Formação

O maior pecado

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Já vou adiantando logo: não se trata do pecado de sexo. Há assuntos muito mais sérios do que esse dos prazeres libidinosos que, diga-se de passagem, podem até ser virtuosos. Para os menos avisados, para fins de clareza, antecipo que podemos cometer uma falta tão grave, que pode atingir o âmago da nossa existência.

O nosso vínculo com o Criador é algo de essencial. Dele não nos podemos separar, sob pena de enorme prejuízo. Podemos introduzir um vício nesta relação, que obnubila o sentido da vida. O Ser Onipotente sente ciúmes de nós. “Deus reclama com ciúmes o espírito que ele fez habitar em nós” (Tg 4, 5). Sem rodeios, as Escrituras nos ensinam que o Pai Celeste “não admite outros deuses ao seu lado” (Deut 5, 7). Portanto, existe o erro que nos pode prejudicar na totalidade, e nos desviar do sentido da vida.

Quero, porém, antes de prosseguir, mostrar que em nossas relações com o semelhante podemos assumir uma postura construtiva. Refiro-me ao louvor. É até um recurso pedagógico, que faz as pessoas crescerem, porque reforça o caminho que se está trilhando. A mãe que louva o filho, perante as outras pessoas, e diz que o filho é muito estudioso; ou o pai que enaltece ao seu rebento, dizendo que ele jamais profere palavras feias, estão encorajando a criança a continuar nesse caminho.

É o que São Paulo praticava – com raras exceções – nas epístolas que escrevia às comunidades por ele fundadas. Louvando o crescimento espiritual, praticado por aqueles grupos eclesiais, ele os estimulava a mais e melhores coisas. O louvor é um legítimo recurso para fortalecer a coragem dos caminhantes. Esse método produz muitos bons resultados, não ofende absolutamente o nosso Pai Celeste, não nos torna subservientes, e nem muito menos submete nosso próximo a um comportamento de escravos.

Percebe-se quando o louvor é sadio. É quando o “homenageado” reconhece que as coisas boas de sua vida tem a ajuda da graça sobrenatural. Ou quando atribui os bons resultados à ajuda de tantas pessoas. Uma catequista, que é homenageada por causa de seus bons serviços prestados à comunidade, e que atribui o sucesso de seu trabalho à colaboração de seus catequizandos, e aos dons que Deus lhe concedeu, mostra o sentido saudável de um verdadeiro louvor. Não nos esqueçamos de que o nosso louvor, direcionado aos Santos e Santas, obtém deles o reconhecimento de que “só Deus é Santo” (Ap 15, 4).

Bem outro é o sentido da idolatria, que é uma caricatura da adoração divina. Neste caso o louvor vem, e morre aí mesmo. A pessoa homenageada aceita o louvor e não atribui suas virtudes a ninguém, nem ao poder divino. Suas falsas conversas de uma humildade inexistente, são apenas para reforçar a homenagem. Tal pessoa promove “modestamente” o culto à sua personalidade. Propõe-se espertamente como um verdadeiro ídolo de barro.

Comete assim o maior pecado possível: apropriar-se das coisas de Deus, e se revestir estultamente daquilo que não lhe pertence. E os que se prestam a realizar esse culto são verdadeiros idólatras, pecado tão vituperado pelas Escrituras: “ nenhum idólatra tem herança no reino de Deus” ( Ef 5,5). Erich Fromm afirma que “a idolatria é incompatível com a liberdade e a independência”.

Os profetas do Antigo Testamento caracterizaram a idolatria como um autocastigo, enquanto a adoração a Deus é uma autolibertação. Hoje, segundo Bakunin, é mais urgente do que nunca, desmascarar a idolatria dos seres humanos, identificar ao nosso redor os diversos ídolos, examinar os tipos de veneração que são tributados a certos homens míticos, os sacrifícios que a humanidade lhes oferece, o dinheiro que é gasto em favor desses deuses modernos. Olhe ao seu redor, e conseguirá detectar esses falsos deuses, admirados por quem não quer prestar culto a Deus.

Dom Aloísio Roque Oppermann


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