A sexualidade é uma componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Portanto ela é parte integrante do desenvolvimento da personalidade e do seu processo educativo : « Do sexo, de fato, derivam na pessoa humana as características que, no plano biológico e espiritual, a tornam homem ou mulher, condicionando assim e normalmente o caminho do seu desenvolvimento em ordem à maturidade e à sua inserção na sociedade ».
A sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no psicológico e espiritual marcando toda a sua expressão. Esta diversidade que tem como fim a complementaridade dos dois sexos, permite responder plenamente ao desígnio de Deus conforme a vocação à qual cada um é chamado.
A genitalidade orientada para a procriação é a expressão máxima, no plano físico, da comunhão de amor dos cônjuges. Fora deste contexto de dom recíproco – realidade que o cristão vive sustentado e enriquecido de maneira particular pela graça de Deus – ela perde o seu sentido, dá lugar ao egoísmo e é uma desordem moral.
A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor que é o único a torná-la verdadeiramente humana. Preparada pelo desenvolvimento biológico e psíquico, cresce harmonicamente e realiza-se em sentido pleno somente com a conquista da maturidade afetiva, que se manifesta no amor desinteressado e no total dom de si.
Podem-se observar atualmente, mesmo entre os cristãos, notáveis divergências quanto à educação sexual. No clima atual de desorientação moral constituem um perigo, seja o conformismo nocivo, sejam os preconceitos que tendem a falsificar a íntima natureza do ser humano, que saiu íntegra das mãos do Criador.
Para reagir a esta situação, é desejada por muitos uma oportuna educação sexual. Se, porém, a convicção da sua necessidade no âmbito teórico é muito difundida, na prática permanecem incertezas e divergências notáveis seja quanto às pessoas e instituições que deveriam assumir a responsabilidade educacional como também em relação ao conteúdo e à metodologia.
Os educadores e os próprios pais frequentemente reconhecem não terem a preparação suficiente para realizar uma adequada educação sexual. A escola, nem sempre está à altura de oferecer uma visão integral do assunto. Uma educação sexual completa não pode ficar só na informação científica.
As dificuldades para uma educação sexual são maiores nos países onde a urgência do problema ainda não se fez sentir e se pensa que ele se resolve por si sem necessidade de uma educação específica.
Em geral é preciso reconhecer que se trata de uma tarefa difícil pela complexidade dos diferentes elementos (fisiológicos, psicológicos, pedagógicos, sócio-culturais, jurídicos, morais e religiosos) que intervêm na ação educativa..
Alguns organismos católicos em diferentes lugares, – com a aprovação e o estímulo do Episcopado local – começaram a desenvolver uma positiva atividade de educação sexual; esta tem por finalidade não somente ajudar as crianças e os adolescentes no caminho rumo à maturidade psicológica e espiritual, como também, e sobretudo, precavê-los contra os perigos da ignorância e degradação do ambiente.
É também louvável o esforço de todos aqueles que, com seriedade científica, se dedicaram a estudar o problema, a partir das ciências humanas e integrando os resultados de tais pesquisas numa proposta de solução conforme as exigências da dignidade humana como emerge no Evangelho.
Na visão cristã do homem, reconhece-se ao corpo uma particular função, porque contribui a revelar o sentido da vida e da vocação humana. A corporeidade é, de facto, o modo específico de existir e de operar próprio do espírito humano. Este significado é, antes de mais, de natureza antropológica: o corpo revela o homem, «exprime a pessoa» e é por isso a primeira mensagem de Deus ao próprio homem, quase uma espécie de «primordial sacramento, entendido como sinal que transmite eficazmente no mundo visível o mistério invisível escondido em Deus desde a eternidade»
Há um segundo significado de natureza teologal: o corpo contribui a revelar Deus e o seu amor criador, enquanto manifesta a “criaturalidade” do homem, a sua dependência de um dom fundamental, que é o dom de amor. «Isto é o corpo: testemunha da criação como de um dom fundamental, portanto testemunha do amor como fonte donde nasceu este mesmo doar »
O corpo enquanto sexuado, exprime a vocação do homem à reciprocidade, isto é, ao amor e ao mútuo dom de si. O corpo, enfim, reclama o homem e a mulher à sua constitutiva vocação à fecundidade, como um dos significados fundamentais do seu ser sexuado.
