Vivemos uma constante sensação de insegurança. A gente sai de casa sem ter certeza se volta bem. A violência tem sido cada vez mais frequente em nossos noticiários e, infelizmente, no dia a dia. No entanto, há motivos para acreditar na paz: dentro de uma metrópole violenta, milhares de pessoas experimentam no Festival Halleluya um ambiente de tranquilidade, despreocupação, descontração e alegria. Isto foi no Brasil, isto foi em Fortaleza.
Chegando ao final do evento, constatamos pela vigésima segunda vez (é a 22ª edição) que não houve nenhuma ocorrência policial grave, graças a Deus. Você pode se perguntar: isso é real mesmo, como isso pode acontecer? Só a Deus podemos atribuir tal feito, porque acreditamos que é Ele quem deposita no coração de cada pessoa a semente dos valores humanos, do desejo pelo bem, pelo amor, pelo respeito, pela verdade.
Lembro aqui que as portas do Halleluya são e serão sempre abertas a todos e que acreditamos fortemente que é a atmosfera de amor que estabelece a paz no coração até de quem eventualmente chegou naquele lugar sem intenções de paz. “Aqui é o lugar onde todo mundo gostaria de viver, porque aqui tem paz. Eu queria morar aqui, porque parece que esse mundo de desrespeito e violência não existe. Parece que aqui é outra cidade”, diz Ronildo, que há três anos traz sua esposa e os dois filhos pequenos para o festival.
Vemos que as famílias trazem suas crianças, seus idosos. As barracas e colchões infláveis são uma diversão à parte para as crianças, que tentam enchê-los. Eles se sentem em casa e afirmam, como Renata, que foi chamada por vizinhos, “como gostaria que toda a cidade vivesse nesse clima, sem medo, sem ter que desconfiar uns dos outros sempre”. Os pais também nos confiam seus adolescentes de cabelos coloridos e jeans rasgados, da mesma forma, os seus familiares com deficiência, porque acreditam naquele lugar de paz, naquele oásis de paz.
Acreditar no Evangelho! Acreditar vivendo, anunciando, sofrendo, partilhando, esperando por dias melhores de forma atuante.
Refletindo sobre esse cenário que parece ter uma cidade dentro de outra, chego a duas conclusões animadoras, pelo menos, sob meu ponto de vista: a primeira é que ao contemplar 300 mil pessoas, ora pulando e cantando, ora absolutamente silenciosas por longos minutos, adorando a Sagrada Eucaristia, entendo que o coração do homem busca e realiza-se em fazer o bem. Todos ali, sendo de Igreja ou mão, queriam alegria, comunhão, espaço, acolhimento. Isso se manifestou na concórdia em que o evento transcorreu durante os cinco dias. Há terra boa no nosso coração para que os valores humanos sejam semeados, lancem raízes, suplantem os contra valores e produzam abundantes frutos.
E a partir desta constatação, o que fazer?
Segunda conclusão: acreditar no Evangelho! Acreditar vivendo, anunciando, sofrendo, partilhando, esperando por dias melhores de forma atuante, espalhando novas sementes todos os dias em cada pessoa encontrada, em cada ocasião que se transforma em areópago para proclamar que fomos feitos para uma vida que é feliz quando promove a felicidade do outro. Evangelizar com palavras e gestos de justiça e misericórdia, buscando reabilitar os que pensam que não querem o bem, ao invés de simplesmente condená-los sem oferecer uma oportunidade de terem sua dignidade resgatada. Fortaleza, por inteiro, pode ser um oásis, melhor dizendo, pode ser a Cidade da Paz. Na verdade, essa é também a missão da Comunidade Católica Shalom: transformar, através do Evangelho encarnado na minha vida e na sua, a sociedade em todas as suas expressões para torná-la mais justa e mais humana.
Como fazer da nossa cidade verdadeiramente nossa casa, onde nossos filhos possam brincar e correr livremente, onde as diferenças não sejam gritantes ao ponto de colocar em cheque a dignidade da vida humana, onde os poderes públicos também sejam vetores para a formação de uma sociedade humanizada, com princípios éticos e com oportunidades de crescimento para todos?
Bem, vou deixar com vocês as respostas para esses questionamentos, eu também vou procurar respondê-los e assumi-los no meu dia a dia para que a Cidade da Paz seja real e não apenas um ideal. Que o Bom Deus e Nossa Senhora da Assunção nos ajudem!
Shalom!