Formação

“Abominável!”

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Foicom esta expressão lacônica que o Presidente da República classificourecentemente a ação criminosa de alguns integrantes do Exércitobrasileiro que torturaram e assassinaram três jovens negros no morro daProvidência no Rio. Não os assassinaram com suas mãos, mas osentregaram a traficantes que executaram a sentença de morte para eles.

O Ministro Jobim subiu o morro carioca para apresentar desculpas e pêsames em nome do Governo às famílias enlutadas. É pouco. O Presidente classificou o crime de “gravíssimo e abominável” e chegou a anunciar merecida indenização às pobres famílias enlutadas, o que é justo, mas não lhes devolve os filhos vivos.

Osentendidos de leis discutem agora sobre qual é a função legal dasForças Armadas. Mas os que vivemos há mais tempo, nos lembramos dostétricos tempos de 64, da tal “Operação Bandeirante”, da tortura, dasmortes nas prisões da ditadura. Tudo isto passou. Mas o ranço aindaficou e de vez em quando, como agora, ressurge tragicamente o temor doemprego de alguma prática deste passado infeliz.

Não é um temor vazio de sentido. A Folha de São Paulo recentemente, na edição de 15 pp. (pág. A 12), recordou as barbaridades da escola de tortura, desde a sua criação em 1966 com o nome de Centro de Instrução de Guerra na Selva e informou a publicação do livro (2007) do Tenente José Vargas Jimenez cujo título é: “Bacaba, Memórias de um Guerreiro da Selva – Guerrilha do Araguaia”.

O autor narra que enviou este livro para o supra citado Centro e que “gostaram muito”, até pediram mais, dando a razão: “vai servir para a aula dos alunos”.

Naentrevista da Folha, o autor Tenente Jimenez cita um dos seus feitos:“teve (sic) um camponês (…) que não queria falar onde estavam osguerrilheiros. Pegamos ele (sic) e botamos no pau de arara, só que opau de arara era um viveiro de formiga. Nós besuntamos ele (sic) deaçúcar, colocamos sal na boca dele e deixamos ali. Em dez minutos, elefalou tudo”. É o autor do livro que nos narra. O que pensar destacrueldade do Tenente?

Prefiropensar que hoje, vivendo um clima de sadia liberdade democrática, tantoa ação dos que se tornaram culpados da morte dos três rapazes lá domorro carioca, como as terríveis instruções do autor do livro citado jánão serão aceitas por ninguém no Brasil de hoje.

Abominável!– foi a expressiva sentença do Presidente da República paraestigmatizar a insânia que desponta. Momento de reflexão.


Fonte: CNBB – por Dom Benedito de Ulhoa Vieira – Membro da Academia de letras do Triângulo Mineiro.


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