O mês de maio é dedicado, no mundo inteiro, à Maria, nossa mãe e mãe de Jesus. É fácil entender por que foi escolhido este mês. Na Europa é primavera, a estação das flores, e Maria é a flor mais bela que floresceu no jardim de Deus. Os Padres da Igreja chamam Maria de “chave de ouro”, que fecha o Antigo Testamento e abre o Novo. Ela, como toda mulher judia, esperava ansiosamente a vinda do Messias; suplicava ao Senhor que fizesse brotar da raiz de Jessé o novo rebento: o Salvador.
Na escola de Maria, aprendemos o segredo da vida. Com ela, abrimo-nos à força do Espírito Santo e imitando-a sabemos reconhecer a vontade do Pai, que nos chama a encarnar a Palavra de vida. A presença de Maria não é supérflua na teologia católica nem na vida do cristão. Nunca a humanidade agradecerá suficientemente a Maria por ter pronunciado o seu “sim” à missão que o Pai lhe confiou de ser a mãe de Jesus. Teremos uma dívida que não pode ser quitada e a única maneira que há de diminui-la é amar Maria e fazê-la conhecida e amada por todas as pessoas.
O cristão do terceiro milênio será alguém que irá aderir cada vez mais a Jesus pela mediação e intercessão de Maria. Não devemos temer que o nosso amor a Maria diminua o nosso amor a Jesus. Eu não sou teólogo, mas ouso dizer que me parece impossível ser seguidor de Jesus sem ter amor a Maria e tributar o culto que lhe é devido. Depois do Concilio Vaticano II, lentamente, a lgreja voltou a descobrir a presença de Maria, tanto na instituição, quanto na vida pessoal do cristão. Quantos de nós não se recordam dos belíssimos discursos mariológicos do Papa Paulo VI? Devemos também ser agradecidos ao Papa João Paulo II – cujo lema do pontificado é “Totus Tuus”*, dedicado a Maria – pela encíclica “Mãe do Redentor”, na qual nos apresenta Maria como a peregrina que abre os caminhos da fé e que nos conduz ao caminho santo da intimidade com Jesus.
Ninguém conheceu tanto Jesus como Maria e ninguém conheceu tanto Maria como Jesus. A Jesus, devemos pedir que nos faça conhecer cada vez mais Maria, sua mãe que Ele nos confiou do alto da cruz quando disse a João: “Eis aí tua mãe” (Jo 19,27). E a Maria, devemos suplicar que nos faça conhecer Jesus, que trouxe no seu seio, que ensinou a rezar com coração humano, que iniciou no conhecimento do relacionamento humano e que levava, junto com José, anualmente, a Jerusalém para celebrar a Páscoa (cf. Lc 2,41).
Na escola de Maria…
Maria ensinou mais com o exemplo do que com as palavras. Ela nos mostra a docilidade plena e total ao projeto de Deus. É a mulher da espera dos tempos messiânicos e sabe que tem a sua parcela de responsabilidade para que o “kairós” da redenção aconteça: rezar e suplicar ao Senhor que não demore a enviar o Messias.
Maria nos ensina como se acolhe a Palavra de Deus. 0 evangelista Lucas, chamado “evangelista de Maria”, não satisfaz a nossa curiosidade. Não nos diz quando nem onde Maria nasceu. Nem o nome de seus pais. Sabemos que a Igreja celebra a festa dos pais de Maria no dia 26 de julho e que se convencionou chamá-los de Joaquim e Ana – encontramos estes nomes nos evangelhos apócrifos, mas não nos quatro Evangelhos -. Maria aparece, já na sua casa de Nazaré, onde lhe aparece o anjo. Provavelmente Maria encontrava-se numa atitude de serviço orante, meditando a Palavra do Senhor ou ocupada nos afazeres de casa, movida pelo amor e pela doação de si mesma. Toda a vida dela foi uma abertura ao mistério. Quem está pronto e disponível para fazer a vontade de Deus acolhe tudo com amor. Sente-se surpresa pela saudação do anjo, mas sabe dialogar com amor e responsabilidade diante do convite a ser a mãe do Salvador. Sabe pedir explicações, porque ela quer que o seu sim seja adulto, maduro, responsável. Com Maria, também nós devemos aprender a “dialogar” com o Senhor, que nos chama, faz-nos propostas. Não é uma atitude determinista que nos torna santos, mas a nossa resposta de fé madura que busca entender e quer entender até o que é impossível. Diante do sim de Maria, o Verbo se fez carne e começou a morar entre nós.
