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TEMA 1: MISSÃO PROFÉTICA DO MINISTRO DE ENSINO

Isaías 6 Fala sobre a vocação do profeta Isaías. O que que isso pode se relacionar conosco? Nós temos também uma missão como o profeta Isaías. Qual é a nossa missão? Formar o povo de Deus através dos cursos de FB e outros cursos e outros retiros que a gente vai ver e poder aprofundar. Mas muitas vezes a gente enfrenta dificuldades, ficamos na dúvida em saber se é isso mesmo. Então, quero partilhar com vocês a caminhada do profeta Isaías, especialmente sua vocação, e como isto pode nos ajudar a entender melhor e aprofundar nossa missão, o nosso chamado no Centro de Formação.

“No ano da morte do rei Ozias, vi o Senhor sentado sobre um trono alto e excelso.” Então, o profeta viu o Senhor. Isto é muito interessante, pois Isaías vê o Senhor, é ele quem está vendo. É uma experiência pessoal dele com Deus. Ele não diz: “me disseram que o Senhor é assim, assim…” ou “o fulano de tal viu o Senhor e a visão era assim…” Não, ele vê o Senhor, ele olha para o Senhor. O verbo está na primeira pessoa e isto significa que ele tem uma experiência pessoal com Deus. Não é um entendimento intelectual, não foi fruto do esforço intelectual dele, do que disseram a ele. O profeta vê o Senhor e tem uma experiência pessoal com Deus. É muito importante que cada um de nós, cada cristão, mas falando direcionado aos professores, aos ministros de ensino, aos que trabalham no Centro de Formação, que cada um de nós tenha essa experiência pessoal com Deus. “Ah, mas isso é coisa de seminário de vida no Espírito Santo”. É pode até começar no seminário, mas no último instante da sua morte você vai precisar renovar esta experiência.

Porque ninguém, nem a autoridade, nem a comunidade pode se colocar no lugar desta experiência com Deus. Nem o papa pode dizer para você: “Deus é assim, assim…”, o papa não pode entrar no seu lugar e assumir a experiência que você precisar ter com Deus, não pode se colocar no meio desta experiência, simplesmente. Não se pode dizer: “Não, eu não tive esta experiência mas o papa teve”. Não, você precisa ter esta experiência com Deus. O ministro de ensino precisa ter esta experiência, forte, com Deus. Não um Deus intelectual, que se manifesta, simplesmente, no intelecto, que conheço só quando eu leio a Bíblia ou um livro, não um Deus que me falaram, que me disseram, mas um Deus que se manifesta pessoalmente a mim. Como está a nossa experiência pessoal com Deus? É forte? É intensa? É concreta? É verdadeira? Ou passa mais pelo o que me disseram, pelo o que eu entendo, pelo o que eu conheço? Ou eu vivo de memória, de uma experiência que eu tive há muito tempo atrás? Qual é o meu relacionamento, hoje, com Deus? É um relacionamento pessoal? Deus é uma pessoa, não é uma idéia. Você tem um amigo? Você conhece o seu amigo? Tem intimidade com ele? Sabe, mais ou menos, o que ele gosta ou não? Ele também sabe em relação, a você? Sabe. Ele é uma pessoa esse seu amigo ou amiga? É. Você se relaciona com ele, ou ela, como uma pessoa, não é? E com Deus? Deus é uma pessoa. Você se relaciona com Deus dessa forma, na simplicidade com uma pessoa? Você tem ou já teve um amigo que não conhecia? Que nunca foi apresentado a ele, nunca partilhou com ele, nunca contou tuas dificuldades, teus problemas, teus traumas, ou nunca ouviu as alegrias dele os seus desejos? Isto não existe. Você já teve um amigo ideal, só de idéias? Que tinha sentimentos, não tinha vontades, não tinha idéias? Não Deus é uma pessoa e por isso tenho que me relacionar com ele como uma pessoa, não como uma idéia, como um conceito. “Eu vi o Senhor”. Eu espero que um dia a gente possa dizer, acho que a maior parte de nós podemos. Mas devemos, ainda sempre mais, nos aprofundar esta experiência pessoal para um dia nós podermos dizer: “Eu vi o Senhor”.

