É instrutivo observar quais são os motivos pelos quais os convidados da parábola de Mateus 22, 1-14 se negaram a ir ao banquete. Mateus diz que eles «não se importaram» pelo convite e «foram embora, um ao seu campo, outro ao seu negócio». O evangelho de Lucas, neste ponto, é mais detalhado e apresenta assim os motivos da rejeição: «Comprei um terreno e preciso vê-lo… Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las… Casei-me, e por essa razão não posso ir» (Lc 14, 18-20).
O que têm em comum estes diversos personagens? Todos os três tinham algo urgente para fazer, algo que não pode esperar, que exige imediatamente sua presença. E o que representa, no entanto, o banquete nupcial? Este indica os bens messiânicos, a participação na salvação alcançada por Cristo e, portanto, a possibilidade de viver eternamente. O banquete representa, portanto, o mais importante na vida, e mais ainda, o único importante. Está claro, então, em que consiste o erro cometido pelos convidados: consiste em abandonar o importante por causa do urgente, trocar o essencial pelo contingente! Pois bem, este é um risco tão difundido e insidioso, não somente no campo religioso, mas também no puramente humano, que vale a pena refletir um pouco sobre ele.
No âmbito espiritual
Antes de tudo, precisamente, no campo religioso. Abandonar o importante por causa do urgente, no âmbito espiritual, significa atrasar continuamente o cumprimento dos deveres religiosos, porque cada vez se apresenta algo urgente para ser feito. É domingo e é hora de ir à missa, mas é preciso fazer esta visita, este trabalhinho no jardim, o almoço da família… A missa pode esperar, o almoço não; portanto, a pessoa se atrasa para a missa e se apressa pra cozinhar.
No âmbito humano
Eu disse que o perigo de abandonar o importante por causa do urgente está presente também no âmbito humano, na vida de todos os dias, e eu gostaria de destacar isso também. Para um homem, é certamente importantíssimo dedicar tempo à família, a estar com os filhos, dialogar com eles se forem grandes e brincar com eles se forem pequenos. Mas no último momento se apresentam sempre coisas urgentes a serem terminadas no escritório, horas extras, e se deixa para outra vez, acabando por chegar a casa muito tarde e muito cansado para pensar em outra coisa.
Vamos adiando o que é importante
Para um homem ou uma mulher, é importantíssimo ir de vez em quando visitar o pai idoso que mora sozinho em casa ou em algum asilo. Pra qualquer um, é algo importantíssimo visitar um conhecido doente para mostrar-lhe seu apoio e fazer algum serviço prático por ele. Mas não é urgente; se você deixar para mais tarde, aparentemente o mundo não vai acabar, talvez ninguém perceba. E assim vamos adiando as coisas.
Acontece a mesma coisa com a própria saúde, que também está entre as coisas importantes. O médico, ou simplesmente o personal trainer, adverte que é preciso se cuidar, tirar um período de férias, evitar o estresse… Respondemos «sim», dizemos que faremos isso com certeza, assim que terminarmos o trabalho, arrumarmos a casa, depois de pagar todas as dívidas… Até que a pessoa percebe que é tarde demais.
Aí está o engano: a pessoa passa a vida inteira perseguindo mil pequenas coisas para arrumar e nunca acha tempo para as coisas que verdadeiramente incidem nas relações humanas e podem dar verdadeira alegria (e, abandonadas, verdadeira tristeza) na vida. Assim, vemos como o Evangelho, indiretamente, é também escola de vida: ensina-nos a estabelecer prioridades, a tender ao essencial. Em resumo, a não perder o importante por causa do urgente, como aconteceu com os convidados da nossa parábola.
Padre Cantalamessa