Formação

Sínodo das Igrejas do Oriente Médio – O que é isso?

comshalom

Com data bastante sugestiva 10 do 10 de 2010, um domingo, o Santo Padre Bento XVI
celebrou no Vaticano a missa de abertura do Sínodo dos Bispos que fazem parte da Igreja
Católica no Oriente Médio. O Sínodo se estenderá até o dia 24 de outubro e tem como tema a
Comunhão e o Testemunho.

Esta assembléia extraordinária sinodal, convocada pelo Papa, tem o texto de Atos 4,32a como
iluminador de seus trabalhos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma”. É a
primeira vez na história da Igreja que um sínodo exclusivo para o Oriente Médio é convocado.
Sínodo significa ‘caminhar juntos’, junção de duas palavra gregas syn, juntos e hodos,
caminho, e representa exatamente a maior necessidade e desafio da Igreja Católica presente
na Turquia, Síria, Líbano, Palestina, Israel, Chipre, Egito, Arábia Saudita, Irã, Iraque e nos
países da Península Arábica como Qatar, Iêmen e Kwait.

Vale a pena consultar um mapa, como fizemos como missões presentes em Israel em CA-CV
nos preparando para o Sínodo, para podermos perceber o tamanho e a localização geográfica
desta parte do mundo que conta com aproximadamente 350 milhões de habitantes dos quais
14 milhões de cristãos, e somente 6 milhões são católicos.

O Sínodo para a Igreja do Oriente Médio pode ser considerado um desdobramento ou fruto da
visita do Santo Padre à Jordânia e Israel em maio de 2009 e, desde esta data, ele vem sendo
preparado. Uma relação de perguntas chamada de Lineamenta foi dirigida a todas as dioceses
destes países e dos resultados copilados nasceu o documento Instrumentus Laboris entregue
pelo Santo Padre aos Patriarcas e Cardeais na sua viagem a Chipre, em junho de 2010. Todos
os bispos sinodais estudaram em conjunto este documento que lhes apresentou um retrato da
realidade eclesial de cada país, com seus desafios e esperanças.

Há dois objetivos principais que nortearão o trabalho dos bispos durante estas duas semanas:
1 – confirmar e fortalecer os cristãos em sua identidade através da Palavra de Deus e dos
Sacramentos,

2 – promover a comunhão entre as igrejas locais (ou sui iuris) a fim de que elas possam dar
testemunho de vida cristã de modo autêntico, corajoso e atraente.

A língua oficial do Sínodo será o árabe sendo que as intervenções poderão ser feitas em
italiano, inglês e francês. A riqueza litúrgica apresentada pelos outros ritos que têm sua origem
nas tradições alexandrina, antioquena, armênia, caldeia e constantinopolitana prometem
enriquecer as celebrações litúrgicas durante o Sínodo. A missa de abertura e de encerramento,
porém, presididas pelo Santo Padre na basílica de S.Pedro, será em latim, no rito romano. Na
Igreja Católica presente no Oriente Médio, há 6 igrejas ‘sui iuris’, ou seja, igrejas particulares,
cada uma com seu patriarca, que vivem em comunhão com o Santo Padre. Estas são a igreja
copta, a síria, a greco-melquita, a maronita, a caldeia e a armênia. Quanto aos elementos
essenciais da fé católica (dogmas, sacramentos, doutrina), os ritos orientais têm as mesmas
leis que o rito latino. Muitas outras informações podem ser colhidas em sítios e blogs, muito
especialmente no WWW.vatican.va ou no www.zenit.org.br .

Como eu tive a oportunidade de conversar com o Pe. David Neuhaus, sj, Vigário-Episcopal do
Patriarcado Latino responsável pelos Católicos de Língua Hebraica de Israel, transcrevo abaixo
os oito pontos apresentados por ele como os grandes desafios da Igreja Católica, presentes
no Instrumentum Laboris, tendo como pano de fundo a realidade particular da Igreja em
Israel. Sendo este o único país do Oriente Médio onde a Comunidade Shalom está presente,
considerei que as observações do Pe.David tivessem particular relevância para nós, como
missionários em Haifa, Isifya e Nazaré, e como grande Comunidade, e que pudessem se tornar
objeto de intercessão de modo particular nosso, como Carisma.

São estes, em síntese, os pontos apresentados como os principais desafios a serem discutidos
no Sínodo:

1 – A unidade interna da Igreja Católica no Oriente Médio pois, o rito romano ou latino que
é o mais forte e numericamente maior no mundo inteiro, não o é nesta parte do mundo,
representando somente 15% dos católicos, por exemplo, em Israel. A comunhão eclesial é um
desafio pois há diversidade de ritos que remontam a processos religiosos, culturais e históricos
bem antigos e diversos.

