1. A reorganização do ecumenismo
O Concílio Ecuménico Vaticano II confiou a tarefa ecuménica de modo especial aos Bispos. O Directório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo, por sua vez, recomenda a instituição de Comissões ecuménicas em todas as dioceses, e aos níveis nacionais e regionais, ou pelo menos a designação em cada diocese, de um delegado encarregado de promover o espírito ecuménico e os relacionamentos intereclesiais.
O Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos constatou com satisfação que apenas poucas Conferências Episcopais não dispõem de um Departamento ou Comissão para o Ecumenismo. Por outro lado, muitos dos questionários preenchidos recordaram que a acção de tais comissões ou delegados são limitadas. A este propósito, mencionou-se a falta de continuidade no desenvolvimento de projectos, a necessidade de uma potencialidade humana renovada e mais jovem entre aqueles que estão comprometidos na actividade ecuménica. A nível das dioceses, o quadro não é tão positivo: a falta de pessoas, de uma formação específica, de recursos tanto financeiros como de outros tipos significa que a acção ecuménica é muitas vezes deixada à iniciativa espontânea dos fiéis. Por outro lado, nalguns países reconhece-se a presença de florescentes grupos e associações de ajuda, formados por pessoas bem preparadas no campo ecuménico, activas na promoção da formação ecuménica nas várias dioceses, nas paróquias, nos seminários e nos grupos em geral. Deve-se prestar maior atenção à identificação de tais peritos e voluntários e ao desenvolvimento da sua formação.
No que concerne à adesão aos Conselhos de Igrejas, relevou-se uma mudança substancial nos anos mais recentes. Há quarenta anos, a Igreja Católica ainda não tinha aderido a nenhum destes Conselhos. Actualmente, do total dos 120 Conselhos de Igrejas existentes, ela é membro de 70, e participa em três dos sete Conselhos Regionais de Igrejas e em sete dos Conselhos Regionais de Igrejas, associados ao Conselho Ecuménico das Igrejas, de Genebra (Conforme os dados de que dispomos, relativos a Setembro de 2004, a Igreja Católica é membro integrante de três Conselhos Regionais de Igrejas: do Caribe, do Médio Oriente e da Região do Pacífico. A Igreja Católica é também membro de 14 Conselhos nacionais cristãos, dos Conselhos de Igrejas na África, de três na Ásia, dez na Oceânia, doze no Caribe, 25 na Europa, um na América Setentrional e cinco na América Meridional. Cf. “Inspired by the same vision”: Roman Catholic participation in national and international Councils of Churches, Apêndice E).
Um novo Documento, de próxima publicação, elaborado pelo “Grupo Misto de Trabalho” entre os representantes da Igreja Católica e do Conselho Ecuménico das Igrejas, apresenta uma análise das implicações e das formas de participação católica nos mencionados Conselhos, assim como algumas sugestões para enfrentar as dificuldades e os desafios que impedem a participação católica nalguns lugares.
2. A acção ecuménica da Igreja Católica a nível local
No que se refere ao diálogo, 42 das 83 Conferências Episcopais que responderam à sondagem do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos confirmaram a presença no seu território de estruturas permanentes de diálogo com as demais Igrejas e Comunidades eclesiais; 38 delas dispõem das suas próprias Comissões mistas de diálogo. No que diz respeito à recepção dos documentos de diálogo, somente 35 Conferências Episcopais evidenciam uma boa difusão dos resultados e um debate activo, com a publicação de vários subsídios. Algumas pessoas que preencheram o referido questionário mencionaram também certas iniciativas em curso, em vista de utilizar a Internet para a promoção do ecumenismo em determinados países, um aspecto que o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos tem grande interesse em desenvolver. No campo social, 44 Conferências Episcopais mencionaram a sua participação em actividades de cooperação com as outras Confissões. Também a este propósito, deve-se admitir que muito ainda pode ser realizado.
A necessidade de uma formação ecuménica mais idónea foi um dos temas realçados praticamente por todas as Comissões ecuménicas que responderam ao questionário. Ela deveria valer-se da presença e da contribuição de representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais. Com efeito, o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos formula votos a fim de que, onde for possível, esta formação seja cada vez mais realizada na colaboração. O Documento elaborado pelo Dicastério ecuménico em 1995: A dimensão ecuménica da formação de quem se dedica ao ministério pastoral, que oferece sugestões para um curso de ecumenismo e aconselha os subsídios para o organizar, não é suficientemente conhecido e ainda deve ser amplamente distribuído. Juntamente com a Congregação para a Educação Católica, o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos tomou a iniciativa de promover uma sondagem a nível mundial, junto dos Seminários católicos dotados do seu próprio “Studium” Teológico, das Universidades e das Faculdades de Teologia, para conhecer exactamente de que maneira se dispensa o ensino sobre o ecumenismo, e se se lhe tem prestado a atenção que ele merece no conjunto da formação católica. Actualmente, está-se a promover uma colecta de dados com a intenção de publicar, em seguida, os resultados da sondagem.
3. Algumas sugestões de reflexão sobre o futuro do ecumenismo
A consulta demonstrou que o grau de compromisso na tarefa ecuménica a nível local está a crescer de intensidade e de extensão em toda a Igreja. Num mundo globalizado, os cristãos de todas as Igrejas sentem o desejo de superar a sua situação de divisão. O ecumenismo espiritual conversão da mente e do coração a Jesus Cristo, oração conjunta pela unidade está a reunir à sua volta uma atenção cada vez maior. Os questionários ofereceram numerosas e positivas sugestões para a acção ecuménica futura, evidenciando três aspectos a considerar com urgência, tanto no contexto presente como em ordem ao futuro: 1) incluir as iniciativas ecuménicas nos programas pastorais orgânicos das várias dioceses; 2) promover a formação ecuménica dos leigos, dos religiosos, das religiosas, dos seminaristas, dos sacerdotes e dos bispos; 3) reflectir sobre os modos de enfrentar o problema do proselitismo agressivo.
Num mundo que passou por uma grande transformação nos anos que nos separam do Concílio Ecuménico Vaticano II, a abordagem católica ao restabelecimento da unidade está impregnada de um novo realismo. Resulta mais claro do que nunca que o ecumenismo só pode ser promovido a partir de uma sólida base doutrinal, e de um diálogo rigoroso entre os cristãos divididos.
Sobretudo, compreende-se mais plenamente que a obra em prol da unidade somente pode desenvolver-se no interior de uma espiritualidade convincente e profunda, de uma espiritualidade de esperança cristã e de coragem. O Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos formula votos a fim de que a comemoração do quadragésimo aniversário da publicação do Decreto conciliar Unitatis redintegratio tenha inspirado uma nova esperança e uma renovada coragem naqueles que são mais directamente responsáveis pela realização do compromisso ecuménico da Igreja.