“Do medo à confiança”, um caminho de discernimento para o celibato

 

Meu caminho de descoberta da vontade de Deus foi um destrinchar as veredas que Deus tinha preparado para mim desde sempre e retirar do meu coração tudo o que me impedia de assumir a sua vontade. Depois de uma experiência intensa na vida religiosa, quando saí, não era minha vontade continuar em um caminho de consagração de vida. Queria viver a minha vida e continuar minha vivência espiritual na paróquia. Então, conheci o Shalom, me identifiquei, entrei para a Obra e em 2019 ingressei no vocacional.

 

Quando ingressei na Comunidade, em 2020, meu coração ardia de desejo por uma entrega maior, mas tinha muito receio. Achava que estava “fácil demais”, já que ouvia algumas partilhas de alguns irmãos sobre as lutas que travavam. Iniciei um caminho de escuta, de partilhas, de desejo e, ao mesmo tempo, achando que era algo da minha imaginação. Quando participei, pela segunda vez, o retiro de candidatos ao celibato, ao chamar o carro de aplicativo, saí no portão e me deparei com uma placa jogada na calçada: “é tempo de mudanças internas”. Num primeiro momento, dei uma grande gargalhada, afinal, achei muito aleatório. Mas não era… o Senhor vinha realizando essa obra internamente, me convencendo do seu amor e da sua vontade.

 

Precisei lutar muito durante a viagem até a casa de retiro com meu sentimento de indignidade, de incapacidade de viver esse grande novo que o Senhor me chamava. Mas naquele retiro o Senhor me fez compreender que o seu amor por mim era maior que os meus medos e que mais que ser a minha vontade era a Dele, que me havia feito trilhar esse caminho até aqui.

 

Uma das características que mais me chamava a atenção ao celibato foi “ter um coração indiviso, inteiro”. No meu caminho sempre me sentia dividida, quebrada. E essa característica me atraía demais. Ser toda inteira para Deus para poder ser toda inteira para os outros. Nas minhas formações, o Senhor me levava a reconhecer a minha história, tudo o que eu havia vivido, os seus traços de amor e misericórdia. Foi me dando a certeza de que era a sua vontade, mas mesmo assim continuei protelando a minha decisão.

 

A Reciclagem de 2023, que tinha como tema “A alma do amado é reconhecida pela alma que o busca”, foi o impulso que faltava para que eu pudesse dar esse passo. Em uma Oração Comunitária, um irmão que rezou por mim e proclamou que eu era do Senhor e que eu tinha sido criada para ser dEle. De fato, nesses 10 dias de retiro o Senhor me deu muitas provas dessa pertença.

 

Faltando algumas semanas para a Missa de consagração, me deparei com uma frase de Santa Teresa de Calcutá: “E tentei tantas vezes convencer Nosso Senhor a procurar outra alma, uma mais generosa, uma mais forte, mas Ele parece gostar da minha confusão, da minha fraqueza.” Nunca uma frase falou tanto ao meu coração. Ele gosta mesmo da minha confusão, porque me esperou, me respeitou, me conduziu a conhecer o Carisma Shalom e hoje, apesar das minhas fraquezas e limitações, me convida a entregar todos os meus perfumes para Ele… e não tinha como não ser teus…

 

Como diz santa Teresa: “O Senhor não olha tanto a grandeza das nossas obras. Olha mais o amor com que são feitas.” Meu amor ainda é tão pequeno e imperfeito, mas que deseja estar ardentemente unido a Ti, para sempre!