Por Dom Paulo Francisco Machado-Arcebispo de Uberlândia/MG
O título deste despretensioso artigo causará impacto nos leitores, uma vez que todo fiel sabe muito bem como comungar, entrando em comunhão com Jesus Cristo: Caminho, Verdade e Vida.
Lendo o sexto capítulo do 4º evangelho ficamos impressionados com as palavras de Jesus, afirmando ser Ele mesmo o verdadeiro Maná, descido do céu que se entrega a nós como alimento para nos comunicar a sua Própria Vida, Vida Eterna.
No decorrer dos tempos a Igreja não cessou de celebrar o Mistério Eucarístico e de recomendar aos seus fiéis que busquem na comunhão sacramental aquela força do alto para, na caridade, edificar a comunidade. É direito do batizado, que não sofra algum impedimento, receber a Sagrada Comunhão (CDC 912). É dever de todo fiel, ao menos uma vez por ano, por ocasião do tempo pascal, receber Jesus Sacramentado, após a devida reconciliação com Deus e a Igreja mediante o sacramento da penitência.
Agora vejamos: como comungar? – A maneira como nos acercamos da Eucaristia e a recebemos – lembremo-nos que não estamos a receber uma coisa, um pedacinho de pão – é clara demonstração de nossa fé. Dois profundos sentimentos invadem nosso coração. O primeiro é o de nossa profunda indignidade. Qual criatura, por mais santa que seja, é merecedora de receber o Senhor, nosso Deus? O segundo é o sentimento de alegria e gratidão, uma vez que o próprio Deus quis se entregar a nós, como alimento, para nos comunicar sua Vida, nutrindo-nos como a filhos queridos. Famintos, estendemos nossas mãos ao Senhor – “Como os olhos dos escravos olham para a mão de sua senhora” – e abrimos a boca como pequeno pelicano para receber o bocado do Corpo e da Vida do “Pio Pelicano”, Jesus Cristo. Como os cervos sedentos, aproximamo-nos para nos abeberarmos da Fonte da Vida. Discípulos amados, recostamos nossa cabeça no peito de Jesus, como conviva alegre a receber os bocados do verdadeiro Maná descido do céu.
As nossas atitudes externas irão expressar nossa fé uma vez que não pode haver contradição entre a nossa fé e a nossa oração.
Em procissão vamos receber a Eucaristia. Há duas formas de recebê-la, todas duas profundamente significativas, expressam a nossa fé. Em ambas formas, fica bem claro o reconhecimento de que a Eucaristia é um excelso dom que recebemos, é graça que acolhemos e não coisa, bem de que nos apossamos. Não tomamos a Eucaristia, mas a recebemos. Assim se exprime a Instrução Geral sobre o Missal Romano no n.º 160 “(…) Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si. (…).
O n.º 161 apresenta, com os negritos que chamam mais a nossa atenção, as duas formas dizendo: ” Se a comunhão é dada sob a espécie do pão somente, o sacerdote mostra a cada um a hóstia um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo. Quem vai comungar responde: Amém, recebe o Sacramento, na boca ou, onde for concedido, na mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a santa hóstia, consome-a inteiramente”. Até mesmo o diácono, se por acaso a celebração tiver a sua participação, há de receber das mãos do celebrante a comunhão sob as duas espécies. É o que reza o n.º 182 do mesmo texto. O n.º 244 será mais preciso, afirmando que o diácono recebe a comunhão, numa concelebração, após os celebrantes, das mãos do celebrante principal.
A comunhão na boca tem um belo sentido. É expressão da mesma bondade do Pai que alimenta os seus filhos como crianças. Não é nada indigno sentir-se, é até mesmo um belo sentimento próprio de filho de Deus, conforme nos ensinou Jesus o ser criança diante dos mistérios de Deus. Não nos preparamos para receber a Jesus balbuciando, como uma pequena criança, o nome do Pai: “Abba”? Somos como filhotes de pelicano a receber o Corpo do Senhor. Eu sempre gosto de imaginar Jesus Cristo, partindo os pedaços de pão e colocando-os na boca de seus discípulos, gesto que significa, amor profundo pelos seus.
Quanto à outra forma, recorro às instruções de um grande catequista que viveu no século IV e foi bispo de Jerusalém: “Ao te aproximares (da Eucaristia), não vás com as palmas das mãos estendidas, com os dedos separados; mas faze com a mão esquerda um trono para a direita como quem deve receber um Rei e no côncavo da mão espalmada recebe o Corpo de Cristo, dizendo: Amém”.
Imagino que terei causado mal estar a muitos leitores e serei logo taxado de rubricista. Meu propósito foi somente o de esclarecer como algumas atitudes exteriores, gestuais são formas de expressar a nossa fé no grande Mistério que celebramos e demonstrar amor para com o Corpo do Senhor. Nossa presença na Missa deve ser total: corpo, coração, alma. Aquele que bem recebe a comunhão certamente se empenhará em acolher o Espírito de Cristo que nos congrega na Igreja, Corpo de Cristo.
Fonte: Aquidiocese de Uberlândia