Frei Gabriel de Santa Maria Madalena, OCD
Como o jovem Samuel, de que fala a Bíblia, deve o cristão estar sempre pronto para qualquer chamado de Deus. Na verdade, porém, difícil é, por vezes, reconhecer a voz do Senhor. Reconheceu-a Samuel só depois de ter sido iluminado pelo sacerdote Eli, a quem recorreu e que lhe sugeriu o modo de se comportar: “Presta atenção! Se te chamar ainda, dirás: ‘Falai, Senhor, porque vosso servo escuta’” (1Sm 3,9). Mesmo quando chama Deus diretamente a pessoa, quer que ela, para ser iluminada a respeito do sentido desse chamamento, recorra à Igreja, que tem a missão de reconhecer e interpretar as inspirações divinas. Suposto isto, a disposição de fundo para acolher o chamado de Deus são a prontidão e a disponibilidade, assim como o desejo de conhecer e seguir o Senhor.
Exemplo típico oferece o Evangelho na vocação de João e de André. Não são chamados diretamente por Deus, mas por meio do Batista, mestre deles. Ouvem-no dizer, certo dia, referindo-se a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36); nestas palavras reconhecem o anúncio do Messias tão esperado e imediatamente o seguem. Querem conhecê-lo, saber onde mora, vão com ele: “E ficaram com ele aquele dia” (ibidem, 39).
Comovem-nos a retidão e o desinteresse do Batista, que não se preocupa de fazer prosélitos, mas de anunciar-lhes o Messias, guiá-los ao Messias, plenamente fiel à sua missão de “voz” que prepara os caminhos do Senhor (ibidem, 23)! Em seguida, desaparece no silêncio. Mas comove-nos também a prontidão com que João e André deixam o antigo mestre e seguem a Jesus. Souberam que é o Messias e isto basta para o seguirem e procurarem atrair outros a ele, como faz imediatamente André, chamando o irmão Simão.
Cada cristão é chamado – segundo seu estado de vida – ao seguimento de Cristo, à santidade, ao apostolado. “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo?” (1Cor 6,16); exatamente porque é membro do Corpo místico de Cristo, deve o cristão ser santo e seguidor de Cristo. Como o membro impuro, assim o cristão não santo desonra a Cabeça e prejudica todo o Corpo. Ao contrário, o membro santo honra a Cristo, ajuda na santificação do Corpo da Igreja e colabora com o próprio Cristo na salvação dos irmãos.
“Como sois bom, ó meu Senhor Jesus, em querer trazer este nome de Cordeiro de Deus, que significa serdes vítima como o cordeiro e manso como o cordeiro… e que pertenceis a Deus, isto é, tudo o que fazeis, por Deus o fazeis!
Somos também nós vítimas segundo o vosso exemplo, ó amantíssimo Jesus, vítimas por vosso amor, holocaustos que ardem em vossa honra, por meio da mortificação, da oração, entregando-nos à absoluta renúncia de nós mesmos, por vós só, esquecendo-nos, do modo mais radical, e dedicando todos os nossos instantes ao esforço por vos sermos agradáveis o mais possível…
Devemos ser como vós, ‘vítimas pela redenção de muitos’, unindo, pela santificação dos homens, nossas orações às vossas, mergulhando-nos, segundo o vosso exemplo, na mortificação, para ajudar-vos eficazmente na vossa obra redentora, pois que o sofrimento é a condição indispensável para fazer o bem ao próximo: ‘Se o grão de trigo não morre, não produz fruto’…
Ó Jesus, vossa primeira palavra aos discípulos foi: ‘Vinde e vede’, isto é: ‘segui-me e observai’, ou: ‘contemplai e imitai’… A última foi: ‘Segui-me’… Quão terna, suave, salutar, amorosa é esta palavra! ‘Segui-me’, isto é, ‘imitai-me’!… Que há de mais agradável que ouvirmos tais palavras dos lábios de quem nos ama? Que há de mais salutar, já que está a imitação assim tão unida ao amor?” (Charles de Foucauld, Meditações sobre o Evangelho, Obr. Esp. pp.194,200,201).
Extraído de: Madalena, Gabriel de Sta. Maria. Intimidade Divina. São Paulo: Loyola, 1988, pp. 460-461.