Eu era aquele típico jovem que não estava nem aí [para as coisas de Deus e da Igreja]. Minha mãe gostava da Igreja, e às vezes eu ia à missa, porém eu não tinha aquele desejo de seguir esse caminho como eu tenho atualmente. No início eu ia à missa aos domingos com minha mãe; já meu pai não gosta tanto de ir à missa, mas ele sempre deixou a gente bem à vontade para escolher o que a gente quisesse.
Foi em 2013 que aconteceu o meu encontro com Deus. Eu era aquele jovem que, mesmo muito cedo, já andava de carro, moto, etc., mesmo que ainda fosse praticamente uma criança. Eu também tinha acesso a amigos adultos que já sabiam mais sobre a vida do que eu. Enfim eu era bem livre: meu pai permitia, minha mãe também permitia, e assim ia.
Eu sempre passava em frente à igreja nas terças-feiras, e nesse dia era a missa dos homens. Eu via aquela situação e falava para mim “eu vou aproveitar a minha juventude e quando eu estiver velho eu vou para a Igreja, igual a esse senhorzinho”. E eu sempre dizia isso para mim mesmo apenas em pensamento, eu nunca verbalizei isso para ninguém.
“Eu falava para mim ‘eu vou aproveitar a minha juventude e quando eu estiver velho eu vou para a Igreja.”
Até que um certo dia, em 2013, um colega meu me chamou para o grupo de jovens. Era até um grupo que minha irmã gostava de ir. Porém eu sempre via o conflito entre meu pai e minha irmã: ele não permitia que ela fosse, por causa daquele machismo que alguns pais costumam ter. Mas esse meu colega me chamou – o nome era José -, era um encontro de planejamento e ele resolveu me chamar.
O momento da conversão
Nesse dia, eu tinha resolvido ficar em casa. Eu não queria sair: não queria sair de carro, nem de moto, nem de bicicleta (por que eu tinha os grupos de cada um: o grupo da bicicleta, o grupo do carro e o grupo da moto). Eu não queria ir porque eu lembrava do conflito entre meu pai e minha irmã e cheguei até mesmo a responder que eu não ia. Nisso, meu pai estava deitado na sala, ouviu e disse: “Danilo, o rapaz não está te chamando? Vá.” Eu estranhei, “Meu pai me mandando para o grupo de jovens?” mas em seguida pensei “Então eu vou.”
Um fato importante que é bom mencionar, é que meu pai sempre falava essa frase “homem não chora” e eu cresci com esse pensamento. Como ele era bem durão, às vezes ele batia na gente com a palmatória e falava “se chorar apanha mais”, então nós não chorávamos. Então nós crescemos dessa forma, com esse bloqueio.
Nesse dia eu fui para o grupo e começou a oração clamando o Espírito Santo, como sempre. Mandavam fechar os olhos, eu fechava; mandavam levantar as mãos, eu levantava; mandavam orar em línguas, eu repetia “Jesus, Jesus”, do jeito que meu amigo tinha me orientado, porque eu ainda não sabia orar em línguas.
Nisso eu comecei a sentir uma coisa diferente. Deus foi falando através do rapaz que estava conduzindo (o nome dele é Ivair): “Você acha que vai gozar da sua juventude, da sua fase adulta, e depois quando você estiver velho você vai vir para a igreja? Toma cuidado com a tua vida porque você pode não chegar lá”. Eu comecei a sentir um nó na garganta, e já estava prendendo o choro. Então ele continuou e proclamou outra coisa: “Você acha que homem não chora? Homem também chora.”
Quando ele disse a primeira proclamação, falando algo que eu nunca tinha falado nada a ninguém, eu já fiquei surpreso; na segunda proclamação ele disse outra coisa muito específica também, aí eu já pensei “não, espera aí”; na terceira vez, quando ele falou que homem também poder chorar, eu já estava com vontade de chorar. Naquele dia eu senti o abraço de Deus. Foi a primeira vez que eu tive uma experiência desse tipo e eu só chorava, chorava igual a uma criança.
O início da caminhada e os primeiros sacramentos
Nesse grupo eu comecei a trilhar um caminho, comecei a buscar as coisas de Deus e lá eu aprendi a rezar. Nisso eu estava sentindo o desejo de me batizar e de poder comungar. Desde cedo eu sentia esse desejo de comungar, mesmo sem entender o que era aquela vontade. Eu sempre via minha mãe comungando e eu perguntava para ela o que era aquilo. Eu só fui entender o que era isso que eu sentia no grupo de jovens. Então eu me batizei, já tarde, com 16 anos, fruto dessa minha caminhada com esse primeiro grupo. Graças a eles eu fiz meu batismo, primeira comunhão e crisma.
