Formação

Tu me amas?

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João 21, 1-19

Lendo o Evangelho de João, entende-se que originariamente terminava como capítulo 20. Se foi acrescentado este novo capítulo 21 é porque opróprio evangelista ou algum de seus discípulos sentiram a necessidadede insistir mais uma vez na realidade da ressurreição de Cristo. Esteé, de fato, o ensinamento que se deduz da passagem evangélica, que aressurreição de Jesus não é só um modo de falar, mas que ressuscitou,em seu verdadeiro corpo. «Nós comemos e bebemos com Ele depois de suaressurreição dos mortos», dirá Pedro nos Atos dos Apóstolos,referindo-se provavelmente precisamente a este episódio (Atos 10, 41).

À cena de Jesus que come com os apóstolos o peixe assado nas brasas,segue o diálogo entre Jesus e Pedro. Três perguntas: «Tu me amas?»;três respostas: «Tu sabes que te amo»; três conclusões: «Apascentaminhas ovelhas!». Com estas palavras, Jesus confere de fato a Pedro –e segundo a interpretação católica, a seus sucessores — a tarefa desupremo e universal pastor do rebanho de Cristo. Confere-lhe esseprimado que lhe havia prometido quando disse: «Tu és Pedro, e sobreesta pedra edificarei a minha Igreja. E eu te darei as chaves do Reinodos Céus» (Mateus 16, 18-19).

O que mais comove desta página do Evangelho é que Jesus permanece fielà promessa feita a Pedro, apesar de que Pedro havia sido infiel àpromessa feita a Jesus de não o trair jamais, ainda à custa da vida(Mateus 26, 35). A tripla pergunta de Jesus se explica com o desejo dedar a Pedro a possibilidade de suprimir sua tripla negação durante aPaixão. Deus dá sempre aos homens uma segunda possibilidade;freqüentemente uma terceira, uma quarta e infinitas possibilidades. Nãoexpulsa as pessoas de seu livro no primeiro erro. O que ocorre então? Aconfiança e o perdão do Mestre fizeram de Pedro uma pessoa nova, forte,fiel até a morte. Ele apascentou o rebanho de Cristo nos difíceismomentos de seus inícios, quando era necessário sair da Galiléia elançar-se aos caminhos do mundo. Pedro será capaz de manter,finalmente, sua promessa de dar a vida por Cristo. Se aprendêssemos alição contida na forma de atuar de Cristo com Pedro, dando confiança aalguém depois de que ter errado uma vez, quantas pessoas menosfracassadas e marginalizadas haveria no mundo!

O diálogo entre Jesus e Pedro deve ser trasladado à vida de cada um denós. Santo Agostinho, comentando esta passagem evangélica, diz:«Interrogando Pedro, Jesus interrogava também cada um de nós». Apergunta: «Tu me amas?» se dirige a cada discípulo. O cristianismo nãoé um conjunto de doutrinas e de práticas; é algo muito mais íntimo eprofundo. É uma relação de amizade com a pessoa de Jesus Cristo. Muitasvezes, durante sua vida terrena, havia perguntado às pessoas: «Crês?»,mas nunca: «Tu me amas?». Ele o faz só agora, depois de que, em suapaixão e morte, deu a prova do quanto nos amou.

Jesus faz que o amor por Ele consista em servir os demais: «Tu me amas?Apascenta minhas ovelhas». Não quer ser Ele quem receba os frutos desseamor, mas quer que sejam suas ovelhas. Ele é o destinatário do amor dePedro, mas não é o beneficiário. É como se lhe dissesse: «Considerofeito a mim o que farás por meu rebanho». Também nosso amor a Cristonão deve ficar em um fato intimista e sentimental, mas deveexpressar-se no serviço aos demais, em fazer o bem ao próximo. A MadreTeresa de Calcutá costumava dizer: «O fruto de amor é o serviço, e ofruto do serviço é a paz».

Fonte: Site Frei Raniero Catalamessa – tradução Zenit


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