Naquele dia, meu Filho Jesus saiu com seus discípulos e foi para o outro lado da torrente do Cedrón. Havia naquele lugar um jardim muito bonito, onde eles se instalaram. Para seus apóstolos, parecia um dia como outro qualquer, mas algo dentro do meu coração materno dizia que mais uma etapa da missão do fruto de minhas entranhas se iniciaria.
Judas, por uma razão, que ainda desconhecíamos, não estava com eles naquele momento. Ele conhecia bem aquele lugar, até porque, não era a primeira vez que meu Filho se reunia ali com os seus apóstolos. De repente, o motivo de sua ausência foi revelado: ele apareceu onde eles estavam e não veio só, junto com ele, estavam um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus. Em suas mãos, lanternas, tochas e armas poderosas, como se estivessem a procura de um poderoso exército de criminosos. Então Jesus, consciente de tudo o que ia acontecer, saiu ao encontro deles e perguntou: “A quem procurais?” (Jo 18,1-4). Eles responderam: “A Jesus, o Nazareno”.
Meu filho, porém, deu uma resposta que deixaria meu coração de mãe, embora não surpreso, cheio calafrios. Ele disse: “Sou eu” (Jo 18,8). Eles, insatisfeitos ou desconfiados, insistiram: “Quem de vocês é Jesus?” Meu filho Shalom insistiu na sua decidida resposta: “Já vos disse que sou eu. Se é a mim que procurais, então deixai que estes se retirem”. O Filho de Deus não queria entregar à morte nenhum de seus discípulos. Na verdade, Ele queria que eles livremente se entregassem por amor (cf. Jo 18,9).
O impetuoso e apaixonado Pedro teve um ato impulsivo. Trazia uma espada na cintura, puxou-a e com ela feriu um dos servos do sumo sacerdote. O golpe foi tão certeiro que cortou a sua orelha direita (cf. Jo 18, 11). Então Jesus, o Shalom do Pai, disse a Pedro: “Guarda a tua espada na bainha Pedro. Não irei eu beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18,11).
Então, meu filho foi levado por eles e se deu início ali a uma avalanche de interrogatórios e torturas. Conduziram-no primeiro a Anás, que era o sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. Ali, começaram a intuir que o ideal na circunstância era que um só homem morresse no lugar de todos, ou seja o meu Filho Shalom era o alvo (cf. Jo 18,14). A solidão Dele foi imensa. Até Pedro, que havia dito três vezes que o amava, teve medo, amarelou e fugiu após tê-lo negado, diante do primeiro interrogatório que sofreu (cf. Jo 18,17).
Interrogatório de ódio
Ao ser interrogado, meu Jesus se mostrava, como sempre, cheio de sabedoria, coragem, calmo e sereno nas suas respostas. Ele dizia que havia falado às claras para todos dispostos a ouvi-lo. Que havia ensinado na sinagoga, no Templo, onde todos os judeus se reuniam. Nada havia falado às escondidas e que por isso não entendia o motivo do interrogatório (cf Jo 18,20-21). Seu senso de verdade era tão decidido, que desafiava os que o questionavam: “Perguntem aos que me ouviram; eles sabem o que eu disse” (cf. Jo 18,21).
As reações, porém, eram sempre de mais agressão, tanto que, ao ouvir uma de suas respostas, um dos guardas que ali estava deu-lhe uma bofetada, dizendo: “É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?” (cf Jo 18,22) Às vezes, uma pergunta bem feita vale muito mais do que uma dúzia de respostas. Meu Shalom fez-lhe uma simples e oportuna pergunta: “Se respondi mal, me mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?” (cf. Jo 18,23).
Meu filho parece ter sido abandonado por seus discípulos, mesmo os mais próximos. Pedro foi um deles, tanto que ali, diante do primeiro interrogatório, o negou e o negaria ainda mais duas vezes antes mesmo que o galo cantasse.
O reino do meu Shalom
O interrogatório injusto continuou, entre um bofetão e outro, entre uma cusparada e outra, perguntas eram feitas e meu Filho respondia e ia, assim, apresentando facetas cada vez mais claras e reluzentes de seu Reino. “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37).
Pilatos, apesar de todas as acusações, não encontrava culpa no meu Filho. Tanto, que tentava convencer nosso povo a soltá-lo, usando como argumento o costume de liberar um criminoso, por ocasião da páscoa judaica (Cf. Jo 18,39). O nome de Jesus foi sugerido junto com um grande criminoso, Barrabás para ser solto. Nosso povo, porém, não satisfeito com a proposta de Pilatos, começaram a gritar ainda mais forte: “Não, não e não, preferimos que condene Jesus e que solte o criminoso Barrabás!” (cf. Jo 18,40).