Nada de mais belo poder contemplar o início da presença de Jesus no seio virginal de Maria. Ela, com seu amor e docilidade, revestiu de carne o Verbo eterno, e cooperou com todo o seu ser para que a encarnação pudesse acontecer. A fé nunca pode ser uma adesão irracional, mas sempre um sim consciente, responsável e pessoal ao mistério. Aderir à fé é fazer acontecer o que a fé significa, por isso São Tiago nos recorda que a fé sem obras é morta (cf. Tg 2,26). Maria nos ensina que, diante da incompreensibilidade do mistério, devemos, como ela, dizer: “Eis aqui a escrava do Senhor” (Lc 1,38). É a mais bela profissão de fé de Maria, é o seu credo.
Maria nos ensina como se comunica a Palavra de Deus. É tão bonito o gesto de Maria relatado pelo evangelista Lucas: ela, depois de ter dito sim ao anjo, coloca-se imediatamente a caminho da Judéia, para visitar sua prima Isabel. Há no texto bíblico uma palavra que eu gosto muito: “apressadamente” (Lc 1,39); acho que esta palavra tem o sabor da alegria, do entusiasmo, da vitalidade com que nós devemos anunciar a boa notícia. Não podemos ser preguiçosos diante das exigências da evangelização, mas o nosso entusiasmo – sinal de fé, esperança e amor – deve ser capaz de contagiar a todos os que encontramos na vida.
Por que Maria vai visitar Isabel? 0 anjo lhe anunciara que Isabel estava grávida. Maria sentiu a necessidade de ir até lá para prestar seu serviço generoso a quem precisava de ajuda. Este episódio nos recorda que não podemos pensar em nós mesmos, mas que a nossa fé nos empurra ao trabalho, para ajudar os que necessitam. O encontro com Deus sempre se reverte na caridade e no amor. Maria é a mulher atenta e vê as necessidades dos outros, não se fecha em si mesma e nem cultiva uma espiritualidade intimista que esquece os demais. A oração, a intimidade com Deus, se faz serviço.
Nesse encontro, o Espírito Santo revela a Isabel que Maria está grávida: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,42-45). E Maria sente-se incapaz de conter a alegria e nos dá a oração de louvor mais bela de todos os tempos. O magnificat, como uma colcha de retalhos bíblicos, canta a memória da grandeza de Deus, que ao longo dos tempos tem transbordado sua misericórdia sobre seu povo. O magnificat é a oração de Maria que nos contagia, faz-nos descobrir nossa pobreza e a grandeza de Deus. Maria sabe que Jesus, que está gerando em seu ventre, não será “propriedade sua”, mas dom de Deus para o povo.
Fazei tudo o que Ele vos disser…
Queremos fixar nossa atenção na presença de Maria nas bodas de Caná, onde Jesus, provocado pela atitude e palavra de Maria, inicia seu ministério público. 0 evangelista João diz com muita simplicidade que Maria era a convidada de honra do casamento, “também” foi Jesus e com Ele seus discípulos. Maria não é a dona da festa, mas sente a necessidade de estar atenta a tudo o que acontece e vela para que nada venha a faltar. Ela sabe que uma festa é feita de detalhes e pormenores que passam despercebidos aos homens, mas não às mulheres. Não posso imaginar Maria silenciosa nessa festa, num canto, meditando a lei do Senhor, nem longe dos convidados; gosto de imaginá-la na porta, entre a cozinha e a sala dos convidados, atenta a tudo o que está acontecendo, olhando com o seu olhar materno e vigilante de um lado a outro. E quando percebe que os servos não estão mais passando, que o vinho acabou, ela já sofre pelo vexame e tristeza dos noivos e procura uma solução. Vai até Jesus e O coloca a par da situação. São João da Cruz, comentando esse texto, diz que Maria não pede o milagre, mas simplesmente apresenta as dificuldades… A oração não consiste em pedir, mas em apresentar a Jesus o que necessitamos.
