“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1Cor 6, 12). Esse versículo, o qual tanto já ouvimos, revela uma verdade da vida cristã: nossa liberdade tem limites. Mas seria isso uma contradição, então? Como é possível ser livre e ter limites?
É bem verdade que, na ótica do mundo, essa coisa de limites é totalmente ultrapassada. Nós, católicos, somos vistos como os radicais, quase que uns coitados, seguindo regras pesadas e sem sentido. Não somos livres, eles dizem. Mas o que é ser livre, afinal? É poder fazer o que quisermos? Não ter limites, certo?
No entanto, meu irmão, de início podemos perceber que essa liberdade não existe. Porque, querendo ou não, todos nós estamos sujeitos às regras sociais e jurídicas, no mínimo. Então, quem pode fazer o que quiser, na hora que quiser? Ninguém. É só pensar em todas as coisas que a lei nos proíbe, sob possibilidade até de perdemos a liberdade de ir e vir caso “não queiramos” fazer. Isso porque todo ser humano, devido a sua natureza, precisa de limites para que não vivamos no caos.
E aí vamos chegando ao ponto principal. Mais forte e relevante do que o âmbito social, temos a espiritualidade. Todo ser humano tem uma alma imortal, que, pelo pecado original, carrega como que uma mancha em si. A concupiscência nos faz optar pelo pecado. Dessa forma, quanto mais nos aproximamos das nossas vontades, quanto mais fazemos “só o que queremos”, mais nos aproximamos dessa natureza corrompida; e consequentemente, da nossa condenação.
Liberdade é poder optar pelo bem, e isso não é possível dando ouvidos à nossa carne. É o próprio Jesus quem nos fala: “Todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo”. Porque se não podemos optar pelo bem, já sucumbimos diante do pecado.
Não existe liberdade sem obediência. Quando eu, livremente, opto por fazer algo que está além das minhas vontades mais primárias, é aí que sou livre. Se tiramos a obediência, temos apenas a libertinagem, que o mundo vulgarmente chama de liberdade, mas nós sabemos que não é.
Esta é coisa mais comum de se observar, infelizmente: pessoas que, usando de uma suposta liberdade, se entregam a vícios e pecados dos quais não conseguem mais se livrar. Ouviram suas vontades, seguiram seus desejos, e agora vivem como escravas.
É por isso que nem tudo convém. É por isso que precisamos de limites. Essa liberdade que o mundo busca é utópica; a libertinagem, é vazia. Só em Deus somos verdadeiramente livres. Vivendo não em função das nossas vontades, mas daquilo que nossa razão e nosso coração nos conduzem. Essa é a vida que vale a pena.
Porque fomos comprados a um preço muito alto. Não nos deixemos enganar pelas confusões do mundo. “A maior liberdade que existe é servir a Deus”, dizia São Nuno de Santa Maria; que possamos encontrar a alegria e bem desfrutar da verdadeira liberdade, com devota obediência ao Senhor.