direitos das mulheres me dizia que eu precisava lutar pela igualdade dos sexos e que a contracepção me libertaria do fardo dos filhos, deixando-me subir as escadas do sucesso profissional. Se eu quisesse a liberdade e a igualdade, o movimento parecia me dizer que a contracepção era obrigatória. E que, com ela, eu ficaria mais feliz.
Os peritos financeiros me diziam que as crianças são muito caras. Com o custo da educação subindo todo ano, uma boa e completa formação custaria uma fortuna. Mais uma vez, o conselho parecia bem claro: adote a contracepção e seja fiscalmente responsável e livre. E, com isso, você ficará mais feliz.
A mídia laica, que glamouriza o sexo, me dizia que viver é buscar o prazer. Se eu usasse os meios de contracepção, poderia ter a liberdade do prazer sexual no momento em que quisesse. E assim eu certamente ficaria mais feliz.
Meus amigos me diziam que a modernidade inclui de modo “natural” a contracepção. Se eu aceitasse os fatos, com certeza ficaria mais livre. E mais feliz.
Sinceramente, eu tentei me convencer de que alguma dessas motivações era válida para aceitar a contracepção na minha vida. Seria muito mais fácil, sem dúvida. Para começar, eu não continuaria mais nesse debate com o Jimmy. Assim como a maioria das pessoas que eu conhecia, bastaria consultar o médico já no dia seguinte, pedir a pílula e pronto: teríamos uma coisa a menos com a qual nos preocupar. Nós não queríamos, além disso, ter o nosso primeiro filho antes que o meu marido terminasse a pós-graduação e antes de termos uma situação financeira estável. Eu pensei: “Bom, estou vivendo uma vida católica bem sólida… Com certeza, Deus não daria tanta bola assim para a minha desconsideração deste pequeno aspecto da doutrina, até porque todo mundo faz a mesma coisa hoje em dia…”.
Para tornar as coisas ainda mais confusas na minha cabeça, a nossa igreja local não nos dava orientações claras sobre o PFN. Mas Deus é fiel. Se, desde o início do século XX, boa parte dos protestantes deixaram de lado o que muitos viam como um ensinamento antiquado, a Igreja católica, mesmo pressionada por laicistas e até mesmo por uma boa parcela dos próprios católicos, permanecia firme no seu ensinamento.
Eu mesma estive a ponto de me convencer de que a contracepção era uma boa ideia, pelo menos até que nos considerássemos prontos para ter o primeiro filho, mas aquela “vozinha interior” não me deixava tranquila. Ela ecoava as palavras de Provérbios 3,5: “Confia no Senhor de todo o coração e não te apoies no teu próprio entendimento”. Eu não entendia direito. Mas Deus, através da sabedoria da sua Igreja, me dizia que a contracepção não era o caminho certo para “ficar mais feliz”.
“Prove”, disse Jim. “Provar o quê?”, perguntei. “Prove para mim que este método vai funcionar”. Meu marido racional queria argumentos científicos. Não era o que eu tinha em mente, mas reuni as informações que pude e o convenci a participar de uma palestra de apresentação do PFN. Naquele dia crucial, enquanto íamos para essa palestra sobre o Modelo Creighton de Planejamento Familiar Natural, eu fiz uma oração silenciosa no carro e apertei com carinho o braço dele, agradecida, para incentivá-lo.
Apesar do mal-estar geral daquele dia, eu estava muito grata a ele pela boa vontade de ir até lá comigo. O Modelo Creighton de PFN, desenvolvido pelo Dr. Hilgers, do Instituto Papa Paulo VI para o Estudo da Reprodução Humana e do Centro Nacional de Saúde da Mulher, é considerado 99% eficaz em evitar a gravidez. Esse percentual é mais alto que o da maioria dos anticoncepcionais, incluindo os preservativos e a pílula. Jimmy não estava 100% convencido de que o método funcionava, mas, depois de muita deliberação e apesar da grande hesitação, ele concordou, com amor inabalável: ele iria tentar por causa da importância que aquilo tinha para mim.
Passaram-se seis anos. Nós conseguimos usar com sucesso o modelo Creighton para prevenir a gravidez até nos considerarmos prontos para iniciar a nossa família. Mas, um ano depois, eu ainda não tinha engravidado. Questionei então a Deus: por que Ele não estava cooperando com o meu grande plano? Afinal, eu não estava fazendo o meu melhor para seguir as regras dele? Egoísta e orgulhosa, agora era eu quem estava em dúvida. Foi um ano difícil para mim, emocional e espiritualmente, porque eu não estava confiando no tempo de Deus, mas tentando tomar o controle daquilo que não estava sob o meu controle.
Oito anos e seis filhos depois, eu me sinto abençoada muito além dos meus sonhos. Os nossos cinco meninos carinhosos e ativos e a nossa filha amorosa e encantadora dão a mim e ao meu marido uma alegria indescritível, desafios contínuos, e, com a sua mera existência, nos impelem a olhar para além de nós mesmos, em busca do mundo eterno que nos espera. As lições aprendidas e as graças recebidas ao longo deste caminho nos mostraram que os desafios não devem ser temidos, mas abraçados.
Recentemente, eu assisti a uma palestra do pe. Robert Barron sobre o porquê de Deus ter nos criado. Em essência, cada um de nós está aqui porque Ele nos amou a ponto de nos fazer ser. Embora eu já tivesse ouvido e lido isso de muitas formas nas escrituras e em homilias ao longo dos anos, aquele momento em particular me tocou com uma nova luz. Eu estou aqui porque Deus me amou a ponto de me fazer ser! Os meus filhos estão aqui porque Deus os amou a ponto de os fazer ser! Esta é a única razão. Não é para satisfazer imagens terrenas ou para atingir certos padrões de sucesso. E se a única razão pela qual estou aqui é porque Ele me amou a ponto de me fazer ser, então eu devo tudo a Ele. Devo-lhe a minha vida! E “quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a própria vida por amor de mim a encontrará” (Lucas 9,24).
O Planejamento Familiar Natural me ajuda a crescer em virtude todos os dias. Ao contrário do que o mundo me diz, a prática do PFN me abre as portas para uma verdadeira felicidade. É um lembrete de que eu posso usar os dons que Deus me deu para tomar boas decisões com o meu livre arbítrio, e de que é Deus, em última análise, o único que está mesmo no controle. O plano de Deus é muito melhor do que o meu. Já ouvi dizer que a obediência é possível sem amor, mas o verdadeiro e fiel amor não pode existir sem obediência. Só Deus sabe se a nossa família vai continuar crescendo em tamanho, mas eu acredito que, por sermos obedientes, ela vai sempre crescer em amor. Deus nos derramou tremendas bênçãos; agora nós temos que usá-las para que o seu Bem traga mais gente para o Reino, traga mais alegria como fruto da entrega diária das nossas vidas a Ele e à sua vontade e traga mais significado e transcendência para todos nós, em meio às nossas lutas.
Fonte: Aleteia
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