A educação é um processo contínuo na vida do ser humano. Esse processo tem como objetivo “guiar o homem no desenvolvimento dinâmico, no curso do qual se constituirá como pessoa humana – dotada das armas do conhecimento, do poder de ajudar e das virtudes morais – transmitindo-lhe ao mesmo tempo o patrimônio espiritual da nação e da civilização às quais pertence e conservando a herança secular das gerações” (1).
Não é, pois, difícil intuir a influência que a televisão exerce nesse processo, dado que ela não é um eletrodoméstico a mais em nossa casa. “A televisão é um eletrodoméstico que fala, que transmite lições, que propõe casos para imitar, que difunde modos de cultura. Exerce influência por osmose, quase imperceptível a quem se lhe entrega passivamente” (2). E é imenso o tempo que se gasta diante da “telinha”; pesquisas revelam que crianças entre seis e 11 anos passam cerca de 25 a 30 horas semanais diante da TV.
Isso é preocupante porque, além do excessivo tempo de exposição aos programas de TV, a assimilação, o aprendizado por esse veículo se dá bem mais rapidamente e em maior quantidade de informações, porque se utiliza as capacidades audiovisuais em conjunto. Aprende-se sem grandes esforços. O subconsciente encarrega-se de assimilar a maior parte do conteúdo transmitido. Assim, o aprendizado se dá de maneira acelerada e mais prazerosa. O problema é o que se aprende, visto que a televisão contribui tanto para a educação quanto para a “deseducação” do ser humano.
As influências positivas da TV
A televisão, “se ‘ingerida em pequenas doses’ poderia ser uma ajuda preciosa, pois ela seria dominada, limitada, discutida e elaborada” (3). O uso da TV, portanto, se acompanhado pelos pais, que selecionem os programas e discutam seus conteúdos com os filhos, pode apresentar efeitos positivos.
Um desses efeitos é a veiculação da informação. É fascinante obter notícias e documentários de todas as partes do mundo através do som e da imagem! Informações acerca dos mais diversos assuntos: música, esportes, entretenimento, economia, política, sociedade…
Outro efeito é tornar o mundo “pequeno”, os seres humanos mais próximos. Diante das cenas transmitidas das mais diversas partes do mundo, tem-se a impressão de que, de fato, nosso planeta é uma grande “tribo” colorida que gira nesse imenso universo; somos, portanto, todos irmãos. A beleza do outro não me ameaça, antes enriquece-me; sua alegria é minha, bem como sua dor me faz sofrer.
A televisão também proporciona lazer. É possível – infelizmente nos canais abertos não é tão possível assim – escolher um bom programa e divertir-se sem sair de casa, a família toda reunida, com a pipoca e o refrigerante à mão…
A TV, portanto, se bem gerida, proporciona cultura, engrandecimento da pessoa humana.
As influências negativas da TV
Quando mal empregada, a televisão pode se tornar nociva. Pode, por exemplo, comprometer aspectos indispensáveis ao saudável desenvolvimento infantil, como a curiosidade, a iniciativa e a atividade física. “A criança que assiste demais à televisão – às vezes até tarde da noite, sem critério algum – corre o risco de ter a curiosidade e a sede de conhecer reduzidas ao desfrutamento passivo de estereótipos distantes do mundo infantil” (3). No tocante à atividade física, em linhas gerais, movimentar o corpo é indispensável para a aquisição de todos os pré-requisitos para a aprendizagem escolar, como a lateralidade e a estruturação espaço-temporal. No entanto, hoje é grande a preocupação com o alto índice de crianças e adolescentes obesos, que não fazem qualquer atividade física, não praticam esportes, antes “ocupam” o tempo diante da TV, comendo balas, doces, sanduíches e refrigerantes.
O excessivo e sem critérios uso da televisão pode causar também defasagem no rendimento escolar, posto que, habituados que se tornam às respostas prontas, à lei do menor esforço, desinteressam-se pelos jogos e atividades escolares, que requerem dinâmica, criatividade e esforço. Se a escola for tradicional também é problema, pois a tecnologia e as cores da TV ofuscam a rotina da escola.
