Formação

Sombras de guerra e esperanças de paz

comshalom

Bento 16 chega com autoridade, com sua mensagem para este Dia Mundial da Paz.

Dizem que este Papa faz questão de redigir pessoalmente os seus discursos. Ao menos os corrige e lhes imprime sua marca registrada.

E’ o que dá para perceber com clareza nesta mensagem de paz. E’ o teólogo que reflete em profundidade, e expressa com precisão o seu pensamento, em torno de uma tese que ele reitera com insistência: o fundamento da paz está da dignidade da pessoa humana, detentora de um valor absoluto, em decorrência de sua própria natureza, feita à imagem de Deus, e possuidora de direitos inalienáveis, que devem ser reconhecidos e respeitados. Para isto tudo se requer o clima de paz, que favorece a convivência fraterna entre as pessoas.

Como carpinteiro que vai cravando pregos, ou pedreiro que assenta tijolo sobre tijolo, Bento 16 vai explicitando seu pensamento em torno do núcleo central de sua mensagem de paz. Como primeiro alicerce coloca a valor absoluto e transcendente da pessoa humana, criada à semelhança de Deus. E’ ali que o Papa funde a argamassa da natureza humana com a visão de fé que a ilumina e lhe dá um significado transcendente.

Com isto, ele volta a afirmar o que dissera em sua “aula magistral” na Alemanha: a fé tem direito de cidadania, e sem ela a compreensão da vida humana fica comprometida pela relativização a que fica exposta.

Bento 16 parece ter assentado o tripé que define seu pontificado: o discurso de Regensburg, a visita à Turquia, e agora a sua “mensagem aos Governantes e responsáveis das nações”.

De fato, precisamos ter presente este tripé, para perceber o alcance da mensagem do Papa, e a autoridade moral que o respalda.

Na Alemanha, as violentas reações suscitadas entre os muçulmanos pela citação do obscuro imperador bizantino, pareciam ter comprometido para sempre o pontificado de Bento 16. Mas, estas mesmas reações acabaram confirmando o risco que representam as atitudes religiosas fundamentalistas, e a importância de trazer a religião para a racionalidade. A atitude firme do Papa, explicando sua posição e negando-se a capitular diante das pressões dos muçulmanos, foram lhe dando credibilidade, que se confirmou de vez com sua coragem em visitar a Turquia, e demonstrar sua disposição para o diálogo com muçulmanos e ortodoxos.

O Papa voltou da Turquia com sua autoridade confirmada. “Ele fala como quem tem autoridade!”, dizia o povo a respeito de Jesus. O mesmo acontece agora com Bento 16.

Ainda bem! Pois o mundo está precisando do seu equilíbrio e de sua franqueza.

Neste ano de 2006 aumentaram as sombras da guerra. No dia 27 de novembro se completou uma data fatídica, que poucos perceberam: o tempo em que os Estados Unidos estão em guerra no Iraque já é maior do que todo o tempo em que se envolveram na segunda guerra mundial! Daquela vez, sua intervenção foi providencial, rápida e eficaz. Agora, estão se afundando cada vez mais nos equívocos de uma guerra sem sentido e desastrada.

A Coréia do Norte teima em conseguir sua bomba atômica. O Irã insiste em dispor da energia nuclear, sem garantir que não tenha finalidade bélica. E agora, no apagar das luzes de 2006 assistimos ao triste espetáculo de países miseráveis, como a Somália, a Eritréia , a Etiópia, situados no pobre “corno da África”, se engalfinharem em guerra fratricida, escarnecendo de suas populações famintas.

O mais trágico deste episódio é constatar como hoje quem quiser fazer a sua “guerrinha”, pode fazê-la à vontade, que o mundo não vai impedir. Parece que a humanidade perdeu sua capacidade de reação diante das loucuras que ameaçam seu futuro.

Tanto mais preciosa é a voz dos profetas.

– Fala, mestre!

*Dom Demétrio Valentini

Bispos de Jales (SP)

www.diocesedejales.org.br)

Fonte: CNBB


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