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Em algunsperíodos da nossa vida, podemos detectar em nós alguns dos sintomas da tibieza:a frieza, a apatia, o desânimo, a insatisfação com Deus e conosco mesmo, afalta de estímulos para a oração diária, e até mesmo a falta de forças paradecidir por algo ou desistir de alguma coisa. Se sofremos deste mal, háesperança para nós e o remédio é infalível: precisamos de um novo, belo e santoPentecostes!
É preciso, emprimeiro lugar, tomar consciência da nossa condição de necessitados de umarenovação constante do Espírito Santo em nossa vida. O clamor constante e aabertura necessária à ação da graça farão de nós homens e mulheres fervorosos,capacitados pelo Espírito a transbordar no mundo o amor infinito de Deus.
Uma alma tíbiaé uma alma morna, fraca, preguiçosa, desanimada e sem fervor. Esta “doença”traz sérias conseqüências, não só à nossa vida espiritual, mas a todas asrealidades da nossa existência. Ela é conseqüência do pecado e desenvolve-secom facilidade nas almas que não são muito amigas das renúncias, sacrifícios eorações. Mas pouco adianta dizer, simplesmente, que é preciso aplicar à doençada tibieza o remédio do fervor. Seria como dizer a um doente que o remédio paraele é a saúde, ignorando que este é o seu problema: a falta de saúde.
O únicoremédio contra a tibieza é o Espírito Santo, porque não existe verdadeirofervor se não for inflamado pelo fogo do Espírito. O pecado endurece o coraçãoe torna a pessoa indiferente a Deus. O Espírito nos aponta as raízes do pecado,fortalece-nos para a batalha, fecunda em nós os seus dons, purifica-nos, aquecee inflama o nosso ser.
O EspíritoSanto não se contenta em purificar-nos do pecado, mas prolonga a sua ação emnós até nos fazer “fervorosos no Espírito”. Comporta-se em nós como o fogoquando se apega à lenha úmida: primeiro a expurga, arrancando-lhe com barulhotodas as impurezas, depois a inflama progressivamente, até que se torne todaincandescente e ela mesma se transforme em fogo. Ele, que faz novas todas as coisas, querfazer fervorosos os homens tíbios.
Concretamente,isto quer dizer que o Espírito Santo nos preserva de cair na tibieza, e se poracaso já nos encontrarmos neste estado, livra-nos dela. É impossível sair datibieza sem uma intervenção decisiva do Espírito; se tentarmos fazê-lomergulharemos ainda mais no pecado do orgulho.
Olhemos paraos apóstolos antes de Pentecostes: eram tíbios, incapazes de vigiar uma hora,discutiam sempre sobre quem seria o maior, ficavam espantados diante dequalquer ameaça. Depois que o Espírito veio sobre eles como línguas de fogo,tornaram-se a imagem viva do zelo, do fervor e da coragem. Fervorosos nopregar, no louvar a Deus, no fundar e organizar as Igrejas e, enfim, nosacrificar a vida por Cristo.
Cirilo deJerusalém escreve: “Os apóstolos receberam o fogo que queima os espinhos dospecados e dá esplendor à alma”, e um escritor medieval escreve: “O Paráclitoque, em línguas de fogo, desceu sobre os apóstolos e os discípulos, descetambém sobre nós como fogo: para queimar e destruir a culpa, para purificar anatureza, para consolidar e aperfeiçoar a graça, para expulsar a preguiça denossa tibieza e acender em nós o fervor do seu amor” (Hermann de Runa, Sermões Festivos, 31).
Muitos santos passaram por um longo período de tibieza,mas nenhum deles foi santo sem ter sido encharcado, queimado, transformado pelopoder e ação viva do Espírito Santo.
“Passei nesse mar tempestuoso quase vinte anos, ora caindoora levantando. Mas levantava-me mal, pois tornava a cair. Tinha tão poucaperfeição que, por assim dizer, nenhuma conta fazia de pecados veniais. Setemia os mortais não era a ponto de me afastar dos perigos. Sei dizer que é umadas vidas mais penosas que se possa imaginar. Nem me alegrava em Deus, nemachava felicidade no mundo. Em meio aos contentamentos mundanos, a lembrança doque devia a Deus me atormentava. Quando estava com Deus, perturbavam-me asafeições do mundo” (Santa Teresa deJesus, Vida, 8,2).
Quando invocamos o Espírito, clamamos: “Vinde, EspíritoSanto, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vossoamor”, e ainda: “Aquece o que está frio”. Às vezes este clamor também é frio,porque fria é a nossa esperança. Em Ezequiel 37 temos outra imagem clara de umpovo tíbio: “nossos ossos estão secos, nossa esperança está morta”, mas é apoderosa ação do Espírito Santo que faz estes ossos secos retornarem à vida.
Como auxílio da graça, portanto, é possível sair da tibieza e passarmos dacondição de frios e temerosos a fervorosos no Espírito!
Bibliografia consultada:
Cantalamessa,Raniero. O canto do Espírito. SãoPaulo: Vozes, 1998.