Formação

Um pouco sobre João Paulo II

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Falar sobre a vida e a pessoa de João Paulo II é algo notável e difícil de fazer. A vida das pessoas não cabe em páginas, muito menos a dele. Ao acompanhar a sua trajetória, desde a aparição da fumaça branca na chaminé do Conclave, no dia 16 de outubro de 1978, até hoje, é como mergulhar, ao mesmo tempo, em uma vida simples, mas profundamente complexa: cheia de amor, humildade, serviço, misericórdia e martírio.

As primeiras palavras daquele homem vestido de branco foram: “Seja louvado Jesus Cristo!”. Palavras que já demonstravam a direção para onde ele guiaria a nave da Igreja com firmeza e coragem.
Um homem cheio do Espírito Santo
Karol Wojtyla nasceu no dia 18 de maio de 1920, uma época de guerra entre a Polônia e a União Soviética, na cidade de Wadovice. Era muito amado pelos pais e seu irmão mais velho, por quem nutria uma grande admiração. Antes dos 21 anos já havia perdido toda a família. Nessa época, escreveu um poema lembrando a dor e Deus: “Sei que sou pequeno / Mas há outros menores que eu / Ele me escolheu, Ele me lança nas cinzas / Ele pode fazer isso – mas por quê?/ Por que fazer isso comigo? / Ele é o provedor”.

Sempre se destacou em vários aspectos; além do polonês, falava alemão, latim e grego; jogava futebol, amava a natureza e atuou como ator e roteirista em peças de teatro. Foi ordenado padre aos 26 anos, Arcebispo aos 43 e Cardeal aos 46.
Ao assumir a condução da Igreja, esposa de Cristo, percebemos que a assumiu também como sua esposa, por amor a Cristo e à humanidade. Por ela tem dado a vida, sem medir esforços nem impor limites. Iniciou seu pontificado manifestando o seu perfil de homem cheio do Espírito Santo, cheio da beleza que emana de sua vida santa e ofertada a Deus “sem volta”, proclamando aos homens: “Não tenham medo” diante da situação desastrosa e de destruição em que se encontra a humanidade. Dizia isto por saber que “existe Alguém que tem as chaves da morte e do além; Alguém que é o Alfa e o Ômega da história do ser humano. E esse Alguém é Amor, Amor feito homem, Amor crucificado e ressuscitado” (Ratzinger, 2000, p. 5).

Um homem que “conhece os homens e a Deus de perto”

João Paulo II é um homem abandonado à graça de Deus; possui uma “alma amadurecida na graça divina”, como todos aqueles que conhecem a Deus “de perto”. A posse da graça “espanta” todo o medo que queira dominar o coração e a alma do homem; mantém a alegria e preenche os corações que se sentem perdidos e solitários; tem a capacidade de transformar os corações medrosos em valentes, mais fortalecidos; reconforta os corações como se tivessem dormido uma noite de sono contínuo; devolve ao coração um “bocado” de nova esperança e força; suaviza a expressão de rostos amargurados com um sorriso repentino. A graça divina é a solução para o perigo do mundo. Ela nos oferece exatamente aquilo que procuramos.

É marcante neste exímio orador e grande intelectual, a simplicidade e a proximidade que ele mesmo estabelece com o homem. Todos os que se aproximam dele ou, pelo menos, desfrutam de sua presença, mesmo à distância, sentem-se acolhidos, amados, cuidados por ele como se fossem únicos. Milhares testemunham que sentem uma quietude tão profunda em sua presença, que alguns chegam às “raias” do desfalecimento.
O Papa compreende o homem a partir do amor e não a partir de abstrações e de princípios teóricos. É completamente envolvido com a situação do homem. Realmente, ele encarna sua vocação de pastor da humanidade. E tudo faz para revalorizar o homem, revelar sua altíssima dignidade, sua importância singular para Deus.

Esse olhar agudo que lança sobre o homem e o faz escolhê-lo com opção preferencial acontece em conseqüência de uma sensibilidade humana inigualável que o faz perceber o coração oprimido, mergulhado na dor por flechas que são atiradas de todos os lados, sem piedade.
O interesse pastoral do Papa pelo homem é marcado pelo desejo ardente que ele encontre Cristo, que assuma a filiação divina, pois somente assim navegará na correnteza da liberdade autêntica que o levará à felicidade e à realização plena.

Um homem de oração

Outro traço marcante do Papa é a sua vida de oração, sua comunhão com Deus e o amor a Maria. É a partir dela, sem dúvida, que todas as suas atitudes, pensamentos e sentimentos nobres florescem. “Provavelmente podemos conhecer melhor João Paulo II numa concelebração e quando nos deixamos atrair pelo intenso silêncio de sua oração, muito mais do que através da análise de seus livros ou de seus discursos. Isto porque, mediante a participação em sua oração, chega-se àquilo que é próprio de sua natureza, muito mais do que por meio de qualquer palavra” (Ratzinger, 2000, p. 7).