Não é uma coisa: ah, não, nunca tive êxtase! Não precisa ter êxtase. Santa Teresinha nunca teve como Santa Teresa D’Ávila, mas ela podia dizer: “vi o Senhor”. Pode ser simples, e Deus age muitas vezes na simplicidade. Pode ser a coisa mais simples, mas se eu tenho um relacionamento verdadeiro com Deus, que é uma pessoa, eu posso dizer com certeza, com segurança, com tranqüilidade no meu coração: “vi o Senhor”. E isso me dá tranqüilidade, me dá segurança, me dá maturidade espiritual e humana. Quem tem uma experiência com Deus tem todo um conhecimento que a gente vai ver. É o próprio Deus que mergulha no conhecimento dele, que mergulha no mistério dele. Você já viu algumas pessoas muito simples que nunca estudaram, mas quando você conversa com elas é um poço de sabedoria, pessoas cristãs, religiosas. Tive essa experiência uma vez. Eu estava numa missão, conversei com um irmão da comunidade de vida, que era muito simples, que tinha sido transferido de uma outra missão porque o pessoal achava que ele tinha alguns problemas, mas na verdade ele não tinha nenhum problema. O problema dele era que ele era muito simples. Ele não tinha conhecimento intelectual. A gente conversou cinco minutos, mas eu fiquei impressionado com a sabedoria dele, sabedoria divina, que você via que era uma coisa que vinha de Deus, não vinha da idéia ou da inteligência dele. Então quem tem esta experiência pessoal pode ser inteligente, culto ou não, quando você diz: “vi o Senhor”, porque teve esta experiência a gente é mergulhado no mistério de Deus e em sua sabedoria. Continuando, “vi o Senhor sentado”. Então, ele diz que viu o Senhor e, de repente, o profeta não descreve. Ele vai descrever tudo aquilo que está em volta do Senhor menos o Senhor. Preste atenção! “Vi o Senhor sentado num trono alto e excelso, a cauda de sua veste enchia o templo; acima dEle permanecia serafins. Cada um tinha seis asas: duas para cobrir o rosto, duas para cobrir os pés e duas para voar. Eles gritavam um para o outro: “Santo, Santo, Santo, Senhor de todo o poder! Sua glória enche a terra inteira!” “Os ganzos da porta puseram-se a tremer à voz daquele que gritava e o templo se enchia de fumaça”. Ele viu o Senhor, mas o Senhor para ele era algo tão tremendo, tão grande e inefável que ele não ousou a descrever o Senhor. Ele descreveu aquilo que estava em volta do Senhor, que já era tremendo que já era infinito na grandeza e na majestade. Mas o Senhor, Deus todo-poderoso, santo, santo, santo, ele não descreveu. Quem vai falar que Deus é santo não é o profeta, mas serafins. A única descrição que temos de Deus, não é dada pelo profeta, é dada pelos serafins. Porque o homem e Deus existe um grande abismo. Deus é o Santo, o homem é o pecador. A gente vai ver isso já, já. Então, ele descreve o trono de Deus, alto e excelso, a cauda de sua veste que encheu o templo. Parece que o profeta sabe que em Jerusalém tinha um templo, na época do profeta, e era o único templo da Terra Santa daquela época do profeta, que era o centro de todo culto judaico. Quatro vezes ao ano, se não me engano, todos os judeus dali e de outras regiões próximas, iam em peregrinação para o templo, porque as festas mais solenes aconteciam ali, no lugar central, principalmente a festa principal, a Páscoa. Então, uma vez por ano, todos os judeus faziam todo sacrifício necessário para celebrar a Páscoa. Ou o profeta tem a visão de Deus como se ele estivesse no templo, ou ele tem a visão de Deus no céu, como se fosse o templo de Jerusalém. Muito provavelmente parece que o profeta tem essa visão de Deus no próprio templo, acima dele permaneciam serafins. Só para vocês não estarem nessa descrição, mas a gente sabe que a mentalidade dos judeus, de outras passagens, era a presença muito forte