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Setembro Amarelo: Especialista discute cuidados na prevenção do suicídio

A vida é dom valioso que Deus deu a cada um de nós. Valorizá-la é acolhê-la e reconhecer o quanto somos amados.

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Foto: Pexels

Durante o mês de setembro, muitas campanhas de Prevenção do Suicídio são realizadas no Brasil e no mundo como forma de unir forças e trazer luz a este tema tão importante. Este ano, o lema da campanha é “Se precisar, peça ajuda!”.

De acordo com a última pesquisa feita pela OMS em 2019, mais de 700 mil suicídios são registrados por ano em todo o mundo. No Brasil, os números chegam a 14 mil por ano, em média 38 pessoas por dia.

A vida é dom valioso que Deus deu a cada um de nós. Valorizá-la é acolhê-la e reconhecer o quanto somos amados. Para discutir esse tema, entrevistamos a psicóloga Liza Studart, especialista em suicidologia e consagrada da Comunidade de Aliança Shalom, para esclarecer pontos importantes sobre os cuidados na prevenção do suicídio.

Sinais de alerta

“Quando estávamos em pandemia, foi divulgado infinitas vezes quais seriam os sinais de alerta para a COVID-19 e, só após percebermos esses sinais, nos era indicado irmos ao hospital. Acontece que vivemos em uma pandemia silenciosa do suicídio. Todos os dias, inúmeras pessoas morrem por suicídio no mundo e, muitas vezes, sequer sabemos que elas estavam passando por algum tipo de sofrimento. Pois bem, os sinais de alerta podem ser divididos em comportamentos de risco e frases de alerta.”

Comportamentos de risco

“Os principais comportamentos de risco são: Sintomas depressivos (isolamento, tristeza profunda e sem motivo), mudanças no humor, sono e apetite, tentativa de fazer as pazes com as pessoas ou de se desfazer de objetos importantes.”

Frases de alerta

“As principais frases de alerta são: ‘Eu não aguento mais’, ‘Eu preferia estar morto’, ‘Jesus já poderia me levar’, ‘Eu queria dormir e não acordar mais’, ‘Os outros vão ser mais felizes sem mim’.”

Formas de prevenção

A melhor forma de prevenir na população geral é criando espaços de diálogo. No estudo de suicidologia, tem uma frase muito utilizada na ajuda a pessoas com risco de suicídio: ‘Falar é a melhor opção’. Para quem está passando por um momento difícil, sempre recomendamos que a pessoa fale e expresse seus sentimentos, principalmente com um profissional. Então, de forma geral, a melhor forma de apoiar alguém em um momento difícil, é estar disponível e disposto a escutar o outro de forma aberta e livre de julgamentos, acolhendo o que ela trouxer, seja o choro, a história, a raiva ou até mesmo o silêncio. E claro, sempre incentivar a pessoa a buscar o profissional de psicologia para que haja um suporte mais assertivo.”

Quebrando estigmas

“Vale ressaltar que é importante também nos livrarmos de certos estigmas sobre esse assunto. Quando falamos de suicídio, falamos de uma pessoa que estava em sofrimento extremo. Por isso, sempre que alguém próximo a você relatar que quer tirar a sua vida, acredite no que ela diz! Esteja aberto e entenda que, por mais que para você a pessoa não deveria estar sofrendo dessa forma, a própria pessoa não está sabendo lidar com aquela situação. É algo insuportável para ela, a ponto de pensar em suicídio. Você não precisa concordar, mas, diante de sofrimentos extremos, é necessário saber acolher e ajudar a pessoa a encontrar um profissional de psicologia.

> Confira nossa página especial “Como lidar com o suicídio?”

Como dar sentido à vida depois de um tentativa de suicídio?

“O sentido da vida é algo muito único e pessoal. Podemos aqui dar algum vislumbre de coisas e situações que podem auxiliar nessa descoberta da pessoa! Viktor Frankl, o criador da Logoterapia, trouxe um conhecimento não visto antes. Adianto aqui que o sentido da vida, pode ser algo grande que reja sua vida, mas também ele falava de pequenos sentidos que podem ser realizados no dia a dia.