A distinção sexual, que aparece como uma determinação do ser humano, é diversidade, mas na igualdade da natureza e da dignidade.
A pessoa humana, pela sua natureza íntima, exige uma relação de alteridade que implica uma reciprocidade de amor.Os sexos são complementares: semelhantes e dissemelhantes ao mesmo tempo; não idênticos mas sim iguais quanto à dignidade da pessoa; semelhantes para se compreenderem, diferentes para se completarem.
O homem e a mulher constituem dois modos segundo os quais a criatura humana realiza uma determinada participação do Ser divino : foram criados à «imagem e semelhança de Deus» e realizam completamente tal vocação não só como pessoas singulares, mas também como casal, qual comunidade de amor. Orientados para a união e a fecundidade, o homem e a mulher casados participam do amor criador de Deus, vivendo a comunhão com Ele através do outro.
A presença do pecado obscurece a inocência original, torna menos fácil ao homem a percepção destas mensagens : a sua decifração tornou-se assim uma tarefa ética, objecto duma difícil obrigação, confiada ao homem : «O homem e a mulher depois do pecado original perderam a graça da inocência original. A descoberta do significado esponsal do corpo deixará de ser para eles uma simples realidade da revelação e da graça. Todavia tal significado permanecerá como obrigação dada ao homem pelo ethos do dom, inscrito no profundo do coração humano, como longínquo eco da inocência original ».
Frente a esta capacidade do corpo de ser ao mesmo tempo sinal e instrumento de uma vocação ética, pode-se descobrir uma analogia entre o mesmo corpo e a economia sacramental, que é a via concreta através da qual a graça e a salvação chegam ao homem.
A inclinação do homem « histórico » a reduzir a sexualidade unicamente à experiência genital, explica a existência de reacções tendentes a desvalorizar o sexo, como se por sua natureza fosse indigno do homem. As presentes orientações entendem opor-se a tal desvalorização.
«Somente no Mistério do Verbo Encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem » e a existência humana adquire o seu pleno significado na vocação á vida divina. Só seguindo Cristo, o homem responde a esta vocação e se torna plenamente homem, crescendo até atingir « o homem perfeito, na medida em que convém à plena maturidade de Cristo ».
À luz do mistério de Cristo, a sexualidade aparece-nos como vocação a realizar aquela caridade que o Espírito Santo infunde no coração dos redimidos. Jesus Cristo sublimou tal vocação com o Sacramento do matrimônio.
Jesus indicou, além de mais, com o exemplo e a palavra, a vocação à virgindade por causa do reino dos céus. A virgindade é vocação ao amor : torna o coração mais livre para amar Deus. O coração virgem não está condicionado pelos compromissos requeridos pelo amor nupcial, pode, portanto, ser mais disponível para o amor gratuito dos irmãos.
A virgindade pelo reino dos céus, por conseqüência, exprime melhor a doação de Cristo ao Pai pelos irmãos e melhor prefigura a realidade da vida eterna, toda substanciada de caridade.
A virgindade implica certamente renúncia à forma de amor típica do matrimônio. Assume, porém, a nível mais profundo, o dinamismo; inerente à sexualidade, de abertura oblativa aos outros, potenciado e transfigurado pela presença do Espírito que nos ensina a amar o Pai e os irmãos como o fez o Senhor Jesus.
Em síntese a sexualidade é chamada a exprimir valores diversos a que correspondem exigências morais específicas : orientada para o diálogo interpessoal contribui para a maturidade integral do homem abrindo-o ao dom de si no amor; ligada, além de mais, na ordem da criação, à fecundidade e à transmissão da vida, é chamada a ser fiel também a esta sua interna finalidade. Amor e fecundidade são todavia significados e valores da sexualidade que se incluem e reclamam mutuamente e não podem portanto ser considerados nem alternativos nem opostos.
A vida afetiva, própria de cada sexo, exprime-se de modo característico nos diversos estados de vida: a união dos cônjuges, o celibato consagrado escolhido pelo Reino, a condição do cristão que não atingiu ainda o momento do compromisso matrimonial ou porque permaneceu solteiro, ou porque escolheu permanecer assim. Em todos os casos esta vida afetiva deve ser acolhida e integrada na pessoa humana.