Recentemente recebi em minha casa uma mulher bastante nervosa. Ela estava triste pois teve que tomar uma difícil decisão: após anos cuidando da mãe que sofre de Alzheimer, ela a internou numa clínica. Toda sua angústia estava na culpa por deixar a mãe em situação daquilo que ela chama de ‘abandono’. Embora fosse uma clínica renomada e frequentemente ela estivesse lá para visitas, dificilmente conseguiria superar tamanha culpa.
Se era algo tão tormentoso para ela, eu questionei o porquê da decisão. Ela baixou a cabeça e solenemente me confidenciou: – Estou cansada… E desabou a chorar.
Outra pessoa conhecida, após anos de terapia resolveu largar tudo e ao ser questionada disse peremptoriamente: – Estou cansada de tentar.
Creio que você entendeu que não estamos a falar de cansaço no sentido mais comum. Aquele que experimentamos após um dia exaustivo de trabalho ou o cansaço de uma criança após um bom tempo jogando bola.
Vamos abordar, o cansaço enquanto ‘esgotamento’ físico ou mental, como estado de constante sentimento negativo, capaz de interferir diretamente na condução da própria vida. Assim, qualquer momento decisório vira um tormento que expõe algo mais profundo: um ser desanimado, que se percebe impotente e interiormente desordenado.
Etimologicamente, a palavra “cansar” decorre originalmente de “fazer desabar”. É o que no latim se chama fatigari, formada por fatis, de origem desconhecida, seguida da raiz de agere, que significa “guiar, levar a”. Está associada à palavra Languidez, que veio do Latim languidus, “desinteresse, falta de energia”, de languere, “fraco, apagado”.
Associada à ideia de cansaço, temos a fadiga, a melancolia, o tédio e a própria tristeza. São expressões que remetem a uma mensagem do corpo: Algo não está certo, urge uma mudança.
Embora o cansaço não esteja necessariamente associado a algo negativo, não deve ser ignorado. Faz-se necessário um esforço pessoal para, numa experiência de autoconhecimento, não permitir que a vida seja orientada por ele.
Talvez você sinta um cansaço decorrente de questões de ordem física. Seu corpo tem um ritmo próprio, que frente às exigências da vida acaba sendo desrespeitado. Não respeitar os próprios limites corporais traz graves prejuízos. Um sintoma muito comum é a insônia ou mesmo um estado de sono agitado. Ficamos imersos em problemas com tamanha intensidade, que ficamos incapazes de nos afastar deles.
Não é raro também que passemos a reprimir o cansaço, mitigando clamores internos de que algo não está bem. Tratamos apenas de continuar a funcionar mecanicamente à custa de estimulantes como café.
Outra fonte de cansaço é de ordem psíquica. É a sensação de pressão constante, a busca obsessiva pelo perfeccionismo, a exigência desumana de sempre oferecer resultados excelentes. A lista de cobranças é grande… Talvez você se sinta cansado, também, por não perceber sentido naquilo que você faz, seja no campo profissional ou mesmo espiritual.
E os santos também ficavam cansados?
O tema do cansaço também consta das Sagradas Escrituras e da própria vida dos santos.
No Evangelho de Marcos, encontramos a narrativa de Jesus que demonstra um evidente cansaço frente à descrença dos discípulos: “Ó gente incrédula, até quando estarei convosco? Até quando terei de suportar-vos? Trazei-o aqui!” (Mc 9, 19).
Não é difícil compreender Jesus nesta situação. Ele já havia dado muitas provas de seu amor e seu poder mas, malgrado seu esforço os discípulos continuavam agindo como antes. Continuavam sem fé. Certamente você também, no afã de levar o melhor a alguém se esforçou muito para ajudar, mas acabou fracassando… Que cansaço, em ver todo esse empenho desperdiçado…
Neste trecho, colhemos uma preciosa lição: Jesus não se deixa vencer pelo desânimo e encontra, exatamente nesta situação desoladora, um estimulo ainda maior para reagir e voltar-se para aqueles que precisam dele.
Em outro momento, no Monte das Oliveiras, são os discípulos que demonstram enorme cansaço.
Enquanto Jesus está em oração, eles estavam “adormecidos pela tristeza” (Lc 22, 45).
Ratzinger, na obra ‘Jesus de Nazaré – da entrada em Jerusalém à Ressureição’ nos diz que “A sonolência dos discípulos permanece, ao longo dos séculos, a ocasião favorável para o poder do mal. Essa sonolência é um entorpecimento da alma, que não se alarma com o poder do mal no mundo, com toda a injustiça e com todo o sofrimento que devastam a terra(…). Mas, esse embotamento das almas, essa falta de vigilância, seja quanto à proximidade de Deus, seja quanto à força ameaçadora do mal, confere ao maligno um poder no mundo”.
O cenário de trevas, no qual muitas vezes nos vemos imersos, deixa-nos desnorteados. Uma tristeza muito grande se apodera do coração e ganha força esmagadora sobre qualquer ânimo. Sobra apenas a decepção da vida. Santa Terezinha, num momento de fadiga, testemunha que “Quando quero repousar meu coração fatigado das trevas que o cercam com a lembrança do país luminoso pelo qual aspiro, meu tormento redobra. Parece que as trevas, servindo-se da voz dos pecadores dizem zombando de mim…” (Manuscrito C – A mesa dos pecadores).
Em que pese esta ‘dormência’, foram apenas “momentos” e como tais foram notoriamente superados pois não resistiram ao choque da ressureição. Jesus torna novas todas as coisas.
A convivência com o cansaço
A partir da sabedoria dos santos e a tradição da vida espiritual, compreendemos que a primeira reação frente ao cansaço é… admitir que ele existe. Você – mesmo com os confortos e possibilidades da vida moderna – não é uma máquina. É restaurador permitir-se, por um instante apenas “existir”, experimentando de um auto acolhimento da forma como você se sente: apenas uma pessoa cansada. Sem cobranças, ou busca de resultados práticos.
Perceba seus limites. Você pode até, como inspiração de Santa Teresa de Jesus, colocar-se diante de um ícone de Jesus e permitir um encontro no qual Ele nos faz uma grande promessa: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês.” (Mt 11,28).
Associado ao cansaço, podem estar a preguiça, a tristeza e a fragilidade de caráter, alem da não aceitação da dor, da frustração e da rejeição, aliados à monotonia existencial.
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Módulo 1:Introdução à acídia na história da Igreja
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Módulo 3: Como se libertar da acídia
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Serviço
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