Deus no templo e que Ele sentava apoiado seus pés na Arca da Aliança. Esta ficava no santo dos santos (desenhando o templo). E Isaías teve justamente essa presença mais forte ainda, viu toda glória de Deus, então, a cauda de sua veste enchia o templo. Acima dele, nos céus, permaneciam serafins. Cada um tinha seis asas: duas para cobrir o rosto, duas para cobrir os pés e duas para voar. Eles gritavam um para o outro: santo, santo, santo, o Senhor de todo poder. Ou seja, três vezes santo. A gente sabe que no hebraico não tem superlativo. Como é que você poderia reduzir essas três palavras com uma única palavra para nós em português? Seria Santíssimo. Ou seja, os serafins dão a única definição de Deus. O profeta não ousa descrever Deus, mas os serafins, que são aqueles que estão acima do trono de Deus, cantando a sua glória, ousam descrever, ousam dizer que Deus é santo, santo, santo… E aí é que entra, que o profeta diante dessa realidade, diz: “Deus é Santo!” Ele percebe que Deus é santo, que é Deus de todo poder e a sua glória enche toda a terra. A partir do templo, onde segundo a mentalidade judaica, Deus habitava, toda a terra era cheia da glória, porque Deus habitava ali, mas enchia toda a terra com a sua glória. Então, nesse momento, os gonzos das portas puseram-se a tremer. Provavelmente, da porta que tinha na entrada do templo. “… a voz daquele que gritava e o templo se enchia de fumaça”. O que é isso? Isso é a manifestação de Deus, ou seja, Isaías viu: o Senhor sentado no trono, com toda a sua glória, com toda a sua côrte de serafins, estes contaram a glória de Deus e disseram que Deus é santo, santo, santo, todo poderoso. A partir daquele momento, Deus se manifestou a Isaías, revelou quem ele era. Isso era muito parecido com o que Moisés viu e teve a experiência lá na montanha com Deus que se manifesta com muito poder, com muita autoridade. Existe um nomezinho que a gente dá, um nome técnico, a manifestação de Deus: teofania. Teo vem do grego, de uma raiz grega “teos”, que significa Deus, “fania” vem do verbo faino, que significa manifestação. Então, é a manifetação de Deus. Deus que se manifesta a alguém. Ele nunca se manifesta a si mesmo, Ele sempre tem que se manifestar a alguém porque Ele já se conhece, Ele se dá: O Pai se dá ao Filho, o Filho se dá ao Pai gerando, nesse diálogo de amor, o Espírito Santo. Mas a manifestação é sempre relacionada ao homem. Deus aqui se manifesta com todo o seu poder ao profeta Isaías. E o que mostra que isso aqui é uma teofania? Com o que se mostra? A fumaça, os gonzos da porta que começam a tremer muito parecido com o terremoto. O que acontecia quando Moysés rezava lá na montanha? O que tinha lá na montanha? Tinha nuvens, às vezes, a sarça ardente, relâmpagos, trovões, terremotos, ou seja, quando Deus se manifesta toda a realidade que está em torno, treme, sente a manifestação de Deus. Deus é todo-poderoso, que quando se manifesta ao homem, toda a natureza participa desta manifestação. Quando ele se manifestava a Moysés, o pessoal que estava lá no acampamento ficava todo encolhidinho, morrendo de medo por causa dos trovões, relâmpagos, tinha descrição que parecia um vulcão entrando em erupção, justamente porque o Senhor Deus, de todo poder quando se manifesta tudo se prostra diante dEle, dAquele que é todo-poderoso. Aí vem a reação do profeta: Eu disse, então: ai de mim. Estou perdido, sou um homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de lábios impuros, e meus olhos viram o rei, o Senhor de todo poder!” Então, o profeta, que diante dAquele que é três vezes santo, reconhece que realmente Deus é o santo, e eu, quem eu sou? Aquele abismo que eu disse que existia entre Deus e o homem, porque Deus é o santo, eu sou o pecador; Ele é o poderoso, de