2 – Um único corpo de Cristo testemunhando o Senhor Ressuscitado: o desafio frente ao
ecumenismo. Sendo os cristãos minoria nesta parte do mundo a unidade entre eles é vital para
que o testemunho seja coerente e consistente e continue dando passos que aprofundem o
diálogo e a colaboração com a Igreja Ortodoxa.

3 – O desafio inter-religioso frente ao mundo muçulmano. Com exceção de Israel cuja maioria
da população segue o Judaísmo, em todos os demais países do Oriente Médio o Islamismo é
a religião predominante. Os cristãos compartilham a mesma cultura, a mesma língua, a mesma
história com o universo árabe, mas precisam contar com a ajuda do Sínodo para poderem
dialogar com mais precisão e fundamentação teológica com os muçulmanos para não viverem
mais oprimidos por eles.

4 – Diálogo com os Judeus: outro desafio. Crescer no reconhecimento das raízes comuns entre
cristãos e judeus e ultrapassar os discurso de desconfiança para o de respeito, especialmente
no interior do estado de Israel onde a questão política entre judeus e palestinos é tensa,
complexa e delicada.

5 – O desafio bíblico: ler a Bíblia na terra da Bíblia. Depois do Vaticano II houve uma grande
redescoberta da herança bíblica e o documento Instrumentum Laboris aponta que esta herança
no contexto do Oriente Médio não é assunto simples pois, a Bíblia tem sido usada como
fundamentação para grupos rivais.

6 – O desafio político: dar testemunho de justiça e de paz. Principalmente na questão interna
entre judeus e palestinos a Igreja Católica, é convidada a dar continuidade ao inovador trabalho
de diálogo proposto por Bento XVI quando de sua visita a Israel em 2009, que pode dar bases
consistentes para quem na Igreja dialoga com Judeus e quem dialoga com muçulmanos.

7 – O desafio da emigração: a vocação cristã é singular. O Sínodo seguramente vai
ressaltar que os cristãos precisam reformular sua identidade, compromisso e testemunho

na terra onde o Cristianismo nasceu, para que deixem de optar pela emigração devido a
problemas e pressões. Os fiéis, católicos e cristãos, precisam abraçar sua vocação, que muito
frequentemente evoca a Cruz, e permanecer nos países onde estão.

8 – O desafio de acolhimento da diversidade: o desafio da imigração. O Sínodo vai
também tocar no tema do número cada vez maior de cristãos não árabes de língua e
cultura que emigraram e vivem no Oriente Médio dando corpo às comunidades cristãs.

O Santo Padre na homilia da missa de abertura e na oração do Angelus no mesmo dia,
depositou os trabalhos do Sínodo nas mãos da Virgem Santíssima, a Mãe de Deus, como é
chamada e venerada em todo o Oriente Médio, chamando-a de Estrela da Esperança. Pede
a intercessão de todos os batizados, a Igreja do mundo inteiro, especialmente através da
oração do rosário, na intenção de que haja abundante efusão de dons do Espírito Santo sobre
os trabalhos sinodais. Bento XVI também aponta, como profeta que tem dedicado todo o seu
pontificado na busca da unidade, para a beleza que representa a reunião de todos os pastores
vindos de realidades e riquezas de tradições tão variadas, que são e formam a única Igreja de
Cristo. Vivemos e testemunhamos, sem dúvida, um momento de graça extraordinária da parte
do Senhor, na ação do Seu Espírito, para a maior unidade e comunhão de toda a Igreja, Sua
Esposa.

Que como Carisma Shalom nossas orações em todo o Brasil e no mundo acompanhem o
Sínodo. Como concluiu Pe.David no artigo escrito, “a complexa realidade do Oriente Médio
pede intensa oração, pensamento criativo e diálogo contínuo a fim de que possa emergir a
voz e a visão proféticas que promoverão a comunhão, a justiça, a paz e o perdão em terras
tão marcadas pela rivalidade, violência e rejeição. O Sínodo possa nos ajudar a reformular o
discurso contemporâneo a respeito de nossa identidade, vocação, testemunho e missão que
assegure que o Corpo de Cristo no Oriente Médio renove seu compromisso de ser presença do
Senhor Ressuscitado entre os povos que o compõem hoje”.

Fazemos parte deste povo que anuncia o Senhor Ressuscitado e que é, como Igreja, também
Corpo de Cristo! Que em tudo se manifeste a vontade do Pai! Shalom!

Elena Arreguy Sala
Aliança Missionária – Haifa-Isifya – ISRAEL


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