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Uma experiência de esperança e fé no meio da Pandemia

Em meio a dor, fui alcançado pelo amor de Jesus, que tornou meu coração mais amável e sensível com a dor do outro. 

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Era dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, dia em que a primeira pessoa no mundo era vacinada, dia que renovava a minha Consagração à Nossa Senhora. Era o fim da missa, ajoelhei-me, com o coração cheio de alegria, li a carta de consagração… Eis que ao final, já saindo da igreja, o celular toca. Era minha mãe, aflita porque meu pai estava com a saturação baixa, tossindo muito. Antes, já havia a desconfiança que poderia ser COVID-19, o nariz com secreção, um certo desconforto, mas não parecia nada grave.
 
Já na madrugada do dia 8 para o dia 9, a aflição da minha mãe continuava, meu pai não estava bem, pelo contrário, piorava. Decidimos que eles deveriam ir à emergência, uma vez que meu pai não havia melhorado. No hospital, o médico avaliou a situação, e disse: “fique tranquilo, não é nada grave”, porém o imenso desconforto do meu pai permanecia. Diante da insistência dos meus pais, o médico então sugeriu que poderia ser nervosismo, mas eles, com o sentimento que havia algo errado, permaneceram.
 
Transcorria a madrugada na emergência do hospital, e o médico pedia algum exames adicionais. Por providência, enquanto os exames eram realizados, a saturação do meu pai baixou a ponto do médico se ver obrigado a interná-lo. 

A intercessão dos nossos Santos Amigos

Já durante o dia, com a notícia da internação e com a possibilidade de visitá-lo, pois ainda estava na emergência, fui apressadamente ao hospital. Chegando lá, meu pai interagia bem, estava apenas recebendo oxigênio via nasal. Pensei: “vai ficar tudo bem, foi só um susto”. Porém, no fundo, sentia que era algo mais grave, por isso, desde aquele momento, pedi a intercessão dos meus irmãos de célula, que muito gentilmente se uniram a mim em oração pela recuperação do meu pai. Também iniciei uma novena a São José e a Nossa Senhora das Graças, por sua recuperação, na certeza que ficaria tudo bem. Também trouxe uma medalha milagrosa e pedi para que ele usasse.
 
Enfim, tentei cercar-me do céu!
 
Infelizmente, aquele sentimento interior concretizou-se: ele precisou ser, de fato, internado na Ala de COVID-19. Meu pai é Diácono, e a quantidade de pessoas da sua paróquia, dos que ele ajudava de maneira silenciosa, de familiares que nos procuravam comovidos com a situação, alguns até em prantos, era enorme.
 
No Shalom, meu pai estava presente nos eventos, alguns cursos do Centro de Formação e sempre disposto a ajudar os irmãos da Comunidade de Vida. Nunca foi muito de falar, porém, descobri, na situação de doença dele, o quanto era amado em meio aos meus irmãos de Comunidade. O seu “ser presente” era que fazia toda a diferença.
 
Diante de tais descobertas, pensei: “Deus levará meu pai!”. Uma profunda sensação de perda invadiu meu coração. Por outro lado, lembrava da parábola da viúva que batia a porta do Juiz e que, por insistência, este a foi favorável.
 
O Natal aproximava-se e, com ele, a piora do meu pai, que precisou ser transferido para UTI e também ser intubado. O número dos que intercediam aumentava. Na minha célula comunitária e da minha mãe, resolveu-se fazer uma campanha de 3 dias de intercessão ininterrupta. Cada qual de sua casa, de hora em hora revezava-se diante do Santíssimo, na capela virtual, na intenção da recuperação do  meu pai.
 
Da minha parte, recorri novamente aos amigos do Céu e daqueles que não me eram tão próximos. Dois deles merecem destaque: Beata Elisabetta Sana e Irmão André Bessette. A Beata era “amiga” do meu pai. Ele costumava ir à missa, perto da sua casa, durante a semana, e lá, dentro do altar, havia uma relíquia desta Beata. Ele gostava de contar as histórias dela, e fazia sempre muito empolgado. Pois bem, decidi por fazer a novena dela, e sempre dizia, quando ia rezar a novena: “Elisabetta, eu não te conheço muito, mas meu pai é muito seu amigo. Por favor, intercede ao Pai pela sua recuperação”. No final da novena, e depois de ler um pouco mais a história dela, também fiquei amigo da Beata.
 
