Todos os dias o Papa Bento XVI aparece na televisão. Os noticiários disputam apresentar o que ele vai comer e o que vai beber, a cama e os lençóis que vai usar. Não escapam nem as taças e os pratos. Espero que de tanto comer os doces tradicionais, as comidas típicas e de tanto experimentar os vinhos latino-americanos, ou mesmo brasileiros, não passe mal. A mídia reconhece que é um homem simples. Graças a Deus. De outra forma era mesmo para ficarmos preocupados.
Pessoalmente não estou muito interessado no cardápio do Papa. Prefiro pensar no que vai dizer e fazer. Prefiro entender o que ele representa e a verdadeira razão da sua vinda ao Brasil. Ele vem para trabalhar e não para passear, vem em missão e não para se lambuzar. Ninguém é de ferro, é verdade, mas, no caso do Papa, certos detalhes estão mais para fofoca de salão do que para notícia.
É muito mais fácil para os noticiários falar sobre o que o Papa gosta de comer e de beber do que falar daquilo que ele ensina e que, às vezes, repete e insiste, sem que as suas palavras recebam a atenção que mereceriam. Sinceramente, não sei se as notícias, que estão sendo veiculadas sobre o Papa, estão ajudando ou atrapalhando. Ele deve estar consciente de que pode ser trocado por uma figura folclórica, um super-homem ou um anjo caído do céu.
O Papa não precisa disso, muito pelo contrário. Ele precisa ser ouvido, entendido, quando fala de paz, de justiça, quando convida os jovens a seguir a Jesus, sem medo de arriscar as suas vidas, porque vale a pena servir ao Senhor e aos pobres com amor e por amor. É muito mais fácil reduzir o Papa a um bom velhinho de cabelos brancos, que refletir sobre o esforço sobre-humano que ele faz para chamar a atenção sobre assuntos gravíssimos e polêmicos como o valor da vida, o perigo do aborto, a tristeza dos casamentos desmanchados, a exploração das crianças e das mulheres, a fome e a violência no mundo. Este Papa, também, insiste muito sobre o uso da inteligência humana, porque somos seres pensantes e enaltecemos a nossa natureza quando sabemos usar essa prerrogativa. Por que temos preguiça de refletir e deixamos que outros pensem por nós?
Alguns dizem que, como cristãos e católicos, deveríamos defender mais o Papa. Não para fazer uma cruzada pontifícia, mas para que sejam mais honestos os que exploram a popularidade dele para aumentar a audiência das suas emissoras. Deveríamos reclamar e exigir desses canais que passem sempre “objetivamente” as palavras dele e não somente quando alguém as contesta ou simplesmente pensa diferente. Essas pessoas têm todo direito de ter as suas convicções, mas depois não peguem carona com a popularidade de Bento XVI. É incoerência. Se a mensagem que ele teima em anunciar é tão fora de moda, é tão duvidosa, por que todo esse interesse?
Vamos precisar ter paciência. Daqui a alguns dias saberemos quem vai querer ver o Papa porque acredita na missão dele e quem só vai atrás do barulho. Quando se apagarem as luzes do evento, saberemos o que vai ficar mesmo nos nossos corações, na memória do povo de Campo de Marte e de Aparecida, nos olhos dos jovens do Pacaembu. Tenho certeza que muitos continuarão a cantar: Bento, bendito que vem em nome do Senhor. Bem-vindo, bem-vindo! Nosso povo te acolhe com amor.
Dom Pedro José Conti,
Bispo de Macapá (AP)
Fonte: CNBB