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A sexualidade

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A revolução sexual prometia a todos a felicidade através do prazer, um objectivo que parecia facilmente atingível, sem custo, com a condição de transgredir as regras morais, em primeiro lugar as da Igreja católica. A Igreja, de facto, naquele período sofreu ataques pesados porque era considerada inimiga da felicidade humana enquanto inimiga do sexo. Hoje passaram quase cinquenta anos desde a difusão desta utopia, certamente uma das causas da secularização nos países ocidentais, e há muitas sombras sobre os seus resultados.

 A revolução sexual deixou muitos feridos no campo, sobretudo jovens pouco protegidos pelo seu grupo social, mulheres que não conseguem realizar o seu sonho de maternidade, e mais em geral uma sociedade de singles que devem enfrentar, todos os dias, a própria solidão. A separação entre sexualidade e procriação, em vez de abrir parênteses de liberdade, sobretudo às mulheres, revelou-se um obstáculo para a maternidade, desejada tarde demais, quando se torna difícil ou até impossível conceber, mesmo com a procriação assistida. Em muitos países, chega a ser uma ocasião para o Estado de entrar de modo pesado na vida dos seres humanos decidindo no lugar de cada indivíduo se e quando ter filhos, em função de exigências económicas ou políticas. Mas é uma derrota sobre a qual não se quer reflectir, ainda que os feridos sejam tantos, e a sociedade na sua totalidade sinta os efeitos da dramática diminuição dos nascimentos e da crise da família, efeitos provocados, na sua maioria, pela liberdade sexual obtida.

Este número, em parte, é uma recolha de casos críticos, de consequências dramáticas sobre as quais de boa vontade se fecham os olhos, mas também quer desmentir aquela opinião comum que atribui à tradição cristã um beato horror do sexo: é suficiente ler o Cântico dos Cânticos para o ver. A Encarnação, de facto, inaugurou um modo novo de dar sentido ao acto sexual, que se torna parte e instrumento do caminho espiritual de cada cristão, tanto na vida ascética, como na matrimonial. Neste percurso entrelaçam-se naturalmente a carne e o espírito, sentimentos e eros como explicou muito bem Bento XVI na sua primeira encíclica, Deus caritas est: ele de facto afirma que o cristianismo «não rejeitou de modo algum o eros enquanto tal, mas declarou guerra à sua subversão devastadora, porque a falsa divinização do eros, como aí se verifica, priva-o da sua dignidade, desumaniza-o». Porque «Dois dados resultam claramente desta rápida visão sobre a concepção do eros na história e na actualidade. O primeiro é que entre o amor e o Divino existe uma certa relação: o amor promete infinito, eternidade — uma realidade maior e totalmente diferente do dia-a-dia da nossa existência. E o segundo é que o caminho para tal meta não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. São necessárias purificações e amadurecimentos, que passam também pelo caminho da renúncia. Isto não é rejeição do eros, não é o seu “envenenamento”, mas a cura em vista da sua verdadeira grandeza.

 

Fonte: L`osservatore Romano


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