O Irmão André Bessette merece um capítulo a parte. Quando meu pai piorou o quadro de saúde, uma irmã de comunidade se prontificou a entrar em contato com um médico amigo dela, pneumologista, que trabalha no local que meu pai se encontrava, a CASA DE SAÚDE SÃO JOSÉ. Era um médico de renome e muito católico, porém estava com a sua agenda lotada. Depois de muita insistência, ele resolveu acompanhar meu pai! Que providência! Essa mesma irmã, tinha de posse dela o óleo de São José, que vinha de uma lamparina que era acesa em honra ao Pai terreno de Jesus, em um Santuário dedicado ao Santo no Canadá. O óleo fora utilizado por Santo André Bessette em diversas ocasiões, o qual tinha grande fama (o Santo e o óleo), por diversos milagres. Até por isso, na cidade de Toronto há o maior santuário do mundo construído em honra a São José.
 
De posse do óleo, encaminhei-me ao Hospital. A logística já estava montada. Deixaria o óleo na portaria, e o médico ungiria meu pai. E assim o fez! Santa ajuda!
 
Na comunidade, temos o costume, no início de cada ano, “tirar” o Santo do Ano, em uma espécie de Cesta, no qual há o nome de diversos Santos. Diz a tradição, que , na verdade, o Santo nos escolhe. Pois bem, Santo André Bessette, o santo do óleo de São José, escolheu-me. Dentre tantos papeizinhos, o dele foi o que saiu! Ali eu tive a certeza que meu pai seria curado! 

A ajuda dos Sacramentos 

Não há como negar a grande ajuda dos Sacramentos neste processo. Meu pai, já na Ala de COVID, recebeu a absolvição dos pecados, a unção dos enfermos e a Eucaristia, fruto da bravura do querido Padre Roberto, que não se poupou e se arriscou para a salvação das Almas.
 
Tantos amigos do céu também nos socorreram. Santa Jacinta, a pastorinha, que faleceu em decorrência de uma doença epidêmica que atacou seus pulmões. Minha esposa, que recorreu a tantas novenas, suplicando a intercessão dos santos. Dentre eles São José e Santa Rita.
 
Passamos o Natal distante de meu pai, tristes com toda a situação! Minha mãe passou a noite de Natal acordada e eu a fiz companhia. Ali compreendi que o mistério do natal e da Cruz, não são senão um só. Entendi também que o Menino Jesus era a minha mãe naquela noite, que se encontrava na pobreza de uma profunda manjedoura existencial.
 
Os dias passavam, um ano novo começava com meu pai ainda na UTI. As perspectivas de melhora custavam a chegar, foi necessária a colocação de dois drenos no pulmão amplamente comprometido, pelo surgimento de uma fístula. Todos os dias conversávamos com o médico que nos falava que a infecção não cedia, que os antibióticos não surtiam efeito, e nós rezávamos, pedindo ao céu um socorro.

A esperança não decepciona

Mas Deus mudou  a sorte dele. A esperança, que não decepciona, novamente nos visitara: a transferência da UTI para o quarto. Depois de quase dois meses, finalmente podíamos vê-lo! Que alegria!
 
Por outro lado, o médico nos deu a notícia do alto comprometimento do pulmão, e de complicações que se não se resolvessem em um período de tempo, precisaria de intervenção cirúrgica. Algo extremamente arriscado para o quadro dele.
 
Em um final de semana de Janeiro, fiquei como acompanhante do meu pai, ainda internado. Neste tempo, o cirurgião veio nos visitar e me chamou à parte. Explicou que meu pai teria que fazer uma cirurgia que envolvia muito risco, que eles haviam tentado de outras formas resolver o problema do pulmão, porém sem sucesso.
 
O mais alarmante era saber do médico que todos que haviam feito a cirurgia, em caso semelhante ao dele, por complicações do COVID, haviam falecido dias após a cirurgia. Disse ainda que não fazer também complicaria o quadro dele. Fiquei muito assustado! Liguei para minha mãe, expliquei a situação para o meu pai e rezei, como nunca, fui tomado por uma profunda fé, algo que era graça, não vinha de mim. Clamei a Jesus Misericordioso uma intervenção. No quarto, havia uma bíblia, do próprio hospital, que era católico. Pedi a Deus uma palavra, eis a resposta de Deus, na palavra: ” Isso não acontecerá”.
 
