Sendo a imagem e semelhança do Deus Trino, que é a perfeita comunidade de amor, o homem é chamado, desde a sua criação, a viver em comunidade. Por isso Deus criou homem e mulher, formando assim a família, primeira comunidade humana. Em meio a essa comunidade, o Senhor passeava todos os dias, “à brisa do dia” (Gn 3,8).
O homem, porém, pecou, quebrando a unidade com Deus e, conseqüentemente, a harmonia da vida comunitária. Desde então, tornou-se difícil para os homens viver em comunidade, pois havia em seus corações uma profunda resistência ao amor, à abertura, à doação e ao serviço, valores próprios da comunidade trinitária.
Com a redenção operada por Jesus Cristo, a descida do Espírito Santo em Pentecostes e o surgimento da Igreja, a vida comunitária torna-se novamente possível. E não só possível, mas uma realidade inerente à vida cristã. Tanto que o próprio Jesus, às vésperas de Sua morte, ora ao Pai, expressando o Seu maior desejo: “que eles sejam um, como nós somos um” (Jo 17,22).
Assim sendo, também nós, pelo simples fato de sermos cristãos, mas ainda por um desígnio particular de Deus, nos sentimos impelidos à vida em comunidade. “Para vivermos a nossa vocação, o Senhor nos constituiu comunidade, pois somente através da vivência da caridade para com Ele e os irmãos é que seremos reflexos de Sua paz para o mundo” (ECCSh, 11). Como vocação, compreendemos que a unidade é um presente que Deus nos deu, foi Ele próprio quem nos constituiu comunidade a fim de que, unidos, levemos a Sua Paz a todos os homens. A vida comunitária, que é antes um projeto divino que humano, existe para que possamos mais plenamente irradiar o nosso carisma para o mundo, levando a verdadeira Paz, o próprio Cristo, aos corações mais necessitados.
Mas essa unidade, que é sempre uma graça, não se vive sem uma autêntica vida de oração. É no encontro com Deus, fonte de toda caridade, que aprendemos a amar-nos mutuamente. Na medida em que vamos descobrindo e experimentando o amor de Deus por nós, mais queremos amá-lo e também amar os nossos irmãos, a quem Ele tanto ama. Esse amor, por sua vez, torna-se como um impulso para nos doarmos na vinha do Senhor, além de ser um testemunho vivo da força do Evangelho para os que não crêem. Em resumo, “o amor fraterno na vida comunitária é fruto concreto da nossa CONTEMPLAÇÃO e alavanca para a nossa EVANGELIZAÇÃO” (ECCSh, 13). Colhemos a paz na contemplação, a alimentamos na convivência fraterna e a transbordamos no apostolado.
O Senhor nos chama a viver aos moldes das primeiras comunidades cristãs, pondo “tudo em comum”. E isso “é dom do Espírito” (ECCSh, 12). É o Espírito Santo que nos capacita a compartilharmos nossos bens, nossas alegrias, tristezas, enfim, nossa própria vida. É Ele quem gera em nós uma unidade na diversidade. Pois somos irmãos de diversos lugares, cada um com sua cultura, seus gostos pessoais, seus costumes próprios, seus dons e carismas, unidos unicamente pelo amor a Deus, que gera em nós o amor mútuo.
Encontramos na Santíssima Trindade o modelo perfeito dessa comunhão de amor, bem como a fonte inesgotável da nossa vida fraterna. “Inseridos no seio da Trindade por meio do Coração traspassado de Cristo, nela contemplamos o Amor do Pai, bebemos do poder e da unidade do Santo Espírito e, enxertados nesse mesmo Cristo, somos enviados ao mundo para anunciar a Boa Nova da salvação” (ECCSh, 13).
“Assim, pelo poder do Espírito e pela vivência da caridade, nosso alvo é a santidade, não por presunção, mas por vocação” (ECCSh, 12). Sabemos que a unidade com Deus e com nossos irmãos é um caminho seguro de santidade, e é esse caminho que queremos trilhar, com a graça de Deus e o auxílio de tantos santos, que souberam tão bem cumprir o mandato do Senhor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12).
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