todo poder, eu sou impotente; Ele é forte, eu o fraco; Ele é Deus, eu sou homem. E a gente sabe que no Antigo Testamento, quando uma pessoa via Deus, morria. Tem uma passagem que diz “ninguém pode ver Deus e permanecer em vida”, porque Deus no Antigo Testamento se manifestava como essa realidade, com todo poder. No seu pecado, com a sua miséria, com a sua limitação se visse Deus de repente Ele colocava isso, destruía, ele morria de tanta grandeza e de tanta distância que existia entre Deus e o homem. Por isso que o povo, quando Moisés disse: “agora vamos todos subir a montanha para ver Deus, para ver a sua manifestação, pois ele vai nos falar”, quando se viu diante de Deus, como pecador, povo que murmurava, povo que pecava, não agüentou, porque diante dAquele que é santo, eles perceberam todos os seus pecados, eles quase que morreram. Tanto é que disseram: “Não, Moisés, não faça mais isso com a gente não. Vá você sozinho. A gente escuta tudo o que você disser, a gente acredita, mas não nos leva de novo não, porque senão a gente vai morrer”. Então, é essa experiência mesmo. Porque o homem pecador quando se aproxima dAquele que é santo, ele se sente aniquilado. Principalmente o povo do Antigo Testamento, pois eles não tinham Jesus para salvá-los, para perdoá-los o pecado. E o profeta teve essa experiência, ele percebeu Aquele que era santo e, percebeu que era um homem de lábios impuros. E aí vem muitas coisas, que às vezes eu fico até confuso de dizer todas coisas que a gente pode retirar desse texto. Porque primeira coisa: a gente percebe que o profeta só descobre e só tem a experiência profunda que ele é pecador e que é um homem de lábios impuros e habita no meio de um povo de lábios impuros quando ele descobre e quando tem uma experiência pessoal com Aquele que é santo, ele descobre: Meu Deus, tu és santo e, eu sou pecador. Ele vê Aquele que é grande, que é Deus e vê aquele que é homem, que é pecador, que é pequeno. Então, quando ele tem essa experiência, que não é uma experiência intelectual, mas uma experiência de vida, é o coração dele, é todo o ser dele que está ali envolvido. Quando ele tem essa experiência, aí ele reconhece eu sou o pecador! Ele não fica pensando: deixa eu ver os meus pecados, porque tenho que me reconhecer pecador. Não, o profeta não fica pensando, recordando. Ele percebe a realidade diante do santo, a gente se reconhece pecador. Diante de Deus, quando temos essa experiência, a gente reconhece o nosso lugar de pequeno, de pobre de humildes aos pés dEle. É muito diferente uma pessoa que tem essa experiência a outra que quer se arrepender, quer ser realmente humilde, mas passa sempre pela cabeça e não pelo coração. Então, eu tenho que descobrir os meus pecados, eu tenho que pensar e recordá-los para não me orgulhar, para descobrir que eu sou pecador. Sim, mas se não passa pelo coração, isto nunca vai acontecer profundamente. Tem que passar pelo coração e tem que passar por essa experiência com o Deus vivo, com o Deus que é santo. Quando o profeta descobre que é pecador, o que acontece com ele? Ele diz: “Espera um pouquinho Deus, porque eu sou muito pecador, não apareça mais pra mim não, eu vou primeiro me converter, para depois você se manifestar de novo para mim, tá bom?” É isso que acontece com o profeta? “Não, meu Deus, não dá, não, eu sou muito pecador, sou muito fraco, não dá certo, dá um tempinho aí, deixa melhorar aqui a minha situação, deixa eu renunciar um pouquinho mais as impurezas que saem da minha boca, deixa eu me afastar desse povo de lábios impuros, deixa eu dar um jeitinho aqui na minha vida, depois você se manifesta de novo para mim, aí a gente caminha, porque eu tenho que me preparar primeiro, pois eu sou pecador, já reconheci. Eu vou me preparar”.

