Jesus, com seus discípulos havia ampliado sua missão aos territórios gentílicos vizinhos da Galiléia, tendo chegado bem ao norte, próximo a Cesareia de Filipe. A partir daí decide dirigir-se a Jerusalém, ao sul, para proclamar a sua Boa-Nova aos peregrinos que ali chegaram em vista de participar da festa judaica da Páscoa, que se aproximava. Com este propósito, Jesus e os discípulos atravessam novamente a Galileia.
Aqui as narrativas marcam o contraste entre a mentalidade dos discípulos e a novidade de Jesus. Os discípulos esperavam de Jesus ações de poder e glória terrena, o que chocava com a proposta do próprio Jesus de humildade e serviço, com a doação da própria vida.
Os discípulos estão fixados na ideologia do messias poderoso, um novo Davi que restaura o reino de Israel e, esperando de Jesus a ascensão ao poder, disputam qual seria então o maior, isto é, quem ocuparia os cargos mais importantes. São os anseios opostos à proposta de Jesus que provocam conflitos na comunidade e, de maneira mais ampla, no mundo, onde os ímpios ambiciosos da riqueza e do poder fazem a guerra e semeiam a morte, tornando-se loucos e frustrados.
Jesus chama os Doze e, invertendo os critérios de competição, reafirma a característica essencial do Reino: a humildade e o serviço como concretização do amor. É neste amor que está a realização e a grandeza de cada um.
Ao tomar uma criança e abraçá-la, com carinho, Jesus está se identificando com ela. A criança, do ponto de vista de uma sociedade de eficiência e produção, é considerada inútil e marginalizada. Jesus convida a todos a se tornarem crianças, na humildade, na simplicidade, na fraternidade e na abertura para o novo, com esperança e alegria, e, com esta opção, estarão acolhendo Jesus e entrando em comunhão com Deus.
Por:
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora