Formação

Toda família tem um ciclo evolutivo

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Conheça o ciclo evolutivo da família

O ciclo vital da família apresenta diversas fases, com características e crises próprias. É importante salientar que cada crise deve ser entendida como sinônimo de “oportunidade”, já que promove o crescimento de cada um dos membros da família e desta como um todo.

Os primeiros tempos de vida em comum

O primeiro momento do ciclo é a formação do casal, que compreende os primeiros tempos de vida em comum, onde o papel conjugal é mais evidenciado. É o momento de cada cônjuge propor as “cláusulas” dessa nova relação que pode sofrer influência, em maior ou menor escala, da família de origem de cada um. Uma lealdade aos pais e ao modelo por eles escolhido pode resultar em desentendimentos no início do matrimônio, pois cada cônjuge é fruto de um modelo familiar e tenderá a permanecer atrelado a ele. O importante é que ambos estejam atentos a essas diferenças e se disponham a ceder em favor de um “novo”, característico e negociado por esta nova relação que está sendo construída.

Outra crise comum nessa fase é quando se percebe que o cônjuge é real, diferente das idealizações criadas a seu respeito, diferente na sua forma de amar, e não está ali para atender e ser responsável pelas carências do parceiro.

O nascimento do primeiro filho

O segundo momento é o nascimento do primeiro filho. Muitos sentimentos se misturam nessa fase: alegria, incerteza, curiosidade, incapacidade, medo, enfim, preocupações diversas acerca de tudo o que acarreta a chegada de um novo, pequeno e frágil ser a este núcleo conjugal. Os cônjuges precisarão abrir espaço – e este espaço é mais do que físico, é um espaço na relação do casal, nas prioridades, no tempo, nos lazeres, na intimidade conjugal, nos projetos etc. Tudo muda, porque um novo ser passou a existir.

Inicialmente é um momento de muitos cuidados ao recém-nascido; a mãe fica sobrecarregada, tem a sua atenção muitas vezes voltada apenas para o filho, o que pode gerar um certo desconforto para o marido, uma vez que no primeiro ano de vida o vínculo da mãe com o bebê é muito estreito e forte. Por outro lado, a nova mãe também enfrentará as mudanças no seu ritmo de vida pessoal, conjugal e social. Se sentirá “excluída” dos compromissos sociais, posto que as necessidades do bebê são colocadas em primeiro plano; as mudanças ocorridas no seu corpo levarão algum tempo para suavizarem-se e a relação com seu cônjuge não será como antes, embora possa se tornar bem melhor.  

A função parental assumida pelo casal exige a aquisição de competências e habilidades para educar. É uma fase de grande aprendizado para os pais e para a criança. Educar é uma “arte”, uma constante “tentativa e erro”, e o mais importante para os pais, nesse momento, é fazer sempre o que acreditam ser o melhor. É imprescindível que os pais tenham uma certa maneira uniforme de educar e não se desautorizem frente aos filhos, pois isso pode resultar numa perda de hierarquia e a autoridade se torna frágil, bem como desorganiza a própria criança.

A chegada dos outros filhos é tão importante quanto a do primeiro e, embora a base estrutural que permite ao casal uma certa estabilidade funcional já tenha sido firmada, cada membro que chega é único e vai exigir da família uma reestruturação. Agora já não é somente o casal, mas a tríade, que se prepara para abrir espaço.

O filho chega à adolescência

Quando o filho chega à adolescência inicia-se uma outra etapa do ciclo de vida da família caracterizada pela “proposta discreta” dos pais para com os adolescentes, uma vez que estes estão num momento de irreverência, confronto e precisam quase “negar” os pais para encontrarem sua própria identidade. Esse é um momento crítico para o adolescente e para os pais de primeira viagem, pois essa fase é marcada não só pela crise de identidade do filho (quem sou eu?), mas também dos pais, que se perguntam: “Quem é meu filho? No que ele está se transformando? Por que não me escuta mais?! Por que não faz o que digo?!”…

Os pais devem buscar sempre o diálogo e serem “aliados” dos filhos nos conflitos próprios da fase: drogas, álcool, imagem corporal comprometida, introdução à vida sexual etc – Atenção!!! estas questões devem ser orientadas em casa mais do que na rua. Como em todas as fases do ciclo, é preciso uma nova reorganização familiar, pois o modelo da infância do filho já não lhe cabe mais. Interessante perceber como um só membro da família cria a necessidade de uma nova estrutura.

Quando o filho chega à idade adulta, novas fronteiras devem ser estabelecidas. Os filhos já são capazes de discordar dos pais com tranqüilidade, sem se sentirem culpados por sua maneira diferente de ver as coisas. Pouco a pouco vão se preparando para adquirirem sua independência financeira – embora esse filho adulto tenda a permanecer mais tempo em casa hoje, tendo sua saída de casa retardada pela intensa e desumana competitividade do mercado de trabalho. Essa nova aquisição pode deixar os pais inseguros em relação ao amor dos filhos, uma vez que estes já não dependem dos pais para quase nada. No entanto, a satisfação pela realização e conquistas que os filhos foram capazes de atingir supera a insegurança afetiva.

O “ninho vazio”

Enfim, com a saída dos filhos de casa, vem a famosa fase do “ninho vazio”: o casal se reencontra sozinho depois de muito tempo com os filhos entre eles. Esse reencontro pode ser prazeroso, caso eles tenham sempre cuidado da função conjugal, pois é esse o momento de curtirem os netos, de poderem acordar mais tarde, de viajarem sozinhos, de dedicarem-se a uma obra social etc..; ou “trágico”, caso percebam que se abandonaram e não se reconhecem mais, o que pode levar a uma experiência de solidão.

Essa fase conta também com as dificuldades da aposentadoria, o que pode gerar um sentimento de inutilidade e de exclusão – como estamos numa cultura construída com bases na produção, o idoso, por já ter cumprido sua tarefa, fica quase “fora” dessa sociedade; é tempo de encarar as doenças e de se preparar para a morte. Nesse período, o diferencial está na realização pessoal e conjugal que cada um dos cônjuges foi capaz de atingir na sua vida.

Nenhuma etapa de vida do ser humano e da família deve ou pode suprimir a responsabilidade pessoal que cada indivíduo tem de construir seu sentido de vida. Atribuir essa ou aquela responsabilidade a pais, filhos, genros, noras…sobre algo pelo qual só você pode responder, seria diminuir o valor e a contribuição que sua vida tem para a humanidade como um todo. A função da família passa pela formação de filhos de Deus maduros.

Para concluir, aproprio-me de um trecho do livro de Ezequiel que retrata com muita propriedade a responsabilidade pessoal de cada ser humano diante da sua missão particular: “Os pais comeram uvas verdes, mas são os dentes dos filhos que ficam embotados? Por minha vida – oráculo do Senhor Javé –, não tereis mais ocasião de repetir este provérbio em Israel (…) Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho” (Ez 18,1-30).

Quis Deus constituir a família como um sacrário para acolher seu Filho e nela prepará-lo para sua Missão. Que cada família siga o modelo da família de Nazaré, para que se cumpra no meio de nós a salvação do mundo, por meio do compromisso fiel de cristãos nascidos em famílias cristãs e conscientes da sua missão.


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