É isso que acontece com o profeta? Não. Mas às vezes é isso que acontece conosco. Muitas vezes, a gente pensa que Deus fala e faz isso, Ele deu essa experiência, a gente reconhece o nosso pecado, e pensamos que somos nós é que vamos conseguir ser santos, que somos nós que vamos conseguir nos converter, conseguir nos purificar, conseguir sair daquele pecado. E não é. Com o profeta não foi assim, não. Aconteceu o seguinte: “um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa, que recolhera com pinças de sobre o altar. Com ela tocou minha boca e disse: a partir do momento em que isto tocou os teus lábios, a tua falta está removida, o teu pecado está apagado”. Ou seja, o serafim voou para o altar do incenso, retirou uma brasa (ninguém sabe onde o profeta estava), tocou os lábios do profeta e disse: “A partir do momento em que isto tocou os teus lábios, a tua falta está removida, o teu pecado está apagado”. Foi o próprio Deus, a própria ação de Deus que purificou o profeta, ou seja, e a brasa foi retirada do altar. O altar que é de Deus. O altar significa justamente que de um lugar sagrado, ou seja, um lugar que pertence ao próprio Deus, de onde vem a purificação. Ao mesmo tempo, não foi o profeta que pegou a brasinha e colocou na sua boca, não. Foi o serafim, ou seja, mais uma vez mostra que é Deus que vem. Viu a grandeza de Deus, viu a miséria dele, e parado, estarrecido: “Meu Deus, eu vou morrer!” Imagina o profeta, quando viu o serafim se aproximando. Pronto, é agora. Agora com uma brasa ainda mais. Eu vou morrer é queimado.” E o que que aconteceu? Deus, pelo contrário faz com que o serafim vá pegar uma brasa. Ele toca os lábios de profeta para purificá-los, e diz: “A partir do momento em que isto tocou os teus lábios, a tua falta está removida, o teu pecado está apagado”. Ou seja, é Deus quem purifica, quem perdoa os pecados e apaga-os, e não só, é Deus quem santifica. Veja que grande mistério! O mistério da graça de Deus. Deus se revela ao homem pecador, impuro, o homem acolhe a revelação de Deus e percebe que Deus é santo e que ele é pecador e diz: “Meu Deus, eu vou morrer!” E Deus na Sua grande misericórdia, no seu grande amor, não mata o homem. Ou seja, Ele não permite que o homem morra. Porque não é Deus que mata, era o homem que diante da glória de Deus se desfalecia, morria, pois era tanta grandeza, tanto poder que ele não agüentava. Deus não rejeita o profeta. Isaías que era homem pecador. Ele poderia simplesmente dizer: “Não você é pecador, eu te rejeito, você não pode ser meu profeta”. Mas Ele não rejeita, Ele simplesmente faz com que o pecador se torne purificado , o impuro se purifique, e o pecador se santifique. É um mistério muito grande esse mistério da graça de Deus. Ele acolhe Isaías assim como ele é. Ele não exige nada de Isaías. Tanto Deus como o profeta sabem que ele é pecador. Mas Ele não exige a santidade para Isaías, porque sabe que o profeta não pode ser santo por si mesmo. Isaías só vai ser santo se Deus fizer com que ele seja santo.

Pegando esse primeiro ponto, Deus aceita Isaías como ele é, gente nós precisamos experimentar o amor gratuito de Deus. Você meu irmão, minha irmã não precisa ser diferente para ser aceito por Deus. Você não precisa ser santinho para ser aceito por Deus. Deus te aceita como você é. Eu não preciso ser santo para ser amado por Deus. Não é essa a lógica, sou santo, logo sou amado por Deus, logo posso ser santo. A lógica do mundo é: se eu sou bonzinho, vou ser amado pelos outros, então, vou ter que ser bem bonzinho, se eu não sou vou ter que colocar minhas máscaras todas, para ser bonzinho, para ser ótimo, para ser aceito pelos outros, porque os outros só vão me amar se eu for bom, se eu me mostrar amável, se eu mostrar minhas fraquezas, meus pecados, minhas misérias, minhas manhas, etc, os outros não vão me amar como eu sou. Essa é a lógica do mundo. É a lógica até mesmo da nossa educação muitas vezes. Os pais dizem para a criança: “Olhe se você não se cuidar vai levar peia”. Claro que, na fase do crescimento da criança, isso é a motivação que uma criança entende. Criança só não entende, numa fase do crescimento, as motivações. Então, você tem que dizer: “olhe se você fizer, isso errado, você vai ter um castigo”. Mas quando a gente cresce, precisamos