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Abandono em Deus a exemplo do rei Davi

[…]se David, incapaz e grande pecador, conseguiu viver os planos de Deus para a sua vida, nós também conseguimos… ”porque Para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37)!

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            Abandono em Deus – uma expressão um tanto romântica, que todos os que desejam crescer na experiência com Deus apreciam e querem vivê-lo, assim como os santos. Falar em abandono é o mesmo que falar em confiar na Divina Providência para as nossas vidas, é o mesmo que falar em fazer a Vontade de Deus para nós.

            Entretanto, sua conquista tem exigências próprias e quando chegam as “provas” de Deus para nos preparar para tal, geralmente sucumbimos. Somos a geração fast food, do imediatismo, das facilidades, lentos, débeis e de pouca resiliência. Nossa vontade não é educada para termos as nossas vidas em nossas mãos e com propriedade entregá-la ao Altíssimo. Somos escravos de muitos vícios, maus hábitos e pecados.

             Sabemos o que fazer: “….guarda os mandamentos” (Mt 19, 17b), mas tratamos as leis de Deus como uma mera opção e não uma exigência deste caminho. A capacidade para vivê-lo é um dom de Deus, não o alcançamos sozinhos, mas Ele o concede a todo aquele que pacientemente e decididamente o busca.“O Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (Santo Agostinho).

             Pois bem, aprendamos com aqueles que fizeram este percurso antes de nós e o concluíram magnificamente. Gostaria de chamar a atenção para um personagem das Sagradas Escrituras do antigo testamento – o Rei David! Aquele de quem o próprio Deus disse:“…homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades”(At 13,22b). Ele não pertencia ao grupo dos favoritos para se cumprir a vontade de Deus: os sacerdotes e os profetas; era apenas um leigo, como a maioria de nós. Nem era tido como “importante” para a mentalidade da época, pois era o último de sua casa, franzino, um tanto desajeitado, um simples pastor de ovelhas. Entre as suas atribuições, levava marmita para seus irmãos que compunham o exército do Rei Saul, uma posição muito mais aclamada do que a de pastor.

           Mas aquele que faz a vontade de Deus não sai decepcionado. Com o auxílio de Deus tornou-se um homem singular, guerreiro, vivaz, conhecedor sagaz da Fonte da Sabedoria. Não governava sem rezar e sem consultar os profetas sempre que necessário. Admirado e invejado por muitos. Grande pecador também (adúltero e assassino), como nós, comprovando que Deus não nos abandona, mas nos perdoa e nos dá sempre uma nova chance, por que  “….Deus não vê como os homens, que vêem a aparência. O Senhor vê o coração” (1 Sm 16, 7b). Por isso David foi escolhido para ser o Chefe de Israel! O maior Rei que Israel teve, depois de Jesus Cristo. Você pode conferir na íntegra sua belíssima história, repleta de abandonos nas mãos de Deus, em 1 Sm 16 – 2 Sm 24 e 1 Rs 1-2.

             Resumindo, se David, incapaz e grande pecador, conseguiu viver os planos de Deus para a sua vida, nós também conseguimos… ”porque Para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37)!

           Em certo episódio, Absalão conspirou contra o trono de seu pai David. O rei fugiu do seu palácio em Jerusalém, com toda a sua corte. Subiu a encosta das Oliveiras chorando, de cabeça coberta e pés descalços e orou… (2 Sm 15, 31b). Quando chegou a uma região chamada Baurim foi insultado por um homem da família de Saul, que lhe atirava pedras e o amaldiçoava, chamando-o de assassino, por todo o longo caminho. Um empregado de David pediu a autorização para matar o agressor, mas eis que disse ele: “Não! Deixa-o amaldiçoar-me, pois se o Senhor o mandou fazer isso, quem vai pedir-lhe contas? Vede, um filho meu, saído de minhas entranhas tenta matar-me e, no entanto achais estranho que este me faça isto? Talvez o Senhor olhe minha humilhação e me pague com bênçãos” (2 Sm 16,10-12). Quanta confiança David mostrou: …se o Senhor o mandou… “Se eu obtiver o favor do Senhor, Ele me deixará voltar e ver a arca e sua morada. Mas se Ele disser que não me quer, aqui estou, que Ele faça de mim o que lhe parecer bem” (2 Sm 15, 25b-26). O Rei tinha plenos poderes para fazer o que bem quisesse inclusive acabar com seus inimigos, no entanto, permitiu as ofensas e as agressões crendo que todas as coisas passam pela providência de Deus. Teve a humildade de esperar a manifestação de Deus quanto a ele continuar como Rei ou não.“O Senhor dá a morte e a vida…dá a pobreza e a riqueza, o Senhor humilha e eleva…” (1 Sm2, 6). Se compreendêssemos o mistério escondido em… “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom 8, 28), viveríamos menos inquietos e menos insatisfeitos.

               Quando nos revoltamos com acontecimentos que batem a nossa porta, quando revidamos as ofensas que recebemos, quando nos negamos a ajudar quem precisa e está a nosso alcance fazê-lo, na verdade estamos resistindo aos desígnios de Deus para nós, que com suas permissões conduz a nossa vida para onde temos que ir, em todos os momentos. O Vento sopra onde quer, você ouve o ruído, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito! (Jo 3, 8)

               “…o abandono é uma atitude natural que decorre do amor. De um lado porque se sabe amada, ela está certa de que nada a poderá ferir. De outro, justamente devido a esta convicção, vive, isto é, aceita qualquer situação em paz profunda…” (Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face – Poesias, pg 631). A santa escreveu isto na época em que sua fé estava sendo duramente provada.

                Shalom!

               Andréa Sperandio, Consagrada da Comunidade de Aliança

 


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