Reciclagem Shalom 1998 – Formação Doutrinária – Parte I
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INTRODUÇÃO
O Ícone da Santíssima Trindade foi pintado pelo monge Russo André Rublev, como representação da passagem Bíblica que descreve a visita de Deus a Abrão através dos três anjos (Gn 18,1ss).
Segundo a tradição da Igreja, esta passagem sempre representou a Santíssima Trindade. Como o Filho encarnou-se, os três são representados na imagem de um homem. mas o que nos interessa aqui para compreendermos a Pessoa do Espírito Santo é que este “perscruta”a relação de amor e doação mútua entre o Pai e o Filho, sendo ele mesmo este Amor.
DEUS É TRINDADE DE PESSOAS
No Credo professamos um Deus que em sua essência é Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é comunhão de Tres Pessoas: Deus é Pessoa justamente porque é o Ser em diálogo, em relação. A primeira Pessoa é o princípio de tudo, é o Pai. A segunda pessoa é o eternamente ge-rado pelo Pai, o Filho. E a terceira Pessoa é o Espírito Santo, expirado pelo Pai e pelo Filho. Deus é comunhão de Amor: Desde toda a eternidade o Pai gera, no amor, o Filho, dando-se a Este inteiramente. Também desde toda a eternidade, o Filho acolhe inteiramente o Pai, e se de-volve a
Ele por completo. E esta relação de amor é uma Pessoa, o Espírito Santo. Assim, são realmente três Pessoas iguais, mas distintas entre si, mas cada um se distingue do outro pela sua relação com o outro.
Concebemos a Trindade como família ou comunhão originária que realiza e goza e-ternamente o mistério do amor. Nessa família existe somente uma substância, um só coração e uma só alma, como se dizia dos primeiros membros da Igreja (At 4,32): cada Pessoa dá aos de-mais tudo o que possui. Dessa forma em mistério de unidade, as tres realizam o encontro de a-mor originário:Deus é processo de generosidade ou geração que brota do Pai: Deus é acolhida ou filiação que descobrimos no Filho; finalmente, Deus é unidade e comunhão no Espírito Santo.
Os membros da família de Deus são pessoas no sentido mais profundo desse termo. São donas de sua própria essência, que dão, acolhem e compartilham de forma livre e transparen-te. O Pai é generosidade total. Ele entrega totalmente a si mesmo, expressando Seu amor no Fi-lho. Essa doação generosa é o que chamamos de geração. Por isso dizemos que desde toda a e-ternidade o Pai gera o Filho. E o Filho é acolhida total do Pai. Se em algum momento o Filho rejeitasse o dom do Pai, para ser sua própria fonte, Ele perderia sua identidade de Filho. Assim, tão divino é dar como receber. Os dois caracteres desta relação pertencem ao mistério do Amor Trinitário. Por isso não é mais quem dá, nem é menos quem recebe.
O amor de um só seria imperfeito. Seria dom dado sem encontrar resposta. tampouco seria pleno aquele amor em que os dois se entregassem de modo diferente ou em nível diverso. Por isso Pai e Filho dão e recebem a sua existência com a mesma intensidade: tudo o que o Pai oferece, o Filho recebe e devolve livremente ao Pai. Desta forma é que surge o amor pleno. É dentro deste mistério quem descobrimos a Pessoa do Espírito Santo. Sua identidade é compartir. Sua identidade surge ali onde o Pai e o Filho, doando e recebendo na Sua relação de amor, cons-tituem um “nós”, uma Pessoa comunitária que ao mesmo tempo enlaça e enlaça e distingue as outras duas (Pai e Filho).
A partir daí é que podemos traçar conseqüências importantes para nós. O Espírito Santo, por sua própria realidade comunitária, não pode encarnar-se como indivíduo na terra; por isso dizemos que se expressa, revela-se, ali onde faz surgir a comunhão. Sua presença só é possí-vel onde fazemos surgir vida dando pêlos outros a nossa vida; só é possível quando fazemos sur-gir vida entregando a nssa vida pêlos outros. Assim é que a vida comunitária, como o Mistério Trinitário, completa-se na presença do Espírito Santo, que é pura comunhão que procede dali onde acontece a entrega no amor perfeito, comunicando e compartilhando todo o ser. Filho e Pai se define pelo amor mútuo, e como selo de sua entrega, convertemos nossas casas em espaços de presença e vida no Espírito.
Assim é que confessar a Trindade é aceitá-la como modelo último de nossa vida. Quando nos esforçamos para ter um só coração e uma só alma, e sabemos por tudo em co-mum para que ninguém sofra necessidade.
A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
Enquanto as Palavras “Pai” e “Filho” lembram algo de muito familiar, a palavra “Es-pírito Santo” é sempre para nós um mistério. De fato, o Espírito Santo revela a profundidade de Deus, mas no que diz respeito à si mesmo, permanece oculto. não podemos descrevê-lo a não ser pela sua ação e pêlos seus efeitos. João Paulo II ensina que “na sua vida íntima, Deus é Amor-Dom. E o Espírito Santo é a expressão desse “doar-se”. É Pessoa-Amor, Pessoa-Dom. Este re-presenta o eterno Amor mútuo entre o Pai e o Filho. Mas não faz somente isto. Ele nos introduz nesta experiência de comunhão. Ele nos faz experimentar o Amor-Dom.
Na ação trinitária tudo provém do Pai, tudo é realizado pelo Filho, e tudo chega a nós e se faz experiência em nós por meio do Espírito Santo. É sempre o Pai que tem a iniciativa na história da Salvação: tudo procede do Pai cujo plano consiste em realizar a nossa união com Ele. O Filho é Aquele no qual se realiza o plano do Pai, isto é, a união de Deus conosco. E o Espírito Santo é Aquele que nos capacita para que em nós se realize o plano do Pai. O Espírito Santo é aquele que torna eficaz e realiza a ação do Pai e do Filho ao longo de todo o decorrer da história da Salvação.
Portanto, não existe qualquer experiência de Deus e das coisas de Deus a não ser “no Espírito”. A expressão “no Espírito Santo”significa que Deus, em sua imensidade acolhe cada um de nós , e se faz “dom”, unindo-se a nós. “No Espírito”, Deus encontra o modo de realizar o irrealizável: doar-se à sua criatura e unir-se à ela.
Seqüencia desta formação:
Parte II – O ESPÍRITO SANTO NA CRIAÇÃO
Parte III – VIDA NO ESPÍRITO
