Sem Categoria

Só precisamos de amor

Em tempos de tanto desamor, indiferença e hostilidade, o Renato veio até nós pra nos tirar de nós mesmos e nos fazer pessoas melhores.

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Como Comunidade de Aliança, somos chamados a Eucaristia diária. Grande graça! Fonte e sustento da nossa vida! Por vezes, grande desafio. Ontem foi um desses dias em que o desejo por Jesus é imenso, mas também o cansaço, o frio, os afazeres e até a saúde estavam me convidando a ir logo para casa. Não, Jesus me esperava…

Chego na Paróquia e, como quase todo dia, Osmar, meu namorado, me esperava para participarmos juntos da Santa Missa. Ele doente, tomando antibiótico e mais tantos remédios, naquele frio, na chuva fina… puxei sua orelha por estar se expondo mais me esperando lá fora e não estar quentinho dentro da Igreja.

Logo que entramos na Igreja percebemos a presença de um homem falando alto, mal vestido, cheirando mal, gerando visível desconforto em quem aguardava o início da celebração. Em questão de minutos houveram diversas tentativas de retirá-lo. Em uma delas a senhora ofereceu 2 reais e ele incrédulo perguntou “você vai me dar 2 reais?” e ela afirmou que sim, mas que ele precisava ir junto dela. Ele até fez menção de sair, levantou-se, deu alguns poucos passos e afirmou convicto “eu não quero dois reais, quero ficar aqui”.Irredutível, caminhou de volta para a 7ª fileira e sentou-se, falando, gesticulando agitado.

Logo que a Santa Missa começou, vi que ele não se aquietava, num impulso de compaixão (por ele e por todos que tentavam se colocar em oração) disse a Osmar “eu vou lá” já caminhando ao encontro do homem. Ele também caminhou em direção ao rapaz e se aproximando colocou a mão em seu ombro e perguntou se estava tudo bem. Ele imediatamente fixa em nós aquele par de olhos desesperados por amor “eu estou muito nervoso, muito nervoso”.

Pergunto se podemos nos sentar com ele para rezar, pois assim ele logo se acalmaria, ele aceitou na hora. Como estávamos na liturgia da Palavra, logo nos sentamos (ele – meu amor – eu) e como de costume, eu e Osmar nos demos as mãos. Imediatamente ele segurou firme na outra mão de Osmar e não largou mais.

Imediatamente cessou o barulho. Imediatamente se acalmou. Imediatamente as lágrimas gordas e pesadas começaram a desabar de meus olhos. Ficamos ali, os três, de mãos dadas a missa toda. Osmar, que estava ao lado dele, foi amorosamente ajudando ele a viver a Santa Missa.

Dado o momento da consagração, nos ajoelhamos e com isso soltamos as mãos. O homem disse para Osmar enquanto pegava a mão dele: “segura a mão dela também”. E ali, diante da hóstia consagrada, diante de Jesus vivo, os três pobres de mãos dadas choram copiosamente, silenciosamente, esmagados pelo amor e misericórdia de Deus.

Após a comunhão voltamos para o lado do homem e assim que sentamos ele pega a mão de Osmar e, vendo meu amor ainda emocionado com tudo o que vivíamos, bate em seu peito e sussurra dizendo que acredita nele, que confia em nós (eu e ele), fala sobre esperança e sobre amor. Mais e mais lágrimas.

Ao final da Missa agradeço a ele pela companhia e pergunto seu nome. Renato. Digo a ele que sua vida não deve ser fácil, mas que Deus o ama muito. Ele concorda e saímos juntos pela porta da Igreja enquanto ele partilha sua realidade. Conversamos mais alguns minutos enquanto as luzes eram apagadas e o portão fechado.

Ele caminha conosco até nossos carros, nos despedimos e combinamos de nos encontrar mais vezes para rezar juntos. Entramos em nossos carros e nosso irmão Renato grita feliz “se cuidem” enquanto nos acompanha com os olhos e um imenso sorriso, quase vazio de dentes, mas agora tão cheio de Paz! Fui me afastando e olhando ele pelo retrovisor… até que não conseguisse mais o ver.

Partilho para testemunhar que o Amor é sempre o caminho. Para Renato e para nós.

Ele estava incomodando sim, cheirava mal, falava muito alto, mas ele não queria dinheiro, comida ou banho, ele queria amor. Mal sabe ele que quem mais recebeu fomos nós, que apesar de externamente não gerarmos tanto desconforto nos outros, lutamos diariamente com nossas misérias e pecados, e, constantemente somos resgatados pelo amor e misericórdia de Deus.

Em tempos de tanto desamor, indiferença e hostilidade, o Renato veio até nós pra nos tirar de nós mesmos e nos fazer pessoas melhores. E procurando o significado do nome do nosso novo amigo eu entendi tudo. Renato: renascido, nascido de novo ou ressuscitado. É como estou depois do nosso encontro.

Do topo abaixo: Renato, Osmar e Dayanne

 

Dayanne Costa
Consagrada da Comunidade de Aliança – Curitiba


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