Segundo Barlow (2002, 104), a ansiedade se caracteriza por ser uma emoção orientada ao futuro, caracterizada por certa sensação incontrolável, principalmente diante de eventos imprevisíveis, na qual o foco da atenção se concentra potencialmente sobre o perigo de uma situação, ou sobre as reações afetivas causadas por essa (situação).
A ansiedade é uma emoção humana fundamental que se reveste de uma importante função no que diz respeito à capacidade de adaptação do homem. Deixa, porém, de ser positiva, quando assume características de persistência e quando, por exemplo, diante de uma situação normal, nos deparamos com certa tensão ou apreensão interior sem um real motivo.
É importante que partamos do aspecto benéfico que a ansiedade pode nos dar. Talvez, isso nos ajude a desdramatizar algo que vemos sempre como uma ameaça. Por exemplo, diante de uma prova para a qual precisamos estudar, e cuja data de realização se aproxima, a emoção da ansiedade nos faz estar mais em alerta. Conseguimos acordar mais cedo, parece que nossa inteligência e criatividade funcionam mais rápido, etc. Então, não existe algo de positivo, nisso? Como vemos, a presença da ansiedade nos ajuda a afrontar atividades que exigem nosso empenho, concentração, atenção. Enfim, parece que muitas vezes desenvolvemos até certa competência diante de novas situações.
Sã ou patológica?
Então, a primeira coisa a fazer é analisar se a emoção de ansiedade que sentimos é sã ou patológica. A pessoa que tem uma ansiedade doentia é aquela que amplifica tal emoção, mesmo diante de algo simples, normal. Ao invés de focar-se naquilo que deve fazer, ela fica presa em seu estado emocional. Seu “foco” fica comprometido por uma espécie de apreensão, medo, temor; a sua mente ou “estado de cognição” fica totalmente concentrado no que está por vir, apartando-se do aqui e agora (momento presente). A persistência em tal estado vai, por sua vez, provocar respostas somáticas, ou seja, o corpo vai sentir também os alarmes de que algo não está normal, através de palpitações, sudoração, rigidez muscular, aceleração cardíaca, formigamento, boca seca, vertigens, cefaleia, alterações no sono, etc.
É interessante percebermos que a ansiedade tem um ápice, mas tenderá, sempre, a cair depois. Ou seja, não ficaremos para sempre em tal estado emotivo. Esse estado tem um ápice, que logo depois tende a cair. Quanto mais nos conscientizarmos que tal estado emotivo pode passar, mais o seu estado inicial tenderá a não chegar ao ponto máximo. E assim vamos vencendo a ansiedade.
Mas, quando a ansiedade se torna patológica? É quando esse “estado máximo” persiste por muito tempo e, sobretudo, sem ter uma razão concreta para isso. Antes que o acontecimento/evento chegue, o ansioso já está, literalmente, preso emotivamente ao que ainda nem aconteceu: preocupado, temeroso, fixado em tal pensamento e, consequentemente, mais comprometido em nível de outras emoções, como a angústia, sensação de fracasso, apreensão, e – outra consequência, a somatização, com os efeitos que descrevemos acima.
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Mente ansiosa
Quais pensamentos estão na mente do ansioso? Segundo Muscella e Saba (2013), a mente do ansioso começa como que a ser contaminada por alguns “vírus mentais”, isto é, pensamentos e ideias negativas e, quase sempre, automáticas, que só alimentam a distorção da realidade, provocando, por sua vez, emoções desagradáveis e desconfortáveis. São chamados, também, de pensamentos disfuncionais.
São eles:
Generalização (pensamentos com uso de palavras: como sempre, nunca, ninguém – que descrevem, de modo exagerado, uma determinada realidade);
Obrigação (uso exagerado de: eu devo, se deve, é preciso… conotando uma espécie de exigência sobre si, sobre os outros ou sobre uma situação);
Leitura de pensamento (crer que se sabe tudo o que se passa na cabeça do outro…. É diferente de uma intuição que, às vezes, vai se comprovando com o tempo);
Atenção selecionada (estamos atentos apenas àquilo com o qual concordamos, enfatizando, dessa forma, apenas alguns aspectos que nos convém, e ignorando outros); Razão emocional (considerar como verdade apenas aquilo que sentimos emocionalmente);
Pensamentos tudo ou nada (percebe-se somente duas alternativas, nunca existe uma via intermediaria); Catastrofização (fazer de um evento negativo simples, uma tragédia);
Culpar-se (interpretar os acontecimentos negativos com uma culpa pessoal, sem visualizar outros fatores). O ansioso permanece por um longo período preso em tais pensamentos, tendo-os como verdade e, dessa forma, perdendo um pouco a exatidão das situações diante das quais ele se encontra, e do que elas, na verdade, representam.
