Dentre as fortes experiências de conversão e oração que tivemos na Renovação Carismática Católica e que mantemos como marcas indeléveis de nossa vocação, está a vida pessoal e comunitária de louvor a Deus. Neste ponto, identificamo-nos profundamente com São Francisco de Assis, que fez do louvor a um só tempo instrumento para a reconciliação do homem com Deus, consigo próprio e com a natureza e, conseqüência inevitável, sinal inconfundível desta reconciliação da qual brota a verdadeira Paz.
Além de inflamar nosso amor esponsal com seu grito de dor e amor: "O amor não é amado!", São Francisco vem enriquecer em nós o chamado recebido na Renovação Carismática: o louvor a Deus. Louvor no Espírito Santo, que ultrapassa fórmulas estabelecidas, que borbulha com novo cantar nas oração dos Salmos e da Igreja; louvor que engaja todo o nosso ser, o nosso corpo, nossas palavras, nossos pensamentos, nossa oração, nossa música e a celebração litúrgica.
O louvor, para nós, não é um "acontecimento possível" na oração pessoal e comunitária. É uma marca indelével da nossa vocação. Permeia nossa vida pessoal e comunitária nos momentos de oração, de apostolado, de serviço: "O louvor é a base de nossa intimidade com Deus. Nossa vocação é de louvar o Pai pelo Espírito, em Jesus Cristo. O louvor deve ser sempre algo forte em nossa oração, a base dela. Precisamos viver constantemente louvando a Deus, nos momentos de alegria ou dificuldade, em todas as nossas atividades, santificando-as, tornando-as forma de louvor, transformando nossas vidas, nossas atividades e lazeres em ação de graças Àquele que vive" (Regras de Vida).
O louvor une-nos à exclamação de São Francisco: "Quem és tu, Senhor, e quem sou eu?!", pois ao louvarmos reconhecemos a imensidão de quem Deus é e submetemos ao Deus Altíssimo toda a pobreza e limitação do nosso ser. O louvor coloca Deus em Seu verdadeiro lugar em nossas vidas e abre nossos coração para a pobreza, a obediência, a castidade, o arrependimento sincero. Desta forma, o louvor prepara-nos para a escuta de Deus, em submissão e desejo sincero de seguir Sua vontade, seja na oração pessoal ou comunitária, seja no estudo oracional da Palavra, seja no nosso dia a dia. Foi em louvor que Nossa Senhora expressou sua inteira submissão e obediência à vontade de Deus que lhe fora transmitida. Também esta é a nossa atitude ao reconhecermos Sua Majestade e nossa baixeza, sobre a qual ele "pousou os seus olhos" gratuitamente, como canta Maria em seu Magnificat.
A gratuidade do amor e da eleição de Deus para conosco nos enche o coração de gratidão e louvor. A mera lembrança da verdade explícita em nossas Regras, que afirmam não ter Deus escolhido os melhores, os mais capacitados, mas, pelo contrário, os menores, os piores, os mais pecadores, enche-nos o coração de louvor e gratidão ao nosso Deus.
A lembrança de nossa pequenez e da grandeza de Deus e a imensa gratidão pelas incontáveis dádivas que Ele nos faz, a partir da dádiva de si mesmo, leva-nos instantaneamente, ao louvor e à ação de graças.
A lembrança da escolha gratuita de Deus, de nossa pequenez e Sua imensidão levam-nos a um perene Magnificat, pois somos testemunhas das maravilhas que Deus fez gratuitamente em nós, Ele que é poderoso, cujo Nome é Santo, e que poderia não se importar com criaturas tão ínfimas como nós. O louvor, assim reconcilia-nos com Deus, opera em nós a obra de pacificação interior, renova em nós a alegria da salvação, coloca-nos diante do Deus Uno e Trino, do Deus Verdadeiro, nosso Pai, nosso Salvador e Senhor, nosso Santificador. Podemos experimentar esta graça de Deus a cada dia, em especial no momento da Eucaristia e da Oração Comunitária, seja no louvor da manhã, na oração da tarde ou na oração da noite. Todo o peso e o cansaço do dia se transformam em oblação de louvor e gratidão, em reconhecimento de que foi o Senhor o autor de tudo de bom que fizemos e é Ele a misericórdia que apaga os pecados que cometemos.
O louvor, assim, reconcilia-nos com Deus tanto comunitária quanto pessoalmente através do momento reservado à oração e à Palavra, mas também no transbordamento destes momentos nas nossas atividades e desafios diários. Cada um destes momentos é santificado e reconciliado com Deus e com a Sua vontade pelo louvor. Desta forma, o louvor no dia a dia nos pacifica, nos reconcilia conosco, com os homens e com Deus e nos leva a sermos instrumentos de pacificação e reconciliação dos homens e do mundo com Ele. Reconciliando-nos com Deus em nosso dia a dia, o louvor abre nosso coração para perceber a Sua voz e fazer a Sua vontade seja em nosso apostolado profissional ou familiar.
O louvor é um instrumento fundamental de reconciliação, salvação e pacificação do nosso ser e do mundo inteiro. "Estaremos vivendo nosso chamado (de discípulos e ministros da paz) na medida em que nosso coração estiver constantemente voltado em gratidão ao Pai em Jesus Cristo, (pelo Espírito Santo) por tudo o que Ele é e fez por nos. Em louvor, assim somos chamados a viver e ser – uma Comunidade Carismática de Louvor"(Regras de Vida).
Os carismas do Espírito Santo brotam, assim, espontâneos no nosso meio, como uma forma de louvor e em conseqüência dele. Assim, o louvor, além de instrumento de reconciliação e pacificação, é a chave que abre as portas do coração de Deus para o derramamento de Suas graças de salvação sobre nós. O louvor que nos abre aos carismas renova em nós, em obra conjunta com estes, o ardor, o fervor, o amor esponsal, as forças físicas e espirituais, curando-nos e nos aparelhando para o constante recomeçar de nossas vidas e apostolado. Reconciliados, curados, cheios do Espírito: assim somos se levarmos uma vida de louvor e se louvarmos o nosso Deus em nossa oração e em nossa vida.
Pelo efeito poderoso dos carismas em nossas almas, volta a brotar em nos o louvor, agora como sinal, como conseqüência da obra de libertação que Deus operou em nós. Quer no dia a dia, ao vermos situações concretas inteiramente transformadas pelo poder de Deus derramado através do louvor, quer na oração pessoal ou comunitária, os carismas do Espírito agem em todo aquele que crê e que une seu coração a Maria, aos anjos e santos no louvor a Deus. Os frutos não poderiam ser outros senão os do Espírito: a paz, a gratidão, a alegria, a caridade e mais louvor ainda. Somos, assim, chamados a viver extasiados diante da insondável bondade e assistência de Deus para conosco. Semente e fruto, instrumento e obra de Deus em nós, o louvor é inseparável de nossa vocação de paz e para a paz.
Assessoria Vocacional Shalom
Revista Shalom Maná