aprender a educar nossos filhos no amor gratuito. E nós não educamos nossos filhos no amor gratuito. Precisamos corrigir: “Eu estou te corrigindo porque eu te amo. Eu te amo como você é, mas por isso que eu quero te corrigir”. Então, nós não fomos educados no amor gratuito. Qual é o pai ou a mãe que agiria como o pai do filho pródigo. Que depois do filho pródigo ter saído de casa, pedido a parte de sua herança para gastar com mulheres, para gastar com prostituição, talvez com bebidas ou com drogas, ele voltando e querendo ser um servo do seu pai, querendo lavar seus pratos. Qual é o pai que agiria gratuitamente do jeito do pai do filho pródigo? Sem fazer nenhuma recriminação, nem um sermãozinho. Deus age conosco daquela forma. Agora, muitas vezes, por causa de nossa educação que a gente só acha que vai ser amado se fizermos algo que mereçamos esse amor, então nós não conseguimos experimentar esse amor de Deus gratuito. Deus te ama por Deus. “Ah eu sou pecador. Isaías também era. Você não sabe o meu pecado, Emílio César. O meu pecado é maior do que de Isaías”. Pode até ser, mas Deus te ama com o seu pecado. “Ah, , Emílio César eu não me sinto bem sendo amado desse jeito. Deixa primeiro eu me converter para depois ser amado por Deus?” Não, a lógica de Deus não é assim. A lógica de Deus é: eu sou amado por Ele, logo, posso receber a graça da conversão, também. Então, gente isso é fundamental: a experiência com o amor gratuito de Deus. Talvez você seja a pessoa que não desejaria ser, talvez nossos ministros de ensino não são aquelas pessoas que nós desejaríamos ter, mas são as pessoas que Deus ama como elas são e que Deus escolheu para ser ministros de ensino. O ministro de ensino precisa passar por essa experiência do amor gratuito. Experiência fundamental que vem do Seminário de Vida no Espírito Santo até o último suspiro da sua vida. A gente precisa passar por essa experiência, porque senão a gente pode viver a nossa vida toda com a mentalidade muito prejudicial e que já foi, inclusive, uma heresia na Igreja, que se chama pelagianismo (sermos santos por nossas próprias forças). Então, é a própria força que vai me fazer santo? e o meu próprio esforço que vai me santificar? Se eu não vivo essa experiência fundamental, posso cair muitas vezes, não claro conscientemente, mas num pelagianismo disfarçado que hoje a gente tem: só vou ser amado se eu for santo, ou seja, eu sou santo pelas minhas próprias forças. Eu sou santo, depois Deus me ama. Só que é ao contrário: Deus me ama e o amor dEle me leva a ser santo, me leva a me santificar, o amor que eu experimento me leva a querer ir mais, ir além. Isso é a diferença fundamental. A purificação dos lábios de Isaías, nós vamos ver, nos versículos que seguem, vai prepará-lo para sua própria missão de profeta. Não é à toa que ele é purificado nos lábios e, o profeta é aquele que fala em nome de Deus. Mas uma coisa que é importante a gente ver é que, só depois que Isaías passa por todas essas etapas é que vem a vocação dele, ele percebe um chamado de Deus. Tem gente que olha essa passagem e diz: “Eu não entendo porque Isaías escreveu tanta coisa antes de falar da vocação. Não entendo porque colocam essa passagem: “A vocação de Isaías”. Aí tem não sei quantos versículos que falam de outra coisa e só no versículo 7 que vai falar na vocação de Isaías. Foi todo um processo para ele ser chamado. Um processo de experiência com Deus verdadeiro, com um Deus que é santo, santo, santo e todo-poderoso, de reconhecimento da própria fraqueza, de purificação. Então, foi todo um processo de preparação para acolher, receber e descobrir a vocação dele. Só uma pessoa que teve uma experiência pessoal com Deus, que foi profundamente tocado por Deus pode dizer o Deus que me ama como eu sou, que me aceita como eu sou. Deus amoroso, gratuito, o Deus de Jesus Cristo, que é o mesmo do Antigo Testamento, só que Jesus revelou, ainda mais, a face de Deus misericordioso, só quem teve essa experiência pessoal com Deus amoroso é uma pessoa que pode escutar dEle a vocação. Porque é uma pessoa que se sente plena, se sente feliz, se sente contente por causa da experiência pessoal com Deus amoroso que a ama como ela é. Ela passa a ser uma cristã feliz, contente, plena. A gente vê, aí por fora, tantos