O atual sucessor de Pedro, João Paulo II, possui um pontificado que semeia uma peculiar fecundidade no meio da Igreja e da humanidade: destacado como o Papa peregrino pelas inúmeras viagens que realizou com o propósito de visitar os mais variados países, imbuído de levar palavras de conforto, direcionamento ou até mesmo para denunciar situações deploráveis, já somam 123 países, em 1,2 milhão de quilômetros percorridos. O esforço pelo diálogo ecumênico, a coragem de pedir perdão, os seus escritos, a sua empatia com os jovens, suas palavras de compreensão com os desvalidos e sofredores, para com os que estão abandonados, para com os que muitas vezes o interpelam com perguntas ou frases cheias de malícia e deturpações demonstram sua grandeza de espírito, revelando realmente ter sido “tecido por Deus no ventre materno”.

Um homem que sofre

O Papa pode entender a dor dos homens porque sofre, é marcado pela dor, é um homem doente. Somente um coração ferido pode entender e penetrar, sem machucar, nos corações feridos. Sua figura frágil, fortemente vilipendiada por tantos, não é empecilho para atrair milhares de pessoas, especialmente os jovens.
Seu corpo encurvado, a dor escrita em seu rosto, seu caminhar e falar com dificuldade, exercem um fascínio em incontáveis corações. Todos os que olham para ele e escutam suas palavras declaram que se sentiram envolvidos por uma atmosfera de fé, esperança e caridade, por um novo desejo de ser cristão, de seguir a Cristo até as últimas conseqüências; de olhar o mundo, tão sofrido, de uma forma bela; um novo gosto pela oração, pelo louvor, pela Palavra de Deus, pela Eucaristia e Reconciliação. É a sensação de cair o muro da insensibilidade em relação às dores, dificuldades e problemas dos outros; o reflorescimento da beleza de caminhar juntos, como uma grande família, de um sentimento forte de esquecimento de si para uma viagem em direção ao Reino dos céus.

Em sua vida cumprem-se as palavras de São Paulo: “É por isso que não desfalecemos. Ainda que se desconjunte o nosso homem exterior, nosso homem interior renova-se de dia para dia. A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se vêem, mas as que não se vêem. Pois as coisas que se vêem são temporais e as que não se vêem são eternas” (2Cor 4,16-18).

Um homem que se apóia na cruz

A livre valentia de Karol Wojtila, de inúmeras vezes apoiar-se no crucifixo, ensina-nos que na cruz está a nossa vitória; que nela está o nosso sustento; que nela podemos nos abandonar.
Olhando para ele, perdemos o medo da cruz, que teve seu significado mais profundo tão deturpado, até mesmo profanado. Através da figura do Papa percebemos a figura da Igreja, e por que não dizer, do próprio homem, porque nos revela o mistério que vai além da capacidade e habilidades humanas. Olhar para o Papa é ver que nele Cristo é o centro.
A coragem de não esconder o que se passa em sua vida e história, com certeza, nos ensina profundamente que “a nossa capacidade vem de Deus” e não de nós mesmos, de nossas forças e potencialidades, apenas.

Os que o desprezam por contemplar suas chagas, com certeza, não conseguem entender que a vida espiritual é muito mais concreta do que a vida material, do que a realidade que podemos ver e tocar.
Apoiado na cruz, ensina-nos também sobre a compaixão de Deus, que não tem limites nem reservas. É preciso nos colocar sob o olhar da misericórdia divina, pois o Pai nos ama, não desanima com as nossas quedas, não nos rotula; mas nos conhece como somos e crê em nós. Seu olhar sobre nós é de esperança, e neste olhar encontramos a nossa dignidade de homens e de mulheres. Essa atitude divina também nos exorta a ter, como Ele, compaixão pelos homens, nossos irmãos; a deixar ruir a centralização em nossas próprias dores que nos cegam completamente, para enxergar que a dor do irmão que está ao nosso lado é maior que a nossa e que nos cabe dar a nossa vida para aliviar o seu sofrimento.

Bendito seja Deus por João Paulo II, seu servo fidelíssimo! Bendito seja Deus pela Igreja, sua Esposa! Bendito seja Deus porque “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”! Bendito seja Deus pelos pecados, mas principalmente pela santidade da Igreja, gerada pelo sangue de Jesus derramado na cruz! Bendito seja Deus que instituiu o Papa como nosso pastor, a ele devemos honrar, amar e obedecer! Bendito seja Deus que instituiu a Igreja como nossa Mãe e canal de salvação!


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