Natal, 10 de maio de 2020
Mainha,
A pouco tempo estou desbravando esse mundo maternal, descobri há 3 semanas que me tornei o lar/abrigo do seu/sua neto(a,) e ao mesmo tempo que veio uma explosão de felicidade, a notícia trouxe medos que nunca senti antes, medo da maternidade. Esse tempo que nos separa não nos permite partilhar com o olhar, com choros e sorrisos eloquentes, mas quero, por meio desta carta, mostrar meu amor sincero.
Mãe, eu tenho pensado muito em você nos últimos dias, em nós, em tudo o que está acontecendo. Quando eu era criança, passava tanto tempo querendo crescer que nem percebia o quanto era especial tudo que a gente vivia, tudo que a senhora fazia para que eu me sentisse a pessoa mais especial do mundo, ou pelo menos, do seu mundo.
A senhora perdeu sua mãe quando tinha 10 anos e precisou perder a infância para cuidar dos seus irmãos, foi para Brasília, lugar que você ama e um dia ainda iremos lá, acredite, para cuidar dos filhos do seu patrão, voltou para Pureza/RN para cuidar novamente dos irmãos. Quando nasci, a senhora passou a viver para mim, trabalhava de madrugada como garçonete para me sustentar.
Mãe, não consigo imaginar tudo o que a senhora passou para me sustentar, para me dar o melhor e muitas vezes, sozinha. Deus nunca nos deixou faltar nada, não é mesmo? Meus looks sempre vinham das minhas primas, meus livros eram de segunda mão, meus tênis usados até surrar, hoje isso me orgulha muito e me faz confiar na providência de Deus.
Nosso relacionamento foi, por muito tempo, difícil. Não entendia o porquê do nosso relacionamento não ser como o das minhas amigas da escola, mas hoje sei que sua história de vida não foi fácil e por isso, o quão desafiante se tornou para a senhora dar um abraço, dizer que ama e essas coisas fofinhas.
Mulher do interior, guerreira, batalhadora, da roça, que passou fome e que não tinha muitas escolhas para sobreviver. Eu até que herdei um pouco dessa dificuldade, mas, por sabedoria de Deus, a senhora foi o canal da transformação na nossa casa, me levou para o Shalom forçadamente (rsrs) e lá aprendi a ser carinhosa, tem muito do seu genro nisso também.
Em alguns momentos fico te observando, refletindo suas atitudes. Mãe, não existe pessoa com o coração mais generoso que a senhora, um coração puro, que nunca se nega a ajudar absolutamente ninguém, nem os animais. É a primeira da família a oferecer seus dons, seus ouvidos e mesmo sem ter muitas palavras bonitas, você é o porto seguro da família. Mãe, você não julga as pessoas, não olha a classe social, nem cor, nada. Um coração tão inocente assim, uma pureza e uma leveza, essas são algumas virtudes que quero trazer para meu filho(a).
Quando descobri o baby, me senti realizada e completa, mas depois passei a pensar nas dores do parto, na dor da amamentação, na parte financeira, medo de não conseguir educar, de não conseguir levá-lo para Deus, de não passar amor suficiente. Mas aí mãe, lembrei da senhora, de tudo que a senhora já passou sozinha, e deu certo, porque sei que a senhora deu o seu melhor, inocentemente, sem a literatura, sem conhecimentos, você deu o seu melhor, e isso é o amor transformado em atos. Buscarei, assim como a senhora, dar o meu melhor sorriso, o meu melhor abraço, o meu melhor em tudo.
Foi aí mãe, no teu colo, que o amor nasceu. Foi no teu abraço que descobri que tudo passa, até mesmo esse tempo que hoje nos separa. Mãe é nosso melhor abrigo. Onde a vida brota eternamente a cada instante. Refúgio das melhores lembranças. Obrigada por me apresentar esse amor incondicional que só a senhora poderia ter me dado, te amo!
Com muito amor, sua filha
Louyse Oliveira
Consagrada da Comunidade de Aliança em Natal