Ficção no comshalom.org
Acompanhe no comshalom.org o dia-a-dia da família formada por Poliana, uma baiana casada com um árabe cristão, seu esposo Amir e seu filhinho Rafael. Através desses personagens, você vai conhecer o Oriente Médio, seus costumes e sua tradição.
Naquela mesma sexta-feira, dia 13 de fevereiro, ainda meditando sobre a pergunta de Rafael (E você vai jejuar?) Poliana tomou consigo três sacolas plásticas de um lado, enquanto segurava o filho pela outra mão. Ele continuava com seus dois carrinhos de brinquedo, imaginando como fazer para brincar com eles usando uma mão só.
Poliana então saiu do supermercado russo, onde costumava comprar, cruzou a “Yosef Meyerhoff Square”, na vizinhança chamada “Kiryat Eliezer”, passou por todas as suas lojas e foi caminhando em direção ao estacionamento.
De repente, sentiu o telefone tocar e teve que fazer a maior ginástica para poder soltar a mão de Rafael, segurar as sacolas, abrir a bolsa que estava sobre o ombro oposto àquelas para por fim atendê-lo. Havia parado bem próximo ao beco que lhe dava acesso ao estacionamento e, assim distraída, se desatentou ao filho.
Foi quando Rafael viu um homem sentado, ao lado do banco (estabelecimento financeiro), pedindo esmolas. Tomou um susto! Nunca tinha visto aquela cena antes, pois, de fato, é raro encontrar pedintes nas ruas de Haifa.
Poliana desligou o telefone. Era Clarissa, consagrada da Comunidade Shalom de Haifa, perguntando se ela poderia levar “sementinhas” (sementes de melancia e girassol, castanhas, amêndoas, pistache, muito apreciadas como aperitivos quando se tem visita em casa) para o encontro da noite do qual participaria com seu esposo. Nesse encontro seria explicado para os missionários da referida comunidade como os “Melquitas” vivem a quaresma.
Chegando ao estacionamento, pôs as sacolas no banco traseiro do carro e quando foi sentar Rafael em sua cadeirinha especial para crianças e passar-lhe o cinto, deu por falta dos carrinhos de brinquedo.
– Rafael, onde estão os seus carrinhos?
– Dei pro homem na rua, mama – respondeu Rafael com simplicidade.
– Por que você fez isso, filho!? – indagou surpresa.
– Ele estava pedindo e era única coisa que eu tinha nas mãos. Pensei que poderia gostar de carrinhos como eu.
Poliana tomou outro choque e se enterneceu imediatamente. Sem saber bem o motivo, lembrou-se de uma frase que alguém da Comunidade Shalom havia lhe dito no grupo de oração: “um coração amante e despojado, isto o Senhor deseja nos dar”. E novamente, mal recuperada da pergunta de Rafael, se questionou sobre a generosidade do filho e a sua própria generosidade…
Pois é, santo leitor, vamos ficar por aqui hoje.
Poliana me repreendeu esses dias, pois disse-lhe que não poderia explicar nesse texto sobre o que é ser “Melquita”, como prometi no texto passado, então ela me disse para não prometer o que não posso cumprir!
Sobre isso e outras coisas, portanto, explicarei mais adiante, só não posso prometer quando! Tudo bem para você? Enquanto isso, quem sabe não podemos cultivar um coração simples, sem muitos cálculos, amante e despojado! “Quem ama não sabe calcular”, disse Santa Terezinha. Do que você vai se despojar nessa quaresma?
Um abraço e até a próxima
Thiago Freire