José Ricardo F. Bezerra
Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom
O método da Lectio Divina consiste em quatro passos que nos ajudam a orar com a Palavra de Deus a cada dia. O primeiro, e mais importante, é a leitura. Leia o trecho pelo menos quatro vezes, de preferência em voz alta ou a meia voz. O segundo passo é a meditação, na qual procuramos ouvir o que o Senhor quer nos dizer pessoalmente neste dia. O terceiro passo é a oração sobre o que o Senhor nos mostrou. E finalmente a contemplação, que é deixar Deus agir livremente em nossa alma.
Neste mês de maio, dedicado a Maria, Mãe de Jesus, e por extensão a todas as mães, escolhemos um pequeno trecho de Lc 11,27-28. Antes de tomá-lo, proponho uma pesquisa: Quantas vezes, nos evangelhos, aparece a expressão “sua mãe”, referindo-se a Maria, Mãe de Jesus?
Agora, tome o trecho de Lc 11,27-28 e leia-o em voz alta, devagar, quatro vezes. Dá até para decorar, não é? Decorar é saber de “cor” (de coração). Quando sabemos de coração, não esquecemos! Às vezes lemos um trecho bíblico pela manhã e à tarde nem lembramos mais. Você é capaz de lembrar o que leu ontem? Pelo menos um versículo inteiro? Se não conseguiu, é sinal de que não leu atentamente ou não meditou profundamente sobre o significado dele em sua vida. Por isso, feche a Bíblia e tente lembrar estes dois versículos de Lc 11,27-28. Abra e confira sua memória. Não deu? Leia novamente e preste atenção a cada palavra, pois é palavra inspirada por Deus!
Você imaginou a cena? Uma multidão ouvindo Jesus, extasiada com sua sabedoria e com os milagres que Ele realizava e, certamente, passou pela cabeça dessa mulher: “Eu queria ter um filho assim!” Imediatamente lembrou-se da mãe de Jesus, de como ela devia ser feliz por tê-lo dado à luz e amamentado. Em Israel, como em muitos países, a função principal da mulher era a de ser mãe. Quem tinha muitos filhos era dita “abençoada” por Deus. Quem não os tinha, a estéril, era uma desonra e até mesmo considerada castigada (cf. Lc 1,25; Gn 30,23; 1Sm 1,5-8).
Aquela mulher, no meio da multidão, proclama a bem-aventurança da mãe de Jesus. Porém, a resposta dele parece contradizer o elogio da mulher à mãe de Jesus. Será mesmo? Jesus, como todo bom judeu, conhecia e praticava a Lei, que ordenava: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que Iahweh teu Deus te dá” (Ex 20,12). “Cada um de vós respeitará sua mãe e seu pai” (Lv 19,3a). Portanto, se a resposta de Jesus fosse algo para desonrá-la, não só seria falta de amor e atenção à sua mãe, mas um pecado, uma transgressão à Lei.
É inadmissível, então, ter a ousadia de pensar que Jesus tenha menosprezado sua mãe. Pelo contrário, Ele aproveita a ocasião para ensinar que Maria não cumpriu apenas um papel físico de concebê-lo. Maria cumpriu, ao longo de toda a sua vida, o que ela respondeu ao anjo Gabriel na Anunciação: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
A maternidade não se restringe ao momento do parto, mas se prolonga por toda a vida. Maria aceitou ser a mãe de Jesus e passou por muitas dificuldades iguais e até maiores que as que muitas mães passam: dificuldades financeiras, mudanças de casa e de cidade, perda do filho adolescente, morte do esposo, saída do filho de casa, vê-lo ser perseguido e atacado pelas autoridades, sentir-se impotente diante da condenação injusta e vê-lo agonizando e morrendo na cruz.
Se não fosse sua fé e sua vivência prática da Palavra de Deus no dia-a-dia, você acha que Maria estaria de pé ao lado da cruz? (cf. Jo 19,25). A felicidade ou bem-aventurança de Maria não foi apenas por ter gerado Jesus na carne, mas já desde antes, pela escuta e vivência da Palavra.
Que grande ensinamento este, não é? Todas as mães são felizes, bem-aventuradas, pois participam da obra de Deus na criação de seus filhos. Mas, são mais felizes as mães que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática! Não somente, portanto, as mães, mas todo aquele que ouve e pratica a Palavra do Senhor!
Você notou o alcance da resposta de Jesus àquela mulher? Exaltou sua mãe, todas as mães e todos os que crêem em Deus e vivem sua Palavra.
E você, tem ouvido e colocado em prática a Palavra do Senhor? Ou tem escutado sem praticá-la? Leia a parábola do Semeador e sua explicação em Mt 13,18-23 e medite sobre sua escuta da Palavra. Ela tem dado fruto em sua vida?
Faça sua oração de louvor e agradecimento pela Palavra que está perto de você (cf. Dt 30,14 e Rm 10,8). Se quiser, reze com o Sl 119(118). Agradeça a Deus pelos missionários e catequistas e todos os que anunciam a Palavra de Deus. Agradeça por seus pais e em especial por sua mãe, se esta lhe ensinou os caminhos da fé. Agradeça pelo dom da vida física e da vida espiritual, a vida recebida no Batismo. Interceda pelas necessidades e intenções de sua mãe, onde ela estiver.
Louve, agradeça a Deus pelo dom de Maria, a mãe que Ele quis compartilhar com todos os que crêem na sua Palavra. Você a aceita como sua mãe? Você a ama e a honra como ela merece? Peça a Deus que aumente seu amor por ela, que sempre leva a Jesus.
Por fim, deixe que o Senhor aja em sua alma no último passo desta Lectio, que é a contemplação. Contemple a beleza inesgotável do mistério da encarnação do Verbo. Deus se fez carne, se fez homem como um de nós, a ponto de ser confundido como uma pessoa qualquer, mas que na verdade é Deus. “Deus de Deus. Luz da luz”. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem. E Maria no centro deste mistério.
Escreva os rhemas em seu caderno de oração e partilhe com seu grupo ou Comunidade. Escreva para nós testemunhando a graça de Deus para o louvor da sua glória! Shalom!