cristãos que parecem que estão carregando o mundo nas costas: tristes, abatidos, sem graça, sem alegria. Parecem que estão fazendo um grande sacrifício de serem cristãos, fazendo uma grande renúncia, algo por Deus. E na verdade, ser cristão é ter essa experiência com Deus misericordioso que me leva a viver plenamente. O cristão é a pessoa mais feliz do mundo. O chamado do cristão é ser feliz, bem-aventurado. Santo Agostinho já dizia que entre os judeus e os cristãos existe um abismo de diferença. Porque os judeus é a religião da lei: vontade de Deus é essa, então tem que se cumprir isso e ai de quem não cumprir. O cristianismo é a religião da atração. “Ninguém vem a mim se o Pai não o atraiu”. Ou seja, não é simplesmente a lei, mas todo o ser do cristão que vai a Deus, a ação da graça. Não é simplesmente a minha vontade que diz: essa é a vontade de Deus, mas é a minha afetividade, minha memória, minha imaginação, vontade, inteligência, corpo, todo o meu ser que vai pra Deus, que sabe qual é a vontade de Deus e que quer fazer a sua vontade. Não é mais dizer: essa é a vontade de Deus e esta é a minha vontade. Mas sim, essa vontade de Deus que é também a minha vontade. Ou seja, Deus quer “X”, e eu quero “Y”. Não é isso. Isso pode ser no judaísmo, que Deus quer “X” e a gente tem que fazer de tudo para fazer o que Ele quer, mesmo que eu não queira. No catecismo, com essa atração da graça, de Deus a Jesus Cristo, Deus me atrai ao seu Filho. Então, não existe mais essa dicotomia, porque aquilo que é viria existir esta dicotomia, porque aquilo que é vontade de Deus, se eu me abro para essa ação da graça, passa a ser também a minha vontade. Aquilo que Deus quer, passa a ser também aquilo que eu quero. Não da boca para fora, mas do coração mesmo. Essa experiência com o Deus que me ama como eu sou e que me atrai a Ele com todo o meu ser é que eu posso escutar e receber dEle a minha vocação. Aí vem: “Ouvi então a voz do Senhor que dizia: “A quem hei de enviar? Quem irá por nós?” Imagine o profeta Isaías, depois de ter toda essa experiência ele ouve Deus falar isso. Deus se pergunta: “Quem irá por nós?” O profeta não fica parado, dizendo: “Ah, é muito bonito! Quem é que vai por Ele, não sei. Quem é que vai? Hei, você quer ir?” Mas com essa experiência do amor de Deus três vezes santo, ele se sente impelido a dizer: Hei, eu vou. Aqui estou, envia-me. “Não é uma coisa que se diz: é o jeito, né, estou vendo aqui que não tem ninguém. Só tem eu mesmo. Deve está perguntando é pra mim”. Não, talvez ele não tenha nem olhado assim para ver se era com ele mesmo. Como foi Gedeão que olhou pra terra e disse: “é comigo?” Porque ele se sente impelido. Quando a gente tem essa experiência com Deus, com o seu amor pessoal, misericordioso, nós vemos que Deus é mais do que dez, é vinte. É mais do que maravilhoso. Não tem palavras para a gente conseguir descrever Deus e o seu amor por mim. Eu percebo que Deus me ama e Ele só pode querer o melhor para mim. E ele sabe qual é o melhor para mim muito mais do que eu. Então, se Deus diz “quem irá por mim?” eu digo “eu vou”. E isso vale para nossa vocação pessoal (Shalom ou não, Comunidade de Vida ou Aliança). Também vale para o nosso estado de vida (celibatário, sacerdócio, matrimônio), e para o nosso ministério, para nossa missão de ministros. “Ah, eu estou aqui porque é o jeito. Porque fulano me chamou. Não posso fazer nada, é vontade de Deus”. Não, mas se eu tenho essa experiência eu vou com todo o meu ser porque é isso que eu quero. Porque eu quero fazer a vontade Dele, porque vejo que Ele quer o melhor para mim. Eu vou e assumo. Estou disponível. E aí é quando Deus diz: “Vai, dirás a este povo e dá toda orientação”. Ou seja, o profeta ouve Deus se perguntando, ele se dispõe e depois recebe o envio. É necessário que a gente escute de Deus o nosso chamado, a nossa missão, o nosso ministério. Se você simplesmente está aqui porque um pessoa lhe chamou, tudo bem. Deus pode lhe chamar por uma pessoa, mas peça para que Ele lhe chame, para que você se responsabilize diante Dele e não da pessoa. Porque é Deus quem chama e não fulano. Ele pode se utilizar dessas pessoas, mas quando Ele se utiliza se coloque diante Dele porque você não vai se responsabilizar diante da pessoa que te chamou, mas de