Formação

Arrumar as malas…

comshalom

            Como estou longe doBrasil há mais de dois anos não sei quais são as palavras e expressões demodismo que estão na boca das pessoas, de modo geral, mas sei de uma que é cadavez mais freqüente nas canções católicas e que virou marca registrada doMissionário Shalom. Primeiro eles cantaram que eram “estrangeiros aqui” e agoraque estão de “malas prontas”, para onde? Para o Céu! O Céu tem se tornado umbendito modismo.

 

Se pensássemos maisno Céu relativizaríamos mais o que é passageiro e nos prepararíamos com maisleveza e melhor para voltar para lá, de onde viemos. Nossa vida é tão curtinhase pensarmos na eternidade e no que nos espera do lado de lá! Mais que um lugarmonótono – quando eu era criança, confesso, eu ficava pensando como seriapassar todo o tempo louvando a Santíssima Trindade, e temia que fosse a coisamais chata do mundo – pelo que o livro do Apocalipse fala, no Céu usufruiremos emplenitude da presença de Deus, e nele tudo é absoluto, principalmente o Amor, eneste Amor está toda a liberdade, a paz, a beleza, a realização. Não haverámais dor, sofrimento, tristeza e limite de qualquer espécie! Cristo será tudoem todos, diz a Palavra de Deus! Vida em abundância! Comunhão total com Deus!

Quem já teve algumaexperiência espiritual por conta do toque da Graça, que é o Espírito Santo, econheceu na alma a presença de Jesus Ressuscitado, passando a se relacionar comEle cada vez mais intimamente, pessoalmente, diariamente, pela oração, pelaPalavra e acima de tudo pela Eucaristia, sabe do que eu estou falando. E estas sãopequeníssimas labaredas de amor que nos tocam e nos curam, plenificam, muitasvezes nos inundam de lágrimas e paz, imagine quando não houver mais nenhum véu,nenhuma barreira e será todo o Amor e todo o Fogo? Esta imagem é tão cara a SãoJoão da Cruz… Por isso, quando alguém que a gente ama morre, principalmentese vivia a vida em Deus se preparando para o Céu, em amor, choramos de saudade,mas deveríamos de fato ficar feliz por ela.

Acho que teremossurpresas quando chegarmos no Céu e penso muito nisso. Não por causa dasconversões espetaculares que acontecem e que só Jesus mesmo conhece – não foi ocaso de quem morria ao seu lado também crucificado? – mas por causa dos santosordinários de cada dia e que andam ao nosso lado. Claro que vai ser fantásticoencontrar uma pessoa que foi um “horror” neste mundo, alcançada pelo amorinequívoco e mais brilhante do que o sol que Deus nos dá em Jesus, no últimoinstante de decisão de sua vida e vontade. Este é um mistério que ninguém sabecomo se dá nem quando se dá, pois só morremos uma vez, mas cremos, confiamos eescutamos diariamente que a salvação foi dada a todos, pois o amor de Deuscobriu toda a humanidade: “… este é o cálice do meu sangue, o sangue danova e eterna aliança que é derramado por vós e por todos os homens para operdão dos pecados… fazei isso em memória de Mim”. Haverá muitos bonsladrões e boas ladras que nos surpreenderão na eternidade, graças a Deus.

Mas haverá também ossantos escondidos, simples, comuns como feijão com arroz e que vivem ao nossolado na célula, na casa comunitária, na paróquia, na vizinhança, até nas nossasfamílias. Grande neles é Deus mesmo que tomou posse da alma, em amor, mas quepermaneceu escondido no cotidiano e nos limites ordinários da humanidade decada um. Deve ter sido assim a surpresa das irmãs do Carmelo de Lisieux quemorreram antes dela, que a conheceram e que, ainda no purgatório, felicíssimaspor se prepararem para o banquete do grande Rei, como acontece na parábola doFilho Pródigo, se dão conta que Teresinha tinha ido direto para Céu, santíssima,transfigurada, porque totalmente tomada e unida a Jesus, o Amado de sua vida.Pense na cena! Como pode, uma pessoa tão comum, tão simples, que fazia tudoigual a todo mundo ir para direto para o Céu? Mas é exatamente esta adesão eeste amor à vontade de Deus, sem resistência, contínua, diária, amando,perdoando, não julgando, se arrependendo, deixando a alma ser grande e livre emDeus, continuamente fixada nas coisas Dele, rezando, rezando, pacientementedando passos de formiga – quem é da minha idade deve se lembrar da brincadeirade infância que chamava ‘Mamãe posso ir?’ – mas passos determinados.Afinal de contas, Teresinha era filha de Teresa e ambas tinham a determinadadeterminação de ser o que Deus queria que elas fossem: santas. Essa é a mesmadeterminação que Deus dá aos que são Shalom!

Este pensamento deCéu e da santidade dos meus irmãos e irmãs de casa, missionários como eu,também os demais que estão no Brasil e no mundo, espalhados, me faz admirarainda mais a obra do Senhor através do Carisma Shalom em cada um, e me fazquerer ir para o Céu junto com eles, em unidade, não por presunção, mas porvocação, pois este é o fim último de nossas vidas e consagração: a vida eterna,o Céu.

Tomara que essa modapegue, querer ir para o Céu e, enquanto vivemos por aqui, ajudemos uns aosoutros a arrumar as malas.


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