O dogma da Imaculada Conceição, proclamado a 8.12.1854 por Pio IX (Bula “Ineffabilis Deus”), declara a santidade da Virgem Santa Maria desde o primeiro momento da sua existência, desde a sua Conceição, ou seja, desde o momento que ela foi preservada da mácula do pecado original, no qual nascem todos os filhos de Adão. Enquanto estes estão privados da graça divina, a Virgem Maria foi toda pura, santa e imaculada, desde o início da sua vida. Esta foi desde sempre a convicção profunda da Igreja, que viu na Virgem Maria a ‘Nova Eva’.
Apesar da reconhecida devoção à Nossa Senhora, homens como S. Bernardo, S. Alberto Magno, S. Boaventura e S. Tomás tiveram dificuldade em admitir a Imaculada Conceição, porque era difícil de conciliar tal verdade com o dogma da universalidade da Redenção.
Maria, a Virgem sem máculas
Proclamar a Imaculada Conceição parecia implicar retirar a Virgem Maria da órbita da Redenção em Jesus Cristo, a qual, por ser necessária e absoluta, era tão universal como o pecado original. Se a Virgem Maria não estivesse incluída no número dos que contraíam o pecado de Adão, ficava então igualmente excluída da redenção, e esta não seria universal, pois não abrangeria todos os descendentes de Adão.
Perante esta alternativa, eles foram como que obrigados a negar o privilégio de Maria até ser possível conciliá-lo com o dogma da universalidade da redenção em Cristo.
A solução do problema foi dada pelo beato Duns Escoto (séc. XIV), que afirmou que a Imaculada Conceição não exclui a Virgem Maria do mistério da Redenção, porque ela foi preventivamente redimida pelo seu próprio Filho. Ela foi antecipadamente redimida e por conseguinte, preparada para a sua divina maternidade. Esta explicação acabou por ser recebida na teologia e nas declarações do magistério.
Dogma mariano
Como todos os dogmas, também a ‘Imaculada Conceição’ foi a solene proclamação da fé do povo de Deus, do sentir da Igreja, do que nós podemos chamar de ‘devoção popular’. A ‘Imaculada Conceição’ é uma marca forte do catolicismo em Portugal, tendo sido sob esta invocação que Nossa Senhora foi proclamada por D. João IV como Rainha e Padroeira do país, no dia 25 de Março de 1646, título que nenhum regime foi capaz de abolir.
Na Universidade de Coimbra, ela é a padroeira ainda hoje, e houve tempos em que defender esta verdade da fé era título de honra e compromisso de todos o corpo docente daquela Universidade.
Mas o que significa para nós hoje este admirável mistério?
O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria foi a solene confirmação do mistério central da fé católica. A Virgem Maria foi pensada por Deus como a mediadora do mistério da encarnação do Cristo.
Por ser chamada a ser a mediadora deste mistério, a Virgem Maria não podia ser pensada senão como a primeira criatura totalmente redimida, e como a primeira redimida é que ela concebeu sem pecado o Filho de Deus, porque sem pecado foi concebida. Por ela o Verbo de Deus entrou na história, inaugurando o tempo da graça e da liberdade de toda a humanidade.
A Virgem Maria abriu a porta do mundo para o Advento do Deus redentor, na carne da humanidade. Ela é, por excelência, a primeira escolhida na ordem da Redenção. O dogma da Imaculada Conceição proclama que Maria foi a primeira a ser redimida pelo Filho que ia gerar.
Por isso, com razão, na ‘Imaculada Conceição’, a Igreja e todos os fiéis do mundo exultam de alegria, talvez como em nenhum outro dia, porque aí foi elevado o exemplo das maravilhas de Deus na história, do que Ele pode fazer na Igreja e na vida de cada crente.
Que possamos, como a Virgem Maria, ter a mesma atitude de filial de obediência e de amor, diante daquele cujo Nome é grande e que grandes coisas realizou na sua humilde serva!
Bem-aventurada é a nação que tem a Virgem Maria como Mãe!