Por muitos e variados motivos o binómio trabalho-família, não se ajusta. Um dos motivos que opõem o trabalho e a família é a necessidade de ambos os cônjuges trabalharem por motivos econômicos. Sendo assim, muitos casais reduzem o número de filhos de tal modo que, actualmente, Portugal é o país da Europa com menor taxa de natalidade.
É certo que muitas vezes essa redução do número de filhos é feita por motivos egoístas e portanto reprováveis. Numa conversa ocasional, ao ver uma moça ainda nova a brincar na praia com uma criança pequena, meti-me com ela dizendo-lhe: “Que lindo é o seu menino”. A resposta deixou-me entre perplexa e desorientada. “A criança não é meu filho – a minha irmã teve que ir fora e eu fiquei a tomar conta dele; eu e o meu marido resolvemos não ter filhos – queremos liberdade para viajar sem nada que nos impeça”.
Um outro caso também é para dar que pensar. Uma senhora com grande empenho apostólico, declarou um dia para quem a quis ouvir: “tenho dois filhos e não quero mais; se tivesse mais filhos não tinha tempo para fazer apostolado!” Aquela senhora não sabia ou não queria saber que o maior apostolado que poderia fazer era ter o número de filhos que Deus quisesse – com eles poderia fazer todo o apostolado e praticar todas as obras de misericórdia: educar (fazendo assim apostolado), dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, consolar os que sofrem, etc. Tudo isto faz uma mãe com os seus filhos sem muitas vezes pensar nisso.
Ora atualmente no novo governo da Alemanha há uma ministra para a Família – Úrsula von der Leyen, de 47 anos – que é médica e mãe de sete, disse bem – sete filhos. Quer dizer que consegue conjugar, a família, com a profissão, com a política.
Interrogada se não lhe parecia uma provocação ser ministra e mãe de sete filhos, respondeu: “Eu e o meu marido tivemos que fazer sacrifícios nos começos da vida profissional, como médicos jovens no hospital, com turnos nocturnos e os filhos pequenos que requerem muita atenção, com fracos recursos económicos no princípio da carreira e muita inexperiência”.
É certo que muitas mulheres renunciam a ter filhos para poder viver uma certa emancipação no mundo laboral. Úrsula Leyen pensa que um modo de ultrapassar isso é transferir para os maridos uma parte dos encargos com os filhos. Felizmente que a repartição de tarefas nos casais com filhos e em que ambos trabalham fora de casa já vai sendo um lugar comum, o que facilita a resolução do problema.
Há empresários, a meu ver com visão retrógrada, que preferem contratar, sobretudo para lugares de chefia, mulheres e/ou homens solteiros, julgando que assim têm colaboradores com mais disponibilidade. Úrsula Leyen contesta dizendo: “As aptidões de liderança – capacidade de trabalho, de organização, sentido de responsabilidade – adquirem-se fundamentalmente, não na profissão, mas na família e em cargos não remunerados. Uma empresa que queira ter bons directivos que sejam humanamente ricos de valores, deveriam procurar pessoas que tenham tempo para ser também pai ou mãe”.
Muitas das legislações em vigor na maioria dos casos não facilitam essa visão. Assim Úrsula Leyen entende “que a política deve criar uma infra-estrutura variada e flexível que possibilite a atenção dos filhos, e procurar que a política econômica seja uma ajuda real na altura em que se têm os filhos, altura que costuma ser a mais crítica. Por isso, decidimos no governo conceder especial importância às famílias jovens, com especial atenção para as que têm filhos”.
Se houvesse esse cuidado poderia diminuir muito o absentismo, não fraudulento, mas por necessidade dos pais prestarem atenção aos filhos pequenos. Estou a pensar nos benefícios que teriam as grandes empresas se tivessem, em anexo, berçários e infantários, para os filhos dos seus funcionários. As licenças de maternidade podiam diminuir sem prejuízo das crianças – bastava que às mães fossem concedidos tempos ao longo da manhã ou da tarde para se deslocarem para amamentar os seus filhos. Esses berçários e infantários podiam beneficiar dos cuidados de um médico e pessoal de enfermagem, evitando que o pai ou a mãe tivessem de faltar para levar os filhos pequenos às vacinações ou consultas de rotina.
Mesmo que esses benefícios fossem pagos pelo trabalhador, todos ficavam a ganhar: o trabalhador porque não perdia o seu salário quando falta, a empresa porque não via, muitas vezes, interrompida uma cadeia de produção pela falta de um funcionário.
Fonte: Universo Católico