Me chamo Rita de Cássia, sou jornalista, missionária da Comunidade Católica Shalom, e tenho 24 anos. Fui encontrada com dois dias de vida em um hospital e ali fui adotada. Recebi da minha mãe adotiva todo o amor do mundo e sou grata por todas as condições favoráveis que foram dadas para que eu descobrisse a minha vida e a minha vocação. Sou fruto da divina providência e do grande sim de algumas mulheres.
Não conheço a minha mãe biológica, mas trago em minhas veias o seu sangue e em meu coração uma profunda gratidão.
Sim, gratidão.
Eu não sei exatamente o que se passou em sua cabeça e em seu coração quando ela resolveu abdicar de me ver crescer. No entanto, sei que não deve ter sido uma decisão fácil. Gerar a vida e trazer um filho ao mundo deve ser algo que transforma completamente a vida de uma mulher. Eu sei disso porque sou uma.
Quando nasce um filho, nasce também uma mãe — para sempre. Por trás de todo nascimento, há uma trama silenciosa (e tentadora) de uma mulher que decide pela vida, mesmo diante de tantas opções mais fáceis e convenientes que o mundo e a medicina moderna oferecem. Se por um lado temos muitas tecnologias que ajudam na salvação do ser humano, por outro, estes mesmos engenhosos artifícios tecnológicos podem ser usados para uma cultura de morte.
Neste dia em que o aborto é tão debatido em nosso país, eu quero falar sobre o direito de nascer. Sim, nascer — e viver, são direitos invioláveis dados pelo próprio Deus quando Ele mesmo decide criar cada vida humana, cada pessoa. Antes de sermos tecidos e alimentados no ventre das nossas mães, fomos gestados no coração do Pai, que pensou em nós desde toda a eternidade. Isso é muito sério.
O projeto de uma vida não nasce somente quando ela começa a ter aspecto humano (físico). Nós temos uma dimensão espiritual profunda — e mais do que isso, uma característica filial indissolúvel: Somos filhos de Deus. Quem ousará, portanto, interromper a obra da Criação? Teríamos nós, tamanha autonomia?
Bom, a resposta, provavelmente, você já sabe.
Contemplo em minha vida hoje, o cumprimento de promessas eternas. Sou missionária: O meu chamado consiste em levar a paz para diversos povos e nações. Sei que a minha vida é um sim, um Fiat, um faça-se, que resistiu às circunstâncias humanas mais difíceis — circunstâncias que, para a glória de Deus, não foram mais definitivas do que a decisão da minha mãe pela minha vida. Que prova de amor eu tive…
À minha mãe biológica, deixo aqui o meu profundo agradecimento. Ah, mulher… sei que não deve ter sido fácil suportar a trama de uma circunstância tão séria e nova na sua vida como eu. Ver o desenvolvimento da carne de tua carne, sabendo que não iria poder vê-la para sempre. Eu sei que doeu. Eu sei que o seu sim à vida foi como uma espada que traspassou a sua alma. Mas mesmo assim, você levou a gestação até o fim.
Pelo seu sim, um novo sim nasceu para a missão: a minha vida. Pelo seu Fiat, a vida seguiu o seu fluxo com força, uma vez que as circunstâncias ruins não foram aspectos definitivos para que você interrompesse a gestação. Obrigada pela maior decisão de amor que eu poderia receber.
O seu rosto é desconhecido, mas a sua escolha definitiva (que sou eu), será conhecida por muitos povos e nações, que serão consolados e terão, por meio do Evangelho, a esperança que talvez um dia você não teve.
Aqui deixo também o meu recado a todas as mães que cogitam o aborto. Queridas filhas e irmãs: vocês não estão sozinhas. O mundo e todas as pressões que existem aqui fora vão lhes dizer que não será possível seguir adiante. Que vai ser inviável e que vocês não vão ser fortes o suficiente. Isso não é verdade. Vocês são bem mais fortes do que imaginam.
Hoje, como grata testemunha e como filha de quem optou pela vida, posso dizer: existe um mistério de Deus que ultrapassa toda a dor. Todo o medo, toda a angústia e todo o desespero.
Escolhe, pois, a vida. E ela será eternamente rendida aos teus pés: o sacrifício é o que te fará grande, forte e cheia de vigor. Coragem, querida mulher. Que o mundo não subestime do quê você é capaz por amor.
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