Sem dúvida, é-nos impossível trazer na mente e no coração a figura de Maria, sem nos sentir movidos ao seu amor, sem experimentar a necessidade de lhe demonstrar, procurando dar-lhe prazer e viver como verdadeiros filhos seus. Desse modo a vida “mariana”, isto é, a vida de intimidade com Maria, pode penetrar toda a nossa vida “cristã” e conduzir-nos à maior fidelidade no cumprimento dos deveres, porque nada pode agradar mais à divina Mãe do que ver os filhos cumprirem com amor a vontade do seu Jesus.
Por outro lado, a vida cristã vivida assim sob o olhar materno de Maria adquire aquela especial ternura e suavidade que nascem da companhia contínua da Mãe dulcíssima que rodeia de atenções os que a amam e a ela, confiantes, recorrem.
A verdadeira devoção a Nossa Senhora “não consiste… em estéril e passageiro sentimento… mas procede da fé verdadeira, pela qual… somos impelidos ao filial amor para com nossa Mãe e à imitação de suas virtudes” (LG 67). A imitação de Maria é justamente um dos principais aspectos da vida mariana.
Só Jesus é o “caminho” que conduz ao Pai, e nosso único modelo; porém, quem mais que Maria é semelhante a Jesus? Quem mais que Maria pode dizer que tem em si os mesmos sentimentos de Cristo? “Ó Senhora – exclama são Bernardo –, Deus habita em vós e vós nele… com a substância de vossa carne o revestis, e ele vos reveste com a glória de sua majestade” (De duod. Praerog. 6).
Habitando no seio puríssimo da Virgem, Jesus a revestiu de si, tornou-a participante de suas perfeições, infundiu nela seus sentimentos, desejos, afetos e vontades. Maria, por sua vez, abandonou-se inteiramente a ele e foi totalmente transformada nele, de tal modo que se tornou sua mais fiel cópia. “Maria – canta a Liturgia antiga – é imagem perfeitíssima de Cristo, pelo que bem podemos dizer que imitar Maria é imitar Jesus. Justamente por isso a Igreja a escolhe e a propõe como modelo.
Assim como não amamos Maria por si mesma e, sim, em relação a Cristo de quem é Mãe, assim também não a imitamos por si mesma, e sim, em relação a Cristo de que é a mais fiel imagem. Jesus é o único caminho para o Pai, e Maria é o caminho mais seguro e fácil para chegarmos a Jesus. Encarnando em si as perfeições do Pai, tornou Jesus possível a imitação de Deus; e Maria, tendo copiado em si as perfeições de Jesus, tornou-as mais acessíveis e as pôs mais ao alcance dos homens. Por outro lado, ninguém mais que ela pode dizer: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Cor 11,1). Como Jesus veio a nós por meio de Maria, assim é justo que os fiéis vão a Jesus por meio dela.
Extraído de: Madalena, Gabriel de Sta. Maria. Intimidade Divina. São Paulo: Loyola, 1988, pp. 373-374.
Fonte: Revista Shalom Maná