Depois disso, porém, eu abandonei e regressei a esse caminho com Deus muitas vezes. Não tinha a constância e a vida de oração que eu tenho hoje.
Então eu saí de lá de Sergipe, onde eu morava. Infelizmente muitos amigos daquela época morreram, outros estão presos. Na busca de uma vida fácil, muitos escolheram os mais diversos caminhos. Mas eu estou aqui, um sobrevivente: Deus me trouxe aqui, para me tirar daquilo. Eu não estava envolvido em nada grave, porém o caminho que eu estava seguindo poderia me envolver em algo indevido. Como exemplo, um colega morreu porque estava perto de um bandido: um cara foi matar o bandido mas, ao invés disso, matou ele. Essa foi uma perda muito significativa para mim.
Eu vim aqui, para o Ceará, e então Deus começou um novo processo em minha vida: Deus me separou daquelas pessoas e me fez viver algo novo. Aqui eu comecei a viver uma vida de oração com os Jovens Sarados de Brejo Santo- porém eu me afastei de novo. Passei um tempo afastado, até que finalmente fui resgatado por uma Quinta da Paz.
A Comunidade Shalom
A partir de então eu comecei a frequentar o Shalom mais vezes. Nessa mesma Quinta da Paz foi anunciado um Sábado da Pizza, eu fui; no Sábado da pizza foi anunciado outro evento, e fui também; e assim começou uma nova caminhada. Nessa época eu fui convidado a fazer o Acamps, mas infelizmente não deu certo eu ir. Porém eu percebi a importância de fazer um desses Seminários de Vida, então eu aguardei até que anunciassem o próximo.
Até que anunciaram que ia acontecer o the Way, que foi o Seminário de Vida para universitários, e esse eu participei. Entre muitas coisas que Deus me falou e confirmou, lá Deus me falou sobre os ídolos, sobre quem eu me espelhava. E eu tinha várias – não cantores ou artistas, mas pessoas “do mundo” que eu via como exemplo para mim. A partir daquele momento, porém, eu comecei a colocar o próprio Deus para ser o meu exemplo.
Por fim, na efusão, Deus também me fez lembrar todo o meu passado: quando ele me pôs na presença Dele; o grupo de jovens em Sergipe onde eu vivi muitos momentos alegres, porém eu tinha me afastado… Mas mesmo com esse afastamento, mesmo assim Ele me resgatou novamente, através do Shalom. Eu já tinha vivido a experiência da efusão, da oração em línguas e do uso dos carismas no primeiro grupo de jovens em Sergipe, mas mesmo assim, a efusão no The Way foi algo novo.
Entendendo a vontade e a condução de Deus
Hoje faço parte do grupo de oração na Obra e posso dizer que eu nunca rezei tanto como eu estou rezando agora. Tem uma passagem muito marcante para mim, Romanos 8, 18 que está inclusive na bio do meu instagram e do meu WhatsApp: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e vivem segundo seu propósito”.
Até então eu só tinha gravado a primeira parte “todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus”. Mas a partir do momento que eu comecei a viver segundo o propósito Dele, tudo começou a cooperar mais ainda. Além de amar a Deus também é preciso viver [segundo o propósito de Deus] – assim todas as coisas vão cooperar para o nosso bem – de uma forma tão generosa que só resta agradecer a Deus. Eu posso dizer que, do dia que eu cheguei no Ceará até hoje, eu só agradeço a Deus. Ele me trouxe aqui para viver um novo em minha vida, novo esse que eu estou vivendo agora.
Eu peço a Deus que essa constância continue. Quando eu participei do The Way, uma das moças que estava pregando falou sobre uma espécie de “liga” que ligava cada um de nós a Deus, e sempre que nós nos afastamos Deus nos puxa de volta. Depois dessa pregação, até hoje eu sempre peço a Deus “fortaleça essa liga para eu não sair mais da sua presença porque se eu sair… eu sei que eu não sou perfeito , nunca falei que seria, não nego o que eu realmente sou. Porém eu também não vou negar que eu estou no caminho da santidade, em busca da santidade. Essa santidade eu quero viver até o céu. Esse é o caminho certo – e eu sei porque eu já vivi o caminho errado.
Deus tem um novo preparado para nossos corações a cada momento, basta a gente querer. Tem que ser um sim sincero – e eu dei um sim sincero, e ele se fez presente na minha vida mesmo sem eu merecer e eu sinto a presença e o cuidado dele a cada dia.
Danilo Lisboa, vocacionado à Comunidade Shalom na missão Juazeiro do Norte