O caminho deste Ano Novo de 2010 clamapor redobrada atenção de todos os cidadãos para as sérias ameaças à pazmundial. A mensagem do Santo Padre Bento XVI para o Dia Mundial da Paz,celebrado no primeiro dia deste ano, recorda o Papa João Paulo II emsua mensagem com o tema Paz com Deus criador, paz com toda criação, queé fundamental ter em devida consideração as relações que se estabelecementre as criaturas de Deus e o universo que as circunda. Éincontestável que o desrespeito à natureza é uma causa forte de ameaçaà paz mundial. A consciência ecológica, então, “não deve ser reprimida,mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendoaté encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas”.
Há muito tempo a Igreja Católica, peloMagistério dos Papas, tem alertado e configurado um horizonte éticovisando a mudanças para este cenário estarrecedor de desrespeito evandalismos no tratamento da natureza. O Papa Paulo VI, por ocasião dooctogésimo aniversário da encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII,insistia que “por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, ohomem começa a correr o risco de destruí-la e de vir a ser, também ele,vítima dessa degradação”. Não é outro o cenário mundial, exigindo umapostura diferente dos cidadãos e também um investimento fortíssimo naconsciência ecológica, que não deve considerar simplesmente a naturezaem si mesma, mas articular esta consideração com a própria condiçãohumana, avaliando seriamente, para intuir modificações no modusvivendi, condutas e cidadania nas sociedades.
O Papa Paulo VI, naquela ocasião, faziauma observação de cunho profético ao dizer que, em consequência, “nãosó o ambiente material se torna uma ameaça permanente – poluições,lixo, novas doenças, poder destruidor absoluto – mas é o própriocontexto humano que o homem não consegue dominar, criando assim, para odia de amanhã, um ambiente global que se lhe poderá tornarinsuportável. Problema social de grande envergadura, que diz respeito àinteira família humana”.
Portanto, a crise ecológica que está emcurso precisa ser enfrentada incluindo também como capítulo centraltudo o que se refere à ecologia humana. Ora, há um caráterprevalentemente ético que reveste esta crise ecológica. Esta dimensãoética é de responsabilidade de todos os cidadãos. Há uma questão deordem moral que subjaz no quadro das relações entre as pessoas e anatureza, entre as criaturas e a criação. A degradação ambiental atingefrontalmente a família humana inteira. Hoje, já se fala em refugiadosambientais: pessoas que, em razão da degradação do ambiente onde vivem,se veem obrigadas a abandoná-lo, perdendo os seus bens, suas tradiçõese os elementos constitutivos de sua identidade.
A consideração, por isso, não pode serestringir ao tratamento e busca de soluções para o fenômeno dasalterações climáticas, a desertificação, deterioração e perda deprodutividade de vastas áreas agrícolas, poluição de rios, nascentes elençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento das calamidadesnaturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais. O PapaBento XVI, em sua mensagem – cuidado pastoral em reacender um horizontemais largo na consideração desta crise ecológica – indica o quanto setorna urgente o capítulo que trata da responsabilidade pessoal, sociale política de cada cidadão.
Há um sério impacto no exercício dosdireitos humanos, quando se pensa o desenvolvimento, sua concepção eefetivação, o direito à vida, à saúde e à alimentação. Não se podeenfrentar, adequadamente, esta grave crise ecológica semquestionamentos cruciais quanto ao entendimento do desenvolvimento.Também não se pode prescindir de uma aprofundada avaliação, para novosentendimentos e consequente conduta nova, sobre a visão do homem e dassuas relações com os seus semelhantes e com a criação.
O Papa Bento XVI insiste na inadiávelrevisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e de todosos desdobramentos que o configuram, especialmente a economia. Estaaudácia de rever o conjunto do desenvolvimento praticado na sociedademundial vai revelando a crise cultural e moral do homem contemporâneo.Os sintomas estão se manifestando por toda parte. Os esforços precisamse multiplicar, em programas grandes e miúdos, para que uma profundarenovação cultural ocorra. O remédio para a crise ecológica não podeser simplesmente aplicado na natureza. É preciso redescobrir aquelesvalores que constituem o alicerce firme para construir um futuro melhorpara todos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo