Todos se recordam da linda parábola do “Bom Samaritano” (Lc 10,29-37). O Bom Samaritano, que cuidou do seu inimigo ferido por assaltantes, é símbolo de Jesus e deve ser também símbolo da Igreja. Em uma palavra, nossa Igreja, e aqui quero me referir especificamente à nossa Diocese de Guanhães, deve ser uma Igreja Samaritana. Nós nos deparamos em nossas comunidades muito frequentemente com muitos “feridos”, “caídos”, machucados pela vida. Muitos encontramos nos caminhos da vida, outros vêm ao nosso encontro, batem à nossa porta. Qual a nossa atitude? Muitos padres e leigos são acolhedores, compreensivos, compassivos, verdadeiros “bons (boas) samaritanos (as)”. Louvamos a Deus por estes e estas. Jesus diz no evangelho que quando atendemos a um desses irmãos feridos, estamos atendendo a ele mesmo. Que bom para aqueles que assim o fazem! Estes têm a grande oportunidade de atender o próprio Jesus. Mas, infelizmente não são todos que vivem a atitude do Pai Misericordioso, mesmo sabendo que todos nós somos filhos pródigos, que todos nós somos “feridos”.
Nós estamos devagarzinho escrevendo nossas orientações sobre os sacramentos. Quero que a tônica seja a misericórdia, a atitude do Pai, a atitude Filho-Bom samaritano, Bom Pastor. As orientações sobre o batismo já estão prontas e sendo vivenciadas, mas tenho percebido que os corações de alguns padres ainda estão apegados à lei, não à graça, a normas e não a orientações misericordiosas. Uma Igreja Samaritana tem que correr o risco de errar, mas errar acolhendo, não batendo a porta às ovelhas já tão machucadas.
Exorto neste artigo a que nossos padres e leigos procurem todos os meios de se empenhar o máximo em abrir o coração para a acolhida. Padre nenhum foi feito para outra coisa. Ah! Eu fui feito para a Eucaristia! Muito bem! E a Eucaristia foi feita para alimentar o nosso coração com a atitude do bom samaritano. Quando falo “Bom Samaritano” não estou pensando apenas numa boa acolhida, mas todo o exaustivo trabalho de misericórdia que fez o “Bom Samaritano” para curar o “assaltado-ferido”, inclusive, investimento pessoal em dinheiro. Se a gente quiser resolver tudo a partir da secretaria paroquial ou do pedestal, onde muitas vezes nos assentamos, a gente estará muito distante do Pastor que vai atrás da ovelha perdida. E nós, principalmente a partir dos últimos documentos da Igreja, tomamos consciência plena de que nosso sacerdócio é empenho missionário em favor dos “afastados”, caídos, feridos e prostrados. Nos casos mais difíceis vamos abandonar as coisas secundárias que muitas vezes ofuscam o essencial. Precisamos buscar a ovelha perdida e trazê-la, se quisermos ser “bons samaritanos” ou “bons pastores”, trazê-la nos braços com todo carinho e ternura.
Que nossa Igreja não deixe passar o precioso tempo em que as ovelhas ainda nos procuram. Acostumamos com o sermos procurados nos nossos escritórios para exercermos a misericórdia. Jesus não tinha escritório, ele ia atrás. Não podemos negar que bitolamos num jeito antigo de exercer o sacerdócio e temos dificuldades de partir para o novo, de sairmos de uma Igreja paroquializada, sacramentalista e exercermos o ministério de “discípulos missionários a caminho”, de uma Igreja legalista para uma Igreja da graça, do encanto e da ternura. Numa palavra, é um imperativo para nós o sermos, no sentido mais radical, uma Igreja Samaritana.
Dom Emanuel Messias de Oliveira