Deus. Quando você chegar lá no céu, Deus vai perguntar: “como foi seus aluninhos do FB? Você amou? Você os conduziu para mim? “Ah, eu já prestei contas com o fulano”. “Não meu filhinho, você vai prestar contas é comigo”. Então, você se responsabiliza diante de Deus, não simplesmente do fulano que te chamou, da comunidade. Se a gente tiver essa experiência, desse jeito, cada um de nós vamos ser pessoas que vamos crescer e muito, porque a gente não vai esperar dos outros, das autoridades chegar e dizer: “eu estou aqui, cadê os livrinhos? Me dê as coisinhas”. Não eu vou atrás. É Deus que me chamou. ‘Essas pessoas são intermediárias, são representantes de Deus. Mas se elas não vem eu vou atrás. “Hei, fulano de tal, eu vou te aperriar aqui”. Como uma pessoa, lá em Fortaleza, que vive me aperriando nos momentos mais impróprios da vida. Agora, Sexta-feira, tinha que fazer minha mala, tinha que pegar meu PTA, tinha que conversar com três pessoas, tinha que fazer não sei quantas coisas, ela bate na porta, abre e diz: “Posso tirar uma dúvida”. Mas é diante de Deus que eu me responsabilizo. Essas pessoas eu posso chegar: “Vamos ver um livro para me aprofundar. Tá aqui: um livrinho para me aprofundar. Eu acho que é ótimo. Fulano, esse livrinho é bom?” É bom, pode se aprofundar. Devore o livro. Mas é você diante de Deus que é responsável. Tem que vir as orientações de Fortaleza? Tem. Mas se não vem, por uma falha, por pecado, por displicência, que não tem gente, sei lá o que, é você que é responsável. Em última análise é um chamado de Deus, não um chamado dos homens. É uma missão de Deus uma missão de formar pessoas para Deus, porque nós formamos a pessoa toda. A gente dá formação humana, espiritual, carismática, disso e daquilo. Então, é você e Deus. Deus te chamou. Ele pode até se utilizar de uma pessoa, mas coloque-se em oração e deixe que Ele te chame pessoalmente. Depois, se disponha, se comprometa com Ele e receba o seu envio. O envio que Ele dá é, justamente, quando você receber uma sala de aula, quando por um chamado para uma pregação, quando for chamado para pregar num retiro, num grupo de oração. “Vai e dirás a este povo.” É muito importante a gente Ter essa mentalidade de não ficarmos acomodados, sem responsabilidades no nosso ministério, não pensar que depende só dos outros, só das autoridades. Não, depende é de nós. Como é que acontece da gente ter professores bons? Só se a gente estiver se aprofundando. Quando a gente ver uma pessoa se aprofundando, a gente confia aquela pessoa mais cargos, mais coisas, mais responsabilidades. Porque? Porque não é a gente que vai formar, é Deus. Quem é responsável primeiro pela formação é Deus; segundo responsável, é a própria pessoa, terceiro responsável, é o formador pessoal, formador comunitário ou o pastor do grupo de oração. Então, se a gente tem essa mentalidade clara, nós podemos crescer, nós podemos aprofundar. E o próprio Deus vai nos enviar e confiar outras coisas mais profundas. Nós precisamos nos abrir a Deus que nos forma. Eu preciso colaborar com a formação de Deus, preciso deixar ser formado pelas autoridades. Aí eu vou poder crescer no meu ministério. E a última coisa que eu quero partilhar dessa palavra é quando Deus diz: “Vai, e, ainda diz o que o profeta deve dizer. Nós não devemos dizer aquilo que tem na nossa cabeça, aquilo que eu acho que deve ser dito. Devemos dizer aquilo que Deus quer que digamos. Ah, mas FB já tá tudo escritinho. Tem que dizer só aquilo que está escrito. Mas aquilo é o que Deus quer que você diga. E quer que você aplique a realidade de cada pessoa, de cada grupo. Cada grupo tem uma realidade diferente. Para um grupo você tem que falar mais de um aspecto, para o outro você tem que falar de outro, etc. Então, é necessário você escutar de Deus. A cada preparação de aula, escutar o que Deus quer que eu fale e como Ele quer que eu fale. Então é isso o que eu queria partilhar com vocês. Eu acho que isso é muito rico. Poderia se dar até um retiro sobre isso. Só sobre as diversas etapas da vocação de Isaías. Mas nós não temos todo o retiro disponível. A gente vai dar pinceladas e vocês vão aprofundar em casa ou até mesmo nos nossos momentos de aprofundamento.

Comunidade Católica Shalom


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