Pior que tudo isso, é a influência sobre os valores. Desde cedo – muitas vezes mesmo nos programas preparados para as crianças – elas aprendem o triunfo da esperteza, do furto, do ganho fácil; aprendem a discriminar pela cor, raça, credo ou classe social, ou seja, a não valorizar o diferente; aprendem os fortes vencem os fracos, os grandes derrotam os pequenos; que as leis podem ser burladas desde que ninguém esteja olhando e muitos outros contravalores.
Antigamente – não faz muito tempo – identificava-se, nos desenhos animados, o bem do mal porque os personagens do bem eram bonitos, coloridos, de voz doce e temperamento meigo, e os do mal eram monstrinhos.
Hoje, porém, até os personagens do bem vêm em forma de monstros e brigam entre si. Um exemplo disso é o desenho japonês Pokémon, campeão entre a garotada. Minha irmãzinha de seis anos, infelizmente, não escapou da febre Pokémon. Um dia, assistindo a um episódio com ela perguntei-lhe: “Quem é do bem e quem é do mal?”, ela disse-me que ambos eram do bem. Eu fiz nova pergunta: “Por que o bem precisa brigar contra si, não é mais lógico brigar contra o mal?”, mas ela acha a coisa mais natural do mundo: “É porque eles precisam das insígnias”. Mas justifica brigar contra os bons?, perguntei insistente. Ela, para finalizar a “discussão”, disse: “É porque tem de ser assim mesmo e pronto”. Nessas últimas férias, fui com ela ao cinema e fiquei indignada dela ter gostado mais do filme Pokémon do que do Caminho para o El Dourado.
Aos poucos, os pequenos acostumam-se e modelam-se – linguajar, roupas, comportamentos, mentalidades, valores… – segundo a ditadura televisiva.
Como usar a televisão
O jornalista italiano Pascal Iónata (5) aponta algumas sugestões sobre como usar a televisão de modo que não prejudique, mas auxilie na educação da criança:
– Ajudar as crianças a escolherem os programas mais adequados para elas e assisti-los em sua companhia;
– Falar com as crianças sobre os programas de TV pelos quais elas têm mais interesse e escutar seus comentários;
– Combinar com elas quanto tempo se pode dedicar à TV; e não permitir TV em seus quartos;
– Evitar que vejam TV antes de irem à escola;
– Evitar que fiquem diante da TV até o momento de ir dormir (especialmente quando se tratar de programas emocionantes);
– Evitar que o televisor esteja ligado durante as refeições;
– Evitar a utilização da TV como babá;
– Não usar a privação da televisão como castigo;
– Desencorajar o uso do controle remoto para realizar um multiprograma;
– Evitar que façam os deveres de casa diante da TV;
– Ter atenção aos aspectos sanitários do relacionamento com a TV (hábito de comer fora de hora das refeições, ficar em posições incorretas, ambiente escuro, aproximação do vídeo etc.);
– Proporcionar às crianças programas alternativos à TV, motivando-as a jogar, ler, conviver com outras pessoas;
– Dar o bom exemplo.
Enfim, é preciso “trancar o televisor no armário e fazê-lo funcionar em períodos limitados, não lhe permitindo dominar a situação”(6).
Maria Auristela Barbosa Alves
Formação: Dezembro/2008
Notas bibliográficas:
1. BRANDÃO, Carlos, R. O que é educação. 33 ed. São Paulo: Brasil, 1995, p. 65.
2. BETTENCOURT, Estêvão. A “senhora” televisão. Pergunte e responderemos. Ano XXX, n. 323, abr/1989, p. 81, Rio de Janeiro: Lumen Christi.
3. SANTANCHÈ, Egidio. O mundo desconhecido das nossas crianças. São Paulo: Cidade Nova, 1994, p. 19.
4. Ibidem, p. 22.
5. IÓNATA, Pascal. A hipnose da televisão. Cidade Nova, ano XXXV, n. 4, abr/1993, pp. 10-12, São Paulo: Cidade Nova.
6. SANTANCHÈ, Egidio. O mundo desconhecido das nossas crianças. São Paulo: Cidade Nova, 1994, p. 28.
Nesta pregação, é aprofundada a necessidade de a juventude estar bem atualizada, sem se deixar levar pelas coisas que não pertencem à nossa fé e à nossa doutrina.
Adquira o seu [AQUI]