Segundo a linha Cognitivo-comportamental, são os pensamentos (cognição) desencadeados por um evento ou situação que provocam nossas emoções. Então, de tanto pensar disfuncionalmente, nossas emoções serão comprometidas negativamente e, então, pouco a pouco vamos adoecendo. Esse princípio é básico também para alguns tipos de depressão.
Cuidados preventivos…
Creio que nosso primeiro passo é desmistificar o conceito que temos de ansiedade, detectando que, até certo ponto, ela é benéfica à capacidade de adaptação do homem. Outro ponto, a meu ver importantíssimo: não rotularmos a nós ou aos outros de ansiosos, ou generalizarmos achando que tudo é ansiedade. Fazemos muito isso! Precisamos mudar um pouco nosso vocabulário, isso nos ajudará até a promover mais saúde em nosso ambiente comunitário!
Gosto muito de fazer a analogia que devemos ser como “amortecedores” de um carro: podemos ser essa espécie de “amortecedores”, que suavizam e protegem nossos irmãos. O simples fato de gerarmos resiliência (valores, sistema organizativo, comunicação) já contribui para que o ansioso tenha um recurso extraordinário o qual o protege e o fortalece. Uma atmosfera fraterna sã é impressionantemente curativa! O aspecto da organização e comunicação ajuda muito aos outros que tem tendência à ansiedade! Por isso, através da prevenção, favorecendo um ambiente saudável, você tem muito a contribuir com pessoas que tem tais traços.
A atividade física também é um excelente ansiolítico natural, nos faz estar em contato com o nosso corpo (liberando catecolaminas* e endorfinas*) e nos desconecta de alguns pensamentos.
Outro ponto também é a velha percepção, ou observação. Ao perceber que sintomas de ansiedade perduram por algum tempo (+ ou –, os 6 meses com os sintomas descritos acima), precisamos recorrer ao tratamento adequado junto a pessoa: reforçar os encontros, ajudá-lo a ler melhor os fatos, promover o descanso, recorrer a um processo de terapia e, quando necessário, sempre orientados pelo profissional de saúde, a cura farmacológica. Com certeza, “emprestar um pouco” o nosso olhar para ajudá-lo a ler melhor a realidade e os acontecimentos vão favorecer muito.
Não nos esqueçamos que o ansioso se aprisiona em pensamentos e emoções que o comprometem, então o nosso olhar junto a ele, analisando situações e percebendo que se é possível, pode colaborar bastante nesse processo.
A prevenção é fantástica, não é? E digo mais, não precisamos obrigatoriamente ser médicos para fazê-la – se já estamos doentes, sim! O profissional de saúde é fundamental. Prevenir é colocar no nosso ambiente alguns ingredientes como envolvimento pessoal, sabedoria, visão do que pode vir a acontecer, usufruir dos dons que nos são dados no presente, enfim … assim construímos saúde pessoal e comunitária.
A ansiedade tem cura?
Uma emoção ou estado emocional tem cura? Ela precisa de fato desaparecer por completo? Creio que não. Porém, com certeza, precisa ser controlada, “domada” (como alguns cognitivos-comportamentais dizem). Por isso, podemos dizer que não nos curamos de ansiedade, mas aprendemos a controlá-la para que ela esteja a nosso favor, seja sã, e não maléfica. Que até um certo ponto aconteça, acelerando dessa forma nossa capacidade cognitiva, alerta ao perigo, rapidez, criatividade.
Rômulo Araujo
BIBLIOGRAFIA
BARLOW D. H. (2002). Anxiety ande its disorders: the nature ande treatment of anxiety and panic. New York: Guilford Press.
BECCIU M., COLASANTI A.R. (2016). Prevenzione e salute mentale. Manuale di psicologia preventiva. Milano: Franco Angeli.
American Psychiatric Association (2014). DSM-5. Manuale Diagnostico e statistico dei disturbi mentali. Milano: Raffaello Cortina Editore.
MUSCELLA I., SABA A. (2013). La promozione della salute mentale. Roma: AIPRE.
WALSH F. (2008). La resilienza familiare. Milano: Raffaello Cortina Editore.