Os 3 caminhos de valores na busca pelo sentido da vida, segundo Viktor Frankl

“Frankl trouxe que existem caminhos de valores que, ao serem trilhados, podemos realizar sentido. São 3 tipos de valores: os criativos, os vivenciais e os de atitude.

Os valores criativos são aqueles que a pessoa entrega seus talentos para o mundo, por exemplo, o seu trabalho, uma pintura, escrever uma música.

Os valores vivenciais são aqueles que a pessoa recebe do mundo, como contemplar um pôr-do-sol, apreciar uma peça de teatro, viver experiências de amor com outras pessoas.

Por último, existem os valores de atitude são aqueles que podem ser vividos quando uma pessoa toma uma postura, uma atitude, diante de uma situação que não pode mudar, mesmo que seja de sofrimento.

Esses são os 3 caminhos de valores propostos por Viktor Frankl. Por meio de cada um deles, podemos encontrar sentido no nosso dia a dia.”

O papel da família e dos amigos

“Essencial. Recentemente, terminei meu mestrado e eu estudei especificamente sobre o apoio social, ou seja, os amigos, familiares e pessoas importantes para alguém que está em sofrimento extremo. Uma das conclusões tiradas, é que ter uma rede de apoio que realmente dê suporte emocional, que saiba acolher e que não julgue ou menospreze a dor do outro é algo que pode mudar completamente a decisão daquele que procura tirar sua vida.

Do contrário, ter pessoas ao redor, sejam amigos ou familiares, que não dão suporte, que criticam e que não acreditam no sofrimento do outro, é considerado um fator de risco para o suicídio, ou seja, aumenta a probabilidade daquela pessoa de tentar tirar a vida.

Portanto, é importantíssimo que haja um diálogo cuidadoso com essas pessoas, principalmente com os familiares, para que saibam e consigam ser um apoio.

Destaco ainda que todos aqueles que cuidam também precisam de cuidados. No meu estudo, vi também pais, irmãos e amigos extremamente frágeis e cansados de estarem na posição de cuidador. Realmente, pode ser um trabalho desafiante cuidar de alguém que esteja com ideação suicida.

Por isso, você que se vê nessa situação, procure ajuda também. Um psicólogo pode orientar ao que fazer e pode também te escutar e auxiliar sem julgamentos.”

A importância da vida espiritual na prevenção do suicídio

“Existem incontáveis estudos que comprovam a importância da espiritualidade na prevenção do suicídio. De modo geral, muitas religiões atuam também como um pilar de sustentação para a pessoa. Isso porque, na maioria das religiões, a pessoa se sente acolhida, cuidada e protegida. Além disso, nas igrejas a pessoa encontra um lugar em que pode ser útil.

Um dos principais sentimentos que essas pessoas podem ter, é o sentimento de se sentir incapaz e inútil. Ter um lugar que ela pode assumir funções, pode trazer também esse sentimento de sentir-se capaz. Isso por trazer sentido para a vida dela.

Falando da religião católica, algo que também é perceptível, é que as pessoas geralmente encontram o macro sentido de suas vidas, ou seja, elas conseguem vislumbrar coisas que transcendem a vida delas no relacionamento com Deus e encontram sentido no ‘ser santo’, ‘encontrar-se com Deus’, ‘amor a Deus e aos irmãos’.”

Se precisar, peça ajuda!

“Em meio a um mundo que não quer falar ou lidar com o suicídio, tenho um forte desejo de quebrar aos poucos essas bolhas e ser alguém que realmente ajuda quem está precisando.
A dor do desespero é inigualável e ninguém jamais deveria ser menosprezado por isso. Precisamos com grande urgência dar passos mais largos de prevenção do suicídio e promoção da saúde mental.

Concluo dizendo: falar sempre é a melhor opção. Caso você esteja precisando de ajuda, não hesite em procurar. Você merece ser escutado em suas dores.”

Os missionários da Comunidade Católica Shalom estão disponíveis para te ouvir através do WhatsApp: Clique aqui e fale com um missionário!

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