Alguns minutos depois, o cirurgião retornou. Examinou meu pai, mexeu em alguns aparelhos, analisou alguns exames do pulmão. Coçou a cabeça, reexaminou tudo. Novamente me chamou e disse: “Olha, não sei o que aconteceu, mas examinando o seu pai, parece que o Pulmão do seu pai não está mais contraído.  O motivo, não sei dizer, mas tudo indica que ele não vai precisar operar”. O MILAGRE ACONTECEU! O pneumologista que acompanhava meu pai, católico praticante, após receber o diagnóstico do Cirurgião, não acreditava. Desde então, os dias passavam e meu pai recuperava-se de maneira vertiginosa. O pneumologista, cada vez que falava conosco dizia: “Não sei o que dizer, para mim é um milagre, não há explicação médica. Fico arrepiado toda vez que falo isso. Os meus amigos médicos estão dizendo que fui eu quem não estou sabendo explicar, mas não é. Estamos diante de um milagre!”
 
Os sinais do céu continuaram. Dentre os inúmeros procedimentos, meu pai necessitou fazer uma traqueostomia, uma espécie de acesso realizado na garganta, que, no caso dele, pudesse ser ministrado o oxigênio por essa via. Um dos sinais da sua recuperação seria a não mais necessidade de utilização de tal meio para manter a saturação em níveis satisfatórios. Pois bem, no dia de São Brás, padroeiro da garganta, foi feita extração desses tubos o acesso pela traqueia não mais utilizado.

Deus venceu!

No dia 6 de fevereiro, a grande alegria, meu pai recebeu alta. Deus venceu! Dia de profunda alegria e gratidão a Deus por seus feitos.
 
É notória a terrível marca que esta pandemia tem deixado. Muitos fizeram sua páscoa, mas quando se tem um ente querido em situação tão grave como ocorreu com o meu pai, os números transformam-se em pessoas e  famílias. Por isso, vejo, em meio a dor e sofrimento, a profunda misericórdia do Pai em sensibilizar os corações à perfeita caridade. Em meio a dor, fui alcançado pelo amor de Jesus, que tornou meu coração mais amável e sensível com a dor do outro. 
 
Respondendo ao Papa, que nos perguntou no início da pandemia, se sairíamos pessoas melhores dela, posso responder: Sua Santidade, diante do que passei, pude tocar na bondade de Deus que é conosco todos os dias de nossa vida e certamente, sairei melhor do que entrei.
 
Não posso esquecer a presença doce e terna da Virgem Maria, Senhora Aparecida,  Senhora das Graças, de Fátima, de tantos nomes, minha querida mãe que intercedeu e cuidou do meu pai, de mim, de todos nós.
 
Obrigada, meu amigos do céu!
 
 
 
Shalom!
 
Paulo Cezar Tonacio Junior
Consagrado da Comunidade de Aliança, na Missão do Rio de Janeiro
 

Comentários

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  1. Eu creio na comunhão dos santos! Atesto a fé e a intercessão de muitos amigos do céu na cura deste nosso amigo! Jesus, eu confio em Vós!

  2. Atestamos, nós da Comunidade N.S.Assuncao-Sulacap/RJ, a Graça obtida pelo Diácono Paulo. Preces de todos e intercessão nos devolveram o irmão,que retornando completará nosso corpo de Comunidade Cristã em Crescimento.

  3. Meu filho soube relatar tudo o q vivemos com a doença do meu marido. Conheci o Shalom, através do meu filho e seu testemunho na vida. Sou postulante de segundo ano e nesse tempo, em meio as dores, a Comunidade foi meu conforto, minha família e meu sustento na fé. Não sei como passaria por tudo o q passei sen o meu povo, minha célula e meus formadores! Sou muito grata aos meus irmãos e irmãs q não cessaram um dia na intercessão por nós! Deus os abençoe!

  4. Santo Irmão André é um santo com uma devoção simples e humilde à São José , construiu uma basilica para seu amigo SÃO José no Canadá.
    Tem um lindo livro falando sobre essa história, *O colecionador de muletas*, Paulo é um servo amado de Deus um anjo e imensamente simples, lembra muito Santo Irmão André.
    Nesse ano de São José, uma grande graça.
    Paulo , voce é um homem de Deus é sua vida um livro de graças divinas.
    Valei-nos São José.

    1. Meu filho soube relatar tudo o q vivemos com a doença do meu marido. Conheci o Shalom, através do meu filho e seu testemunho na vida. Sou postulante de segundo ano e nesse tempo, em meio as dores, a Comunidade foi meu conforto, minha família e meu sustento na fé. Não sei como passaria por tudo o q passei sen o meu povo, minha célula e meus formadores! Sou muito grata aos meus irmãos e irmãs q não cessaram um dia na intercessão por nós! Deus os abençoe!