Então, Pilatos mandou flagelar ainda mais meu Filho. Os soldados teceram uma coroa de espinhos e colocaram-na sob a cabeça dele; para aumentar ainda mais o deboche, colocaram sob seu corpo um manto cor de purpura, e com risadas, diziam entre um soco e outro: “Salve Rei dos judeus!” (cf. Jo 19,1-3).
Crucifica-o, crucifica-o!!!
Após a avalanche de torturas e sangue, Pilatos, como que sentindo algum pesar e pena de meu amado filho, ou talvez com esperança de que os judeus estivessem satisfeitos, disse: “Eu o entrego a vocês porque, pessoalmente, não encontro nele nenhum crime”. Então, trouxeram Jesus com um manto ensanguentado nas costas e uma coroa de espinho na cabeça (cf. Jo19,4-5). Os líderes dos judeus, ao contemplarem o rosto do meu Filho Shalom, cheios de um ódio que é até difícil de ser descrito, gritaram ainda mais forte do que antes: “Nós temos uma lei e segundo essa lei, ele deve morrer. Crucifica-o, Crucifica-o!” (Jo 19,6).
Pilatos, sentindo-se um pouco tenso, fez ainda uma última tentativa de diálogo com meu Filho Shalom: “De onde és? Não sabes que tenho poder de te condenar ou de te deixar livre?” (cf. Jo 19,10) Meu Filho deu outra resposta, ainda mais desconcertante: “Não terias poder nenhum sobre mim, se não tivesse sido dado do céu. Aqueles, porém, que me entregaram a ti, tem culpa maior” (Jo 19,11). Pilatos queria soltá-lo, mas o povo insistia que, se isso fosse feito, Ele não seria amigo do Imperador César (Cf. Jo19,12). Era impressionante como, mesmo um pagão, conseguia ali, ser mais justo e sensível ao sofrimento de Jesus, do que a multidão do povo eleito que gritava, cheio ódio (cf. Jo 19,12).
Meu Filho, então, abraçando a sentença efetuada pelo povo, sai do tribunal com sua cruz, em meio a gritos e torturas. Em seguida, é levado para um lugar chamado Gólgota, que significa “caveira” no idioma do nosso povo, e ali é crucificado (cf. Jo 19,19).
Morreu sedento pelos corações dos homens
Ainda no clima de ódio, dor, desprezo e torturas, meu Filho realizou mais um gesto profético. Ele, do alto do madeiro, gritou: “Tenho sede!” (Jo 19,28). Havia ali uma vasilha cheia de um líquido, meio azedo e meio amargo. Mergulharam nele uma espoja, colocaram numa vara e levaram-na até a sua boca. Ele tomou-o e declarou: “Enfim, tudo está consumado!” Ali mesmo, Ele inclinou sua cabeça e consumou sua oferta amorosa. (cf. Jo 19,30). Nenhuma mãe, repito, nenhuma mãe, deveria presenciar uma cena como essa.
Naturalmente falando, o normal é que os pais morram antes de seus filhos. Eu sentia uma dor terrível. Só permaneci de pé porque as palavras do anjo ditas a mim, há mais de trinta anos, eram de fato verdade: “Eu havia encontrado graças diante de Deus” (cf. Lc 1,26).
Era o dia da preparação para a Páscoa do nosso povo judeu. Eles queriam evitar que o corpo de meu Filho Shalom e de outros condenados ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era um dia de festa solene. Então, pediram a Pilatos que mandasse quebrar-lhes as pernas e os tirassem da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. Porém, ao aproximarem-se dele, viram que ele já estava morto, então, não lhe quebraram as pernas; mas um dos soldados, talvez por segurança ou apenas por deboche, abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Ele viu e dá testemunho. Tudo isso, para se cumprir as escrituras: “Eles olharão para aquele que transpassaram” (cf. Jo 19,31).
O sepulcro, cofre da maldade dos homens e do amor incansável de Deus
Um sepulcro é um lugar de descanso para uns, de fim e de falta de esperança para outros, depende da fé e do horizonte de sentido de cada povo. Naquele contexto, o sepulcro era um cofre feito pela maldade dos homens, todavia, tornou-se também o lugar onde se escondia um tesouro que eles desconheciam, meu Filho Jesus, o Shalom do Pai. Ele, o Senhor supremo do mundo.
Termino minha partilha com uma prece, desejando a você, que lê esse texto, um mergulho profundo e sincero nesse mistério: “Jesus, com fé e amor eu Te suplico, conceda a essa pessoa que lê essas palavras, a graça de mergulhar no mistério de tua oferta amorosa. Que o resultado desse mergulho seja um louvor agradecido e uma busca sincera por uma vida santa. Amém!
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Linda reflexão. Sim, faça-se a vontade do Senhor em nossas vidas. Shalommmm