Maria dirá simplesmente aos servidores: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Essas palavras de Maria são como o seu testamento que orienta toda a vida. Ela não impõe, não exige, sabe que tudo depende da vontade do Pai, que se revela no Filho. A hora pode ser apressada ou deve ser respeitada. Mas a oração tem o poder de fazer acontecer a hora antes do tempo.
Contemplando esse episódio do Evangelho, surge em nós um grande amor para com a Virgem Santa, Senhora Nossa, que nos ensina como deve ser o nosso pedido e a nossa oração. Tudo deve ser fecundado pela humildade, a nós cabe o direito de pedir, mas a Deus cabe o direito de nos conceder o que pedimos. Depois de tantos séculos desse acontecimento, Maria continua a repetir a cada instante aos nossos ouvidos e coração: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Ela não tem uma mensagem própria, a não ser a mensagem de Jesus.
Toda mensagem que nos vem de Maria deve ser formada e configurada nas palavras de Cristo. Maria é para nós a primeira mulher a receber o anúncio da vinda de Jesus, a primeira que corre a anunciá-lo aos outros, sendo assim a primeira evangelizadora, mas, nela existe um só desejo: realizar em tudo a vontade do Pai.
E hoje?
Na vida dos profetas, de Maria, de Jesus e dos santos, sempre contemplamos algo de muito interessante, eles souberam unir profundamente a vida de oração com a vida de trabalho. Nunca poderemos separar o “homo faber = trabalhador” do “homo orans = orante”. Romper esta harmonia é afastar-se do projeto de Deus. Ele quer que o louvemos, estejamos com Ele por longos tempos de oração, de contemplação; mas, ao mesmo tempo, confiou-nos a difícil tarefa de construir um mundo sempre novo, onde a Lei do Senhor seja alicerce e sua Palavra tijolos fortes na construção da justiça e da paz. O Reino não pode ser abstrato e longínquo. E no amor que teremos uma nova sociedade, onde as diferenças, o ódio, a divisão, a pobreza, a miséria e a fome serão vencidas para sempre.
Mas, onde encontrar a força para essa revolução, que é necessário realizar através não das armas, mas da conversão do coração?
É na oração contemplativa, é no estar a sós com Aquele que sabemos que nos ama, é lançando o olhar para o Céu, é erguendo as mãos para o alto que encontramos nova capacidade de amor.
Hoje, mais do que nunca, neste início do terceiro milênio somos convocados a ser como Maria nas bodas de Caná da Galiléia, a ter os olhos abertos para ver qual é o “vinho” que falta na vida da família, da comunidade, no mundo. O vinho da fé, da esperança, do amor, da solidariedade… Mas nunca devemos esquecer que Jesus, para operar o milagre, necessita da nossa humanidade, pobreza, miséria, que é a nossa água.
Santa Teresinha recorda que o primeiro passo para a santidade é assumir as nossas limitações. Teresa de los Andes encontra Deus, alegria infinita, no dia-a-dia de sua vida monótona, mas rica de amor.
Contemplar a vida de Maria é descobrir que nossa vida é igual à sua, o que nos falta é imitá-la na fé e no amor, no dinamismo e na esperança. Maria, peregrina e nômade, caminha conosco e nos toma pela mão. Conduz-nos silenciosamente diante de Jesus e nos repete sem cessar: “Fazei tudo o que Ele vos disser”… Este é o segredo da santidade e da felicidade.
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Os textos de Formação Espiritual me tem ajudado no meu crescimento espiritual, na